Cultura

As piores perdas de 2016

Diário da Manhã

Publicado em 28 de dezembro de 2016 às 01:37 | Atualizado há 1 semana

A última semana do ano talvez esteja acabando e deixando muito mais saudades do que as pessoas poderiam imaginar. Quem praguejou o último semestre inteiro, desejando que o ano acabasse, provavelmente, agora, fazendo aquela inevitável retrospectiva, comece a perceber que 2016 não foi de tudo assim tão ruim, e que seus acontecimentos serão, no mínimo, memoráveis. A política brasileira passou por grandes momentos de caos, a economia não conseguiu cumprir o prometido em 2015 de trazer ventos melhores para os nossos bolsos, o Donald Trump disse que vai mandar os latinos de volta para suas respectivas “terras”, grandes nomes da dramaturgia e da música nos deixaram (órfãos) abruptamente. Por outro lado, nossas séries preferidas lançaram uma nova temporada, novas séries foram lançadas, grandes franquias do cinema voltaram para as telonas. Tem muita coisa aí para comemorar. Vai falar que não?

Mas antes de pularem as sete ondinha, de escreverem no papelzinho as promessas para o próximo ano (aquelas que você nunca vai cumprir), antes de quebrar a taça na hora do brinde com o amigo, porque vocês dois já estão levemente alterados desde as dezoito horas do dia 31 de dezembro. Antes mesmo de você pensar na cor da sua calcinha de ano novo (tem gente que diz que dá sorte, vai saber!), senta aqui e vamos relembrar alguns dos momentos de 2016 em que perdemos grandes artistas, cantores, atores, mas antes de tudo, grandes seres humanos. Estes que, ao longo de uma vida, fizeram a vida deles e a nossa valer a pena.

 

 

Elke Maravilha

Essa realmente era uma maravilha de mulher. Símbolo de beleza incomparável na juventude, uma mulher visionária, à frente de seu tempo. Elke tinha peito de aço! Elke Georgievna Grunnupp nasceu na Rússia e mudou-se para o Brasil, mais precisamente para Itabira, interior de Minas Gerais, ainda com seis anos de idade. Elke e sua família se refugiaram no País, fugindo da perseguição de Stalin. A jovem Elke sempre demonstrara ser uma mulher à frente de seu tempo, seu estilo irreverente chamava a atenção e a mesma chegou a ser agredida nas ruas por sua postura.

Na década de 1970, durante o Regime Militar no Brasil, Elke Maravilha esteve presa por seis dias, acusada de atrapalhar as buscas da polícia por um preso político. Elke estava no Aeroporto Santos Dumont, em 1972 quando se deparou com um cartaz que anunciava a procura por Stuart Angel, filho a estilista Zuzu Angel, grande amiga de Elke. A modelo, indignada, rasgou o cartaz, sendo presa em seguida. Nesta época, já era sabido que Stuart Angel havia sido assassinado pelo Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica em 1971. O corpo do militante nunca fora encontrado, e a cidadania brasileira de Elke Grunnupp esteve cassada durante o Regime Militar.

Elke Maravilha passou cerca um mês internada na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, tratando de uma úlcera. Diabética, ela teve complicações pós operatórias e, devido a um dos pontos de uma cirurgia anterior ter se rompido, fora submetida a uma nova operação. O irmão da atriz, Frederico Grunnupp disse que a irmã já não respondia mais ao tratamento. O Facebook pessoal de Elke Maravilha publicou uma pequena nota, avisando os fãs da morte da artista. Elke faleceu em agosto deste ano, aos 71 anos.

 

Shaollin

1-2

A morte deste artista, deste humorista fantástico, vinha sendo sentida há muito tempo. Josenilton Veloso, mais conhecido nacionalmente como Shaollin, havia sofrido um acidente automobilístico em 18 de janeiro de 2011, e seguia em coma desde esta época. Após certo período de internação hospitalar, o humorista fora transferido para sua própria residência, de onde vinha recebendo cuidados médicos. No dia 13 de janeiro Shaollin precisou ser levado ao hospital para tratar de uma infecção respiratória. Veio a óbito na quarta-feira, 14 de janeiro, aos quarenta e quatro anos, deixando a esposa, Laudicéia Veloso e dois filhos.

“Depois de 1821 dias, nosso guerreiro terminou sua batalha. É com muita tristeza que divido a nossa dor com todos vocês. Shaolin apresentou um quadro febril nesta terça e que, infelizmente, evoluiu para uma infecção, precisando de internação imediata. Recebemos a notícia do hospital, neste momento, que ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Obrigada a todos pelas orações e força!”, escreveu sua esposa, em sua página oficial na rede social Facebook.

Shaolin ficou famoso fazendo imitações fantásticas de Michael Jackson, Chico Anysio (outro mestre do humor brasileiro), Roberta Miranda, Maria Bethânia, e claro, uma de suas melhores performances, a imitação do nosso goiano, o cantor sertanejo Leonardo. O paraibano começou a carreira no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande. Foi cartunista político nos jornais A Palavra, Jornal da Paraíba, e Revista Nordeste. Na televisão, participou de grandes programas de entretenimento, como o Domingão do Faustão, A Praça é Nossa, Show do Tom. Antes do acidente automobilístico, Shaollin fazia imitações no programa apresentado por Ana Hickman, Tudo é Possível.

 

Domingos Montagner

1-3

Uma das fatalidades mais repercutidas nacionalmente, a morte do ator Domingos Montagner, até ser confirmada, deixou muitos fãs aflitos. Na tarde do dia 15 de setembro, os portais de notícia de todo o Brasil começaram a noticiar o desaparecimento do ator no Rio São Francisco, onde Domingos gravava as cenas finais de Velho Chico, antiga novela das nove da tevê Globo. Após as gravações, Domingos Montagner e a colega Camila Pitanga, seu par romântico na novela, foram aproveitar os minutos de descontração para dar um mergulho numa região próxima. Segundo relato da própria atriz, Montagner percebeu que estava sendo “puxado” pela força da água, e instantes antes de submergir definitivamente, ainda se assegurou de ter deixado Camila a salvo, sobre as pedras, nas proximidades da fatalidade. O corpo de bombeiros iniciou as buscas pelo corpo de Domingos Montagner, e sua morte foi confirmada no início da noite do mesmo dia.

Artista multifacetado, Domingos Montagner era ator, palhaço, teatrólogo, e ainda tocava negócios como empresário. Seus últimos dois trabalhos foram como Santo dos Anjos, em Velho Chico, e Um Namorado Para Minha Mulher, filme brasileiro lançado após o falecimento do ator.

 

Cauby Peixoto

1-4

Uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira, Cauby Peixoto atravessou gerações, encantando fãs de todas as idades. Nascido em Niterói, em 1931, Cauby fora aluno de uma escola de de padres, onde começou cantando no coral do colégio. No final dos anos de 1940, Cauby já dava seus primeiros passos para a carreira secular que ali se iniciava. Em 1951 gravou seu primeiro álbum, “Saia Branca”. Em 1952 o cantor se muda para São Paulo para participar da Rádio Nacional, a convite de Di Veras, importantíssimo empresário da época. Di Veras foi o primeiro homem a notar o potencial do jovem Cauby e a dar-lhe uma oportunidade, cuidando integralmente da carreira do cantor, até mesmo das roupas que vestia.

Aos poucos, a voz aveludada de Cauby Peixoto já havia caído no gosto popular e suas canções ecoavam pelas maiores rádios de sua época. Nos seus últimos anos de vida, Cauby vivia sob os cuidados de Nancy Lara, uma fã de Cauby, que se transformou em sua melhor amiga e empresária. Era Nancy quem agendava os shows de Cauby, cuidava dos figurinos deste artista que, apesar de humilde, era um homem muito vaidoso. Nancy Lara também cuidava da montagem dos cenários de palco de Cauby. Terminou seus dias cantando no Bar Brahma, em São Paulo, em funcionamento desde 1940.

No início do mês de maio, Cauby foi internado com um quadro de pneumonia, e cerca de uma semana depois, veio a óbito, aos 85 anos. Cauby Peixoto estava em turnê pelo Brasil ao lado da cantora e parceira de longa data, Angela Maria.

 

 

Damião Experiença

1-5

Damião Ferreira da Cruz, mais conhecido como Damião, Damminhão, Daminhão ou Daimeão Experiênça, Experyença ou Experyênça (Natural da cidade baiana de Lauro de Freitas, nascido em 27 de setembro de 1935 e morreu no Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2016), foi um cantor, músico e compositor brasileiro. É considerado uma figura proeminente na cena musical alternativa brasileira, sendo reconhecido por músicos como Tony Bellotto e George Israel e contando com admiradores e colecionadores de seus discos no exterior.

A obra musical de Damião é de difícil categorização, sendo que diferentes gêneros musicais foram explorados ao longo de seus álbuns, como freak folk, rock psicodélico, reggae e música experimental. Geralmente, ele executa vários instrumentos ao mesmo tempo em que canta. Exemplos são a gaita, o chocalho, e seus violões de várias cordas (o álbum Planeta Lamma foi tocado com um violão de uma corda). As letras de suas canções não têm um sentido lógico à primeira vista, sendo que muitas músicas são cantadas em um dialeto próprio, com letras improvisadas.

A discografia de Damião é vasta, possuindo, segundo algumas pessoas próximas ao músico, 36 álbuns todos gravados em vinil. A ideologia e os personagens que frequentam os discos são insondáveis, existindo citações ao marinheiro João Cândido da Revolta da Chibata, passando por Isabelita Perón, Bob Marley, Adolf Hitler, Fidel Castro, Getúlio Vargas misturados a comunismo, aborto, ditadura, drogas, música, semiótica, rastafári, e nomes dos planetas criados por ele em geral. As capas dos álbuns são geralmente colagens centradas em sua figura com visual ímpar, a saber, elementos colecionados das ruas e afixados nas roupas como banners, embalagens, luzes, pedaços de jornal, alfinetes e papéis. Também é comum a existência de discos cujo rótulo identifica várias músicas em uma só faixa.

Em seus primeiros álbuns, Damião usa violões de diferentes números de cordas, harmônicas e ocasionalmente marimbas, misturando o português com seu dialeto próprio. Esse estilo é predominante em seu álbum de estreia, Planeta Lamma (1974), e em seus prosseguintes 69 (1974) e Damião Experiença no Planeta Lavoura (1978).

Os anos 80 e 90 apresentam álbuns mais elaborados, contando com a presença de uma banda completa e aproximação com o rock psicodélico. Nos vocais, Damião abandona o dialeto do “planeta Lamma” para cantar em um português rasgado de letras com forte conotação sexual ou política, quase sempre mesclando ideologias incompatíveis. Destes discos destacam-se frases notáveis, que soam a adágios, como “quem tirou o selo que leia a carta”, ou ainda “eu gosto é de mulher lésbica”. Estas características são predominantes em álbuns como Planeta Guerrilha e Ezabelitaperonsim.

 

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias