Opinião

As filosofias religiosas orientais e a física moderna

Diário da Manhã

Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 01:32 | Atualizado há 8 anos

No sentido de que todas as coisas e seres estão interligados, interdependentemente, numa imensurável teia invisível, mas detectável pela intuição, em todo o Universo, leva-nos a admitir que os conceitos concebidos pelas filosofias-religiosas orientais se equivalem e se mesclam às descobertas da Física Moderna, a que mais se aproxima das deduções filosóficas.

E assim sendo, a aceitação de uma inteligência superior, sui generis, que concebeu, planejou, administra e governa o Universo, sobressai com espontaneidade matemática dessas concepções.

Ao admitir toda essa complexa fusão de seres e coisas, até à aceitação dessa Inteligência Suprema – Deus –,  medeia apenas um passo.

São desse teor as considerações de Fritjof Capra, em seu livro, “O Tao da Física” (Editora CULTRIX – São Paulo/SP – 2006 – Epílogo, p. 226/229), tantas vezes citado ao longo desse trabalho.

Vejam-nas:

“As filosofias religiosas orientais se interessam pelo conhecimento místico eterno que se situa além do raciocínio e não pode ser adequadamente expresso em palavras. A relação entre esse conhecimento e a Física moderna é apenas um de seus múltiplos aspectos e, como todos os outros, não pode ser demonstrada de forma conclusiva, tendo de ser experimentada de forma intuitiva direta. Espero ter conseguido dar, de algum modo, não uma demonstração rigorosa, mas, em vez disso, uma oportunidade ao leitor de reviver, volta e meia, uma experiência que se tornou para mim uma fonte de alegria e de inspiração constantes. Ou seja, que as teorias e modelos principais da Física moderna levam-nos a uma visão do mundo que é internamente consistente e está em perfeita harmonia com as concepções do misticismo oriental.

Para aqueles que já experimentaram essa harmonia, o significado do paralelismo entre essas duas visões de mundo está além de qualquer dúvida. A questão digna de interesse não é, por certo, se tais paralelos existem, mas por que existem?

Na tentativa de compreender o mistério da Vida, homens e mulheres têm seguido muitas abordagens diferentes. Entre estas, encontram-se os caminhos do cientista e do místico….”

2 – Em sequência, no tentamen de fundir o físico e o extrafísico, demonstra o autor, noutras palavras, a impossibilidade da concepção mecanicista atingir o estágio de aprofundar-se no estudo do microcosmo, como também de conseguir tocar no estado de consciência, próprio do ser pensante, acrescentando:

“… A visão de mundo mecanicista da Física clássica é útil para a descrição do tipo de fenômenos físicos que encontramos em nossa vida diária, e, portanto, apropriada para lidar com nosso meio ambiente de todos os dias. Além disso, mostrou-se extremamente bem-sucedida como uma base para a tecnologia. No entanto, é inadequada para a descrição dos fenômenos físicos no reino submicroscópico. Em oposição a essa concepção mecanicista do mundo, está a visão dos místicos, que pode ser resumida na palavra “orgânica”, uma vez que eles encaram todos os fenômenos do universo como partes integrantes de um todo harmonioso e inseparável. Essa visão de mundo emerge das tradições místicas a partir de estados meditativos de consciência…”

3 – Constata-se, nesse trecho da obra, que o assunto envolve dois fatores essenciais no campo do saber: de um lado, a Física Moderna e demais setores científicos, à exceção da ciência da cogitação, que adotam o raciocínio indutivo, não podendo, por isso mesmo, chegar às conclusões mais claras da Filosofia, que adota o raciocínio dedutivo, puro, a priori, ou intuitivo.

No entanto, nada impede às ciências que empregam o raciocínio indutivo, empírico, empregarem também o raciocínio dedutivo, uma vez que todos esses fatores acham-se também inter-relacionados e interdependentes.

Diz Fritjof Capra:

“…O paralelismo entre as concepções dos físicos e dos místicos torna-se ainda mais plausível quando recordamos todas as demais semelhanças que existem, não obstante suas abordagens diferentes. Assinale-se, de início, que seus métodos são inteiramente empíricos. Os físicos derivam seu conhecimento de experimentos; os místicos, de insights na meditação. Ambas são observações e, em ambos os campos, essas observações são reconhecidas como a fonte única de conhecimento. O objeto de observação é, naturalmente, muito diferente nos dois casos. O místico olha para dentro e explora sua consciência em seus vários níveis, o que inclui o corpo como a manifestação física da mente. A experiência do corpo humano é, de fato, enfatizada em muitas tradições orientais e é, com frequência, vista como a chave para a experiência mística do mundo. Quando somos sadios, não sentimos quaisquer partes isoladas em nosso corpo, mas estamos côncios de que se trata de um todo integrado e essa consciência gera um sentimento de bem-estar e felicidade. De modo semelhante, o místico está cônscio da totalidade do cosmos, que é experimentado como uma extensão de seu corpo. Nas palavras do Lama Govinda,

‘Para o homem iluminado […], cuja consciência abarca o universo, para ele o universo se torna o seu “corpo”, ao passo que o seu corpo físico torna-se uma manifestação da Mente Universal, sua visão interior, uma expressão da realidade mais elevada, e sua palavra, uma expressão da verdade eterna e do poder mântico.’

(*) De meu livro ainda inédito: “Deduções Filosóficas e Induções Científicas da Existência de Deus”.

 

(Weimar Muniz de Oliveira, magistrado aposentado, presidente da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (Abrame) e do Lar de Jesus, diretor da Federação Espírita do Estado de Goiás (Feego) e membro do Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira (FEB). E-mails: [email protected] e [email protected])

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