Opinião

Batista Custódio: o guru da aliança política em Goiás

Diário da Manhã

Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 01:46 | Atualizado há 8 anos

Guardo com carinho a Declaração de Voto de Batista Custódio estampada na primeira página do Diário da Manhã do dia 29 de outubro de 2016, num gesto de independência moral e de autêntica transparência desse corajoso e conceituado jornalista goiano, que exerce a diretoria geral de um jornal democrático (hoje se diria republicano), refletindo seu caráter polêmico e sendo, por isso, aberto à opinião pública.

Guardo alguns editoriais memoráveis de Batista Custódio, desde quando cheguei a Goiânia na década de 1960. No afã de conhecê-lo pessoalmente, um dia pude visitá-lo na honrosa companhia do saudoso poeta José Décio Filho (meu conterrâneo de Posse que era seu especial amigo) e fomos recebidos, informalmente, na sala de redação do antigo semanário Cinco de Março, que precedeu o cotidiano atual.

Este então iniciante na arte literária já era admirador do estilo grandiloquente desse famoso beletrista goiano, reconhecido como um grande fazedor de frases de efeito e de vaticínios irrefutáveis na previsão dos fatos políticos que teciam e ainda tecem o painel da história política de Goiás. Passemos à mencionada declaração de voto.

 

DECLARAÇÃO DE VOTO

Quem leu a declaração pública de Batista Custódio, na data acima, deve ter admirado (ou estranhado) a confissão de que seu voto na eleição para prefeito de Goiânia, seria  para o candidato Iris Rezende. Batista frisou claramente: “Sou contra o voto secreto. Nele a corrupção dos políticos se esconde no eleitor”. Passou daí à justificação, no seu estilo contundente: “Penso que Marconi Perillo e Iris Rezende são as estrelas e os demais estão planetas ou satélites gravitando nas constelações do irismo e do marconismo. E, sobretudo, sinto que o irismo é uma tornozeleira política na perna direita do Iris e que o marconismo é uma algema política no braço esquerdo do Marconi”.

Criterioso e imparcial, Batista expõe suas razões pessoais: “Sou amigo do Marconi e do Iris, e não dos governadores vividos neles, por isso a estima não muda a vida inteira aos selos deles no poder. Entendo que as traições graduam a ingratidão dos traidores e não a lealdade dos traídos”.

 

VATICÍNIO DA UNIÃO

Os tópicos seguintes confirmam o vaticínio de Batista Custódio preconizando a união de Iris e Marconi, como “o melhor para Goiás” e         por ser “a solução política ideal para o padrinho do João do Sonho sonhar a sucessão providencial” (bem clara a metáfora). Passemos à conclusão da justificativa em tela:

“Existe o equívoco dos que medem o vigor de Iris pelos seus 83 anos. Eu o avalio pelo seu arrojo de fênix na vocação política. Ele é o Marconi de ontem. E o Marconi é o ele de hoje. Ambos são ótimos no povo. Os dois unidos, será o melhor para Goiás.”

“Voto no Iris porque não faço voto nessas outras promessas rastejantes em ideias miraboladas. E voto no Iris por muitos que teriam votado nele para governador de Goiás, em 1965, se não tivesse sido cassado pela ditadura militar como prefeito de Goiânia. Voto no Iris pela memória do seu afilhado Fábio Nasser. Voto no Iris por ser a solução política ideal para o padrinho do João do Sonho sonhar a sucessão presidencial.”

“E voto no meu amigo Iris Rezende Machado porque sei que está no meu voto amigo o voto que o amigo Marconi Perillo gostaria de dar no Iris para prefeito de Goiânia hoje”.

 

DO APOIO TOTAL

Decorridos apenas um mês e meio da previsão de Batista Custódio, que certamente ficou custodiada na consciência dos dois líderes políticos de Goiás, selou-se  o acordo do mútuo Apoio Total, com a repercussão esperada em favor da estabilidade administrativa que vem de aproximar o governo estadual do governo da capital goiana, na direção de um futuro promissor, apesar das procelas ainda reinantes no mar tempestuoso da política nacional.

 

DAS REPERCUSSÕES

Vale a pena conferir (e guardar para os anais da história), os efeitos da Declaração de Batista Custódio, tanto em manifestações veiculadas nas redes sociais quanto em matérias publicadas na forma de artigos e opiniões no Diário da Manhã, dias 16 e 17 transatos, destacando-se os textos de Paulo Afonso Ferreira  – “Marconi e Iris Rezende, a pacificação política”, Felicíssimo Sena – “A saída administrativa ao Estado de Goiás”, Luiz de Aquino – “As mãos da paz”, Antônio Almeida – “O novo ciclo da modernidade na política goiana”, e João Nascimento – “Gesto de estadistas”, além de depoimentos pessoais de nomes representativos da vida pública goiana, tais como, José Mario Schreiner (presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), Clarismino Pereira Júnior (ex-presidente da Associação Goiana dos Criadores de Zebu), Tasso José Jaime (presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura), José Evaristo (presidente da Fe-Comércio de Goiás), Ailton Oliveira e Ulisses Sousa (diretores da Aslicom), ressaltando o respeito e a sabedoria dos dois gigantes da política goiana.

 

DO TRIUNVIRATO

Não é preciso entrar no mérito dessas manifestações históricas que estão na base dos acontecimentos atuais. Mas quem quiser mergulhar na história política de Goiás tendo por fonte a contribuição da imprensa, encontrará certamente em todos os momentos de crise (ou encruzilhada) da velha e da nova república, a voz profética do jornalista Batista Custódio, a essa altura ocupando mais de oitenta degraus no alto trono temporal de sua maturidade.

Batista Custódio tem o sexto sentido que lhe dá a percepção das coisas visíveis e invisíveis, passadas, presentes e futuras. Além do mais, tem a fluência e influência dialética de Alfredo Nasser, tem a vidência e assistência espiritual de Fábio Nasser, que o acompanham da outra dimensão mostrando os caminhos do sim e do não e a conexão dos fatos na continência das vidas.

Agora já se fala em “triunvirato da pacificação política” (Helton Lenine, DM, dia18 último, p. 7), incluindo-se a figura medianeira de Maguito Vilela, como que a devolver-se o cetro do poder concentrado nas mãos dos três ex-governadores, o que não impede de se fechar um ciclo de dissensões políticas, mas abrindo-se novo espaço para o processo dialético que se impõe para a construção do futuro.

 

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: [email protected])

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