Deus é quem move a Lava Jato
Júlio Nasser
Publicado em 10 de abril de 2017 às 22:28 | Atualizado há 8 anosNão é nenhum tributo à “ordem jurídica” que move o procurador Dallagnol ou o juiz Moro, pois a ordem jurídico-administrativa não tem qualquer valor no Brasil, onde a politicagem está acima de qualquer pretensa “exatidão da ciência jurídica”. Moro mesmo foi convidado a se tornar desembargador, uma tentativa de calá-lo com cargos mais altos, de maior poder, de mais benesses. O amor que ele tem à ordem vem da retidão moral da mãe, a católica fervorosa Odete, e da retidão do pai, o falecido professor Dalton. Esse gosto pela “ordem divina” consubstancia-se em sua ligação às coisas de Deus, é maçom, frequenta atividade religiosa (algumas denominações disputam o famoso fiel, a mãe diz que ele também é católico fervoroso, outras pessoas dizem que ele frequenta, com a esposa, uma comunidade evangélica). Dallagnol é fervoroso fiel de Igreja Batista em Curitiba, dá palestras no Brasil todo em tempos evangélicos. Disse que, se pudesse, um dia seria pastor.
É a ligação à esta “ordem divina” que os impedem de bandear-se para o lado da “ordem jurídico-política” do Brasil, que costuma cooptar seus gestores com cargos, salários, poderes, ou então ameaças, isolacionismo, ostracismo. Os jovens efetores do Direito da Lava Jato fugiram destas “ameaças estatais” à ordem jurídica com um simples instrumento: internet. Se não fosse pela internet, a mídia os abafaria, os tribunais superiores os abafaria, seus superiores os abafariam, a polícia os abafaria, as ameaças de paralisação da carreira os abafaria, a indiferença invejosa e mortífera de juízes/procuradores superiores os abafaria, a proximidade promíscua e tendenciosidade politiqueira de instâncias judiciais superiores os abafaria. Vide o que aconteceu com a Operação Satiagraha, ou Operação Banestado, antes da Lava Jato, completamente anuladas por esses fatores que eu mostrei acima.
Portanto, ninguém, a não ser um “doente obsessivo”, acredita numa pretensa “ordem jurídica” materialista; todos sabem que o sistema político-jurídico brasileiro é balizado pela balela e interesses. O próprio Gilmar Mendes, no TSE, diz agora que o julgamento da chapa Dilma-Temer não é técnico, é político. Praticamente todos os são, nós sabemos, e isso só para dar um exemplo.
A tenacidade “empresarial” (ele age como um advogado pago) de Dallagnol em perseguir os crimes milionários, ou a de Moro em puni-los, não vem do gosto pela ordenação jurídica pública, ou por eventual estímulo advindo dessa. Pelo contrário, toda ordem pública conspira para anular o ânimo dos gestores do sistema; é por isso que os “advogados muito bem pagos” pelos milionários, ou pelos políticos, sempre ganham: é a disputa de um “funcionário público mal motivado” contra um “executivo judicial altamente motivado, por ser regiamente remunerado”. No sistema público não há, comumente (sempre há honrosas exceções), a motivação e a eficiência “executiva”, “empresarial”, que se assiste com Dallagnol e Moro. Não almejam dinheiro, poder, “subir na carreira”, cargos políticos ou jurídicos. Pelo contrário, se fossem motivados por esse tipo de isca estariam fazendo o contrário do que fazem, estariam engavetando tudo, pois só “sobem” no Brasil aqueles que agradam o poder político e econômico. São motivados é pelo “amor à ordem”, a ordem que aprenderam com os pais, a ordem que advêm de Deus, do Universo.
Portanto, o que os move é o amor por outro tipo de ordem: a ordenação divina, consubstanciada pelo amor à retidão dos pais, amor à submissão dos pais à “ordem de Deus”.
A verdadeira ordem só pode prover de Deus, ou das “Leis Ordenadas do Universo”, como queiram, assim como dizia o filósofo Espinosa ou o físico Einstein.
A esquerda elegeu Dallagnol e Moro como os maiores vilões porque, para ela, é importante destruir a “ordem da família”, destruir a “ordem de Deus”, para, em seu lugar, instalar uma pretensa “ordem materialista do Estado” (como se isso existisse). O PT mostrou bem do que se trata esta “ordem do Estado”, esta pretensa ordem colegiada, socializada, ordem não hierarquizada, ordem-sem-uma-autoridade, ordem onde não há um poder central, ordem onde o que há, pretensamente, é o consenso coletivo. Vimos no que deu : uns ladrões é que, engambelando os iletrados, tomaram a direção do tal “consenso coletivo”.