Pelo direito da crença
Diário da Manhã
Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 01:43 | Atualizado há 1 semanaNesta sexta e sábado acontece em Goiânia o I Seminário do Fórum de Religiões de Matriz Africana do Estado de Goiás. A idéia do evento é reunir o povo de axé, a comunidade em geral e as lideranças de religiões de matriz africana para compartilhar um momento de formação, diálogo e troca de saberes sobre os direitos, superação do racismo e da intolerância religiosa. O tema do seminário é: Direitos dos povos de terreiro.
O evento conta com a presença da Yalorixá Jaciara Ribeiro de Oxum do Axé Abassá de Ogum (Salvador–BA), ícone da luta contra a intolerância religiosa. Ela e outras lideranças virão para somar com as reflexões sobre promoção da liberdade religiosa, estado laico e respeito às religiões de matriz africana.
No seminário a presença de um advogado e de um contador oferecem informações a respeito dos direitos dos povos de terreiro como: à sacralização de animais, estado laico, posse do terreno sagrado, entre outros.
Haverá também uma homenagem às Agbàs, anciãs, de Goiás, atividades culturais e construção de um manifesto em defesa do povo de axé. As inscrições para o evento serão realizadas no local e a participação é totalmente gratuita.
Intolerância que não foi enterrada pela história
E a perseverança, por vezes ganha do sórdido fingimento, de que só de cultura branca, cristã e europeia foi construído nosso país. Toda a cultura negra que perdeu parte de sua invisibilidade após a abolição da escravatura, foi prontamente criminalizada: o samba, a capoeira, a prática religiosa, tudo era estigmatizado.
O candomblé e a umbanda, as religiões de matriz africana mais conhecidas, se consolidaram na sociedade brasileira nos últimos 200 anos, principalmente no início do século XX, quando o público pôde ter conhecimento das práticas a partir, por exemplo, das pesquisas de Pierre Verger, etnólogo francês, que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da diáspora africana e ao comércio de escravos.
Mas para que cordas e correntes se arrebentem antes de conseguir amarrar a liberdade inclusive religiosa, existem leis que tornam ato criminoso, práticas de intolerância religiosa. Como descreve o texto constitucional “O parágrafo VI do artigo 5º da Constituição brasileira diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. A Lei Caó (Lei 7.716/89) considera crime a intolerância religiosa”.
Facas e lanças se quebram, diante das pessoas que sofrem preconceito religioso, mas denunciam. De acordo com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, foram registradas 39 queixas, de intolerância religiosa pelo Disque 100, ouvidoria dos Direitos Humanos. Esse número é de 2013, o que deu ao estado do Rio o título de maior detentor das denúncias em todo o Brasil, mas o registro ainda é muito precário.
Afoxé Asé Omo Odé
o grupo Afoxé Omo Odé, cortejo de rua vinculado ao candomblé Afoxé Omo Odé é presença confirmada no I Seminário do Fórum de Religiões de Matriz Africana do Estado de Goiás. A programação cultural do evento conta com Muzenza Beat no dia 13/01 (sexta-feira) e Afoxé no dia 14/01 (sábado). O Afoxé Asé Omo Odé é um cortejo de rua iniciado em 1990, idealizado pelo pai-de-santo João de Abuque, pioneiro do Candomblé em Goiânia.
O Afoxé é um cortejo de rua vinculado a uma casa de Candomblé, religião de matriz africana recriada no Brasil. O primeiro grupo a apresentar publicamente os cortejos do Afoxé no país, tem seu registro datado há mais de um século, na cidade de Salvador-BA. Já no século XX, o Afoxé começa a participar definitivamente do carnaval baiano, trazendo em suas apresentações, elementos relativos aos orixás. A partir daí, outras cidades como Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro, dentre outras, também incorporaram afoxés em suas atividades culturais.
Na cidade de Goiânia essa modalidade cultural aparece recentemente. O Candomblé em Goiás tem sua fundação na década de 1970. Por conseguinte, o Afoxé passa a se mostrar no espaço urbano da capital somente no inicio da década de 1990, idealizado pelo pai-de-santo João de Abuque, pioneiro do Candomblé em Goiânia, juntamente com outras lideranças da cultura afro-brasileira na cidade.
Afoxé de Goiânia é regido pelo orixá Oxossi, protetor dos caçadores, das matas e, portanto, do ambiente. Todos os que participam do grupo, independente de fazer ou não parte do Candomblé, recebem a proteção desta e de outras divindades africanas.
Data e horário:
13/01 – 18 às 22h (18 às 19h – Credenciamento)
14/01 – 8 às 18h
Local: Auditório da SEMAS – Rua 25A esquina com av. República do Líbano, Setor Aeroporto – Goiânia.
]]>