Cotidiano

As doenças da Igreja Católica

Diário da Manhã

Publicado em 20 de dezembro de 2016 às 01:41 | Atualizado há 8 anos

Há dois anos, em um longo discurso, o papa Francisco surpreendeu ao fazer duras críticas aos líderes da Igreja Católica. Ele apontou o comportamento dos líderes como “doenças”. Ao ser divulgado na imprensa, o conjunto de expressões tornou-se manchetes, debates e causou revelia em alguns segmentos da igreja. Mas dois natais depois, a Igreja Católica continua a mesma – seja em Goiânia ou Roma, Paris ou Londrina.

E se o papa realizasse o discurso novamente, a carapuça serviria para muitos que atuam, por exemplo, nas missas como bons cordeiros de Deus e na madrugada se transformam através de uma clara “esquizofrenia existencial”.

Disposto a fazer as mudanças necessárias para a igreja, Francisco enfrenta as mesmas dificuldades de Bento 16: a igreja segue inerte, sem mudar sua rota de lascívia e adoração do dinheiro. O padre pede perdão e os fiéis seguem pecando.

No encontro de confraternização de Natal 2014, junto dos cardeais, bispos e monsenhores, Francisco realizou o discurso considerado inesperado: ele listou 15 doenças que, segundo o papa, contaminaram parte da igreja.

O líder denunciou, por exemplo, a síndrome do acúmulo de bens. O ataque tinha como alvo a alta hierarquia da igreja, que reúne religiosos riquíssimos. Atacou ainda o lucro mundano, rivalidade e vanglória. Papa criticou o terrorismo das fofocas, que “destrói a reputação das pessoas”. Lembrou também da doença dos covardes, que “falam por trás”.

Francisco relembrou ainda os que “divinizam os chefes”, em clara manifestação para subir na carreira.

Papa Francisco questionou também os que vivem em grupos fechados, que servem mais a estes do que a Cristo ou a própria igreja.  Para os que “sofrem da síndrome da imortalidade”, o católico recomendou uma visita ao cemitério, “onde estão muitos que se consideravam imunes e indispensáveis”.

“Essa doença vem de outra: o mal do poder e do narcisismo, que olha apenas para a própria imagem”.

Para os que sofrem de um declínio das faculdades da fé, Francisco apontou a existência de um “mal de Alzheimer espiritual”.

O papa ainda nomeou os que vivem uma dupla vida (religiosa e mundana) como “esquizofrênicos existenciais”.

Não raro, papa Francisco realiza discursos bombásticos, com grande significado humano. Ele celebrou no último sábado, 17, o aniversário de 80 anos. Esteve sentado com oito moradores de rua durante um café da manhã bem servido.

Sua luta pelo pontificado reformista segue em frente.  Através do email, milhares de brasileiros têm enviado felicitações pelo aniversário e coragem deste homem. O endereço para correspondência é   [email protected].

 

As doenças apontadas em 2014

Papa no dia em que falou as mais duras verdades da história da Igreja Católica: críticas têm endereço certo, caso da cúpula e dos líderes “esquizofrênicos”

  • Sentir-se imortal ou indispensável: “Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza, é um corpo enfermo” e criticou o “complexo dos eleitos, do narcisismo”.
  • Martalismo: O papa lembrou a passagem bíblica onde Marta, ao receber Jesus, mostra-se mais preocupada com os afazeres da casa do que ouvir a mensagem de Jesus. “É a doença do excesso de trabalho” e “dos que trabalham sem usufruírem do melhor. A falta de repouso leva ao estresse e à agitação”, pontuou Francisco.
  • Dura mentalidade: Quando alguém “perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papéis, deixando de ser ‘homens de Deus'”.
  • Excessiva planificação: Francisco alertou aos que têm a “tentação de querer pilotar o Espírito Santo”. É “quando o apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que assim as coisas progridem. Torna-se um contabilista”, assinalou.
  • Má coordenação: O pontífice criticou a perda da comunhão promovida pela má coordenação que faz com que o “corpo” perca “a sua harmoniosa funcionalidade”.
  • Alzheimer espiritual: Francisco referiu-se, ainda, a esta “doença” que conduz a “uma diminuição progressiva das faculdades espirituais que, num largo ou curto espaço de tempo, provoca muitas desvantagens à pessoa tornando-a incapaz de desenvolver uma atividade autonomamente, vivendo num estado de absoluta dependência dos seus pontos de vista, muitas vezes imaginários”.
  • Rivalidade e vanglória: Outra doença citada pelo santo padre diz respeito ao excessivo valor pela “aparência”, onde o primeiro objetivo são as “honorificiências”, que “leva-nos a ser falsos e a viver um falso misticismo”, enfatizou.
  • Esquizofrenia existencial: Os que sofrem com essa “doença” vivem “uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre” e vivenciam um “progressivo vazio espiritual” ao buscar em “títulos” o sentido de suas vidas. Essa esquizofrenia, segundo o papa, “atinge muitas vezes aqueles que, abandonando o serviço pastoral, se limitam às coisas burocráticas, perdendo assim o contato com a realidade, com as pessoas concretas”.
  • Terrorrismo das fofocas: “Nunca é demais falar desta doença”, indicou o santo padre ao destacar o mal das fofocas. “É a doença dos covardes que, não tendo a coragem de falar diretamente, falam pelas costas. Defendamo-nos do terrorismo das fofocas”, assinalou.
  • Divinizar os chefes: O santo padre indicou essa “doença” como mal daqueles que sofrem de “carreirismo e oportunismo”. “Vivem o serviço pensando unicamente naquilo que devem obter e não ao que devem dar”, frisou.
  • A indiferença: Francisco sinalizou o mal que a indiferença pode causar à vida comunitária pela perda da “sinceridade e calor das relações humanas”, e de “quando por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros em vez de o ajudar a levantar”, destacou.
  • Cara de enterro: Segundo o papa, essa “doença” se manifesta na “severidade teatral” e no “pessimismo estéril”, e apresenta-se muitas vezes em sintomas de medo e insegurança. “O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria…”. “Como faz bem uma boa dose de são humorismo”, indicou Francisco.
  • Acumular bens materiais: Francisco criticou aqueles que buscam acumular riquezas na tentativa de “preencher um vazio existencial no seu coração”, e motivados “não por necessidade, mas só para sentir-se seguro”.
  • Círculos fechados: O papa alertou também a respeito daqueles que procuram “viver em grupinhos”, e mesmo o fazendo com boas intenções correm o risco de “cair em escândalos”.
  • O lucro mundano e o exibicionismo: O desejo pelo poder para benefício próprio foi a penúltima “doença” ilustrada pelo pontífice: “Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder”, sublinhou.

 

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