Funcionários indignados
Diário da Manhã
Publicado em 10 de janeiro de 2017 às 00:46 | Atualizado há 8 anosOs servidores da Saúde do Estado de Goiás que participaram da greve da categoria realizada entre setembro e novembro de 2016 e que durou 65 dias tiveram seus pontos de trabalho do mês de dezembro cortados pelo governo do Estado. Ao todo, 1.300 servidores ficaram com descontos nos salários e alguns chegaram a receber R$ 1,51 como salário ou até mesmo tiveram os contracheques zerados. Em acordo celebrado entre os grevistas e a Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan) e a Secretaria de Estado da Saúde (SES) para o fim da greve, por meio de ofício intersecretarial, ficou estabelecido que não haveria descontos nos salários dos servidores.
Para auxiliar na situação dos servidores, o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde do Estado de Goiás (Sindsaúde) promove a campanha “Saúde Solidária”, para arrecadação de dinheiro e alimentos para serem doados aos servidores prejudicados com os descontos salariais. “Por causa da greve na saúde, o governo de Goiás cortou o salário daqueles que ousaram lutar pelos seus direitos e por uma saúde melhor”, são os dizeres do folder informativo da campanha que ainda tem a conta para o depósito das doações.
Em nota, entidades sindicais como Sindsaúde, SoeGO, Sintasb, Sinfar, Sieg e CUT, repudiam o governo de Goiás pela atitude. “Repudiamos esse ato autoritário, truculento e ilegal que nunca aconteceu em Goiás, penalizando mulheres e homens que dão a sua vida para cuidar da saúde do povo goiano. Não tiveram um natal digno e iniciarão o ano novo com muita tristeza, pois foi covardemente retirado o seu sustento e de sua família”, destaca a nota.
As entidades ainda ressaltam que a luta continua, apesar das dificuldades impostas. “A luta por dignidade continua, mesmo diante de tanta tirania e injustiça seguiremos nossa caminhada por saúde para todos e dignidade para o servidor, exigindo os nossos direitos nas ruas e nos tribunais, pois confiamos que o Poder Popular e a Justiça prevalecerão sob os desmandos em Goiás”, reforçam.
Drama
Em visita à redação do Diário da Manhã, alguns servidores lamentaram o ocorrido e pedem clemência ao governo do Estado para que os cortes dos pontos sejam revistos e os salários pagos integralmente. A auxiliar de enfermagem do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Maura Inês dos Santos, explica que a greve foi uma forma de luta dos servidores para garantir direitos, nada mais que isso, e faz o seguinte apelo: “Estamos fazendo um apelo ao senhor governador que olhe para a gente como famílias e que reveja que estávamos na rua reivindicando um direito nosso. Assim como ele lutou para ser governador, é um direito nosso estarmos lutando por melhores condições de vida. Pedimos para que ele olhe com clemência. Somos dignos, trabalhadores honestos e nada mais estávamos fazendo que lutar pelos nossos direitos”, explica.
A técnica de enfermagem da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), Angela da Costa Correa, contabilizou suas contas do mês que precisam ser pagas, como água, luz, telefone, somam o total de R$ 2.311,00, no entanto, recebeu apenas R$ 41,89. “Com esse dinheiro não tem como nem ir trabalhar, estou pedindo para os colegas ajudarem para não poder ficar com falta. No próximo pagamento, pelo jeito, vamos receber isso de novo e as contas do mês continuam chegando”, lamenta. Angela conta que está fazendo uma rifa e também iniciou a campanha “Saúde Solidária” na unidade de saúde em que trabalha. “Fiz uma rifa, R$ 2,00, ganha cinco panos de pratos. Então, estou fazendo rifa, pedindo ajuda para minhas colegas de trabalho, eu não tinha dinheiro nem para comprar a comida do mês”, relata.
Angela ainda ressalta que sua filha mais velha, de 16 anos, fez uma cirurgia e precisará utilizar o plano de saúde para as consultas médicas, mas o valor do plano não foi descontado da folha de pagamento, somente as faltas durante o período de greve. “O governo não pagou meu Ipasgo, que eu preciso usar, porque no dia 19 tenho consulta da minha filha, ela está de muletas e iniciou a fisioterapia. Como que com R$41,89 eu levo minha filha para a fisioterapia?”, questiona
Já a auxiliar de enfermagem da MNSL, Elaine Anaely Heringer, que é mãe de duas crianças, conta que recebeu R$ 42,90 e suas despesas do mês somam R$ 1.712,00, além de ser época de comprar o material escolar das filhas. “Só queria uma resposta do governador, e as crianças como ficam? E o material de escola, como posso dar uma educação de qualidade sendo que eu recebi R$ 42,90. Não tenho condição de comprar o material da escola e as aulas já vão começar”, desespera. A servidora ainda revela que o marido está com o salário atrasado e precisam pagar o aluguel de R$ 600,00. “Como vou ensinar para minhas filhas serem cidadãs de bem sem eu quitar as minhas dívidas e meus compromissos? Essa é a pergunta, como fica ? Não estava fazendo nada ilegal e que não fosse amparado pela lei” ressalta Elaine.
Além de lamentar pelos descontos nos salários, as servidoras da saúde -, que estavam acompanhadas pela presidente do Sindsaúde Flaviana Alves Barbosa e pelo ex-deputado Mauro Rubem -, expuseram as condições de trabalho dos servidores nas unidades de saúde do Estado, destacando a falta de insumos e força de trabalho humano, além da sobrecarga de atividades.
“Hoje, no Hugo temos uma sobrecarga tremenda e estamos adoecidos. Temos muitos colegas com atestado e licença médica por sobrecarga de trabalho. Não temos condições de dar assistência ao paciente, as condições de trabalho são péssimas, os insumos são de baixa qualidade, há falta de antibióticos à medicação comum e somos até proibidos de fazer comentários. Há muitos funcionários da OS, mas não há contrato e tem muitas demissões, tenho colegas que estão pedindo para sair à revelia porque não suportam a sobrecarga”, revela Maura, que trabalha no Hugo.
A presidente do Sindsaúde ressalta que os trabalhadores das unidades de saúde de Goiás precisam de melhores condições de trabalho, além de criticar as Organizações Sociais (OS) que administram os hospitais. “Deixaram de pagar salário e 13º dos terceirizados, com a alegação de que o Estado não pagou para eles. As pessoas não estão ficando e quem fica são os estatutários. Então, desde que a OS entrou se teve a retirada de 50% da força de trabalho e não foi recomposta. Hoje, deve ter uns 30% de efetivos, ficando com nove ou 10 pacientes, sendo humanamente impossível prestar uma assistência de qualidade ao paciente, que no caso do Hugo são pacientes graves”, explica. “Quem trabalha na saúde o faz por sacerdócio e precisa ser respeitado na dignidade de cada um”, conclui.
Sindsaúde e trabalhadores organizam movimento “Saúde Solidária” para arrecadação de dinheiro e alimentos para suprir necessidades dos servidores prejudicados”
Doações da campanha Saúde Solidária
Banco: Caixa E. Federal
Agência: 0012
Operação: 013
Conta: 48767-5
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