Cultura

Parceiros de longa estrada

Diário da Manhã

Publicado em 5 de novembro de 2016 às 01:44 | Atualizado há 1 semana

Eles são vizinhos. Visivelmente amigos há mais de quatro décadas. Construíram, juntos e separados, um legado importante e poético para a música caipira brasileira. Eles são: Almir Sater, Renato Teixeira e Sérgio Reis, que chegam hoje ao Atlanta Music Hall, com o show Tocando em Frente, que está marcado para começar a partir das 22 horas. Esta apresentação dos três no mesmo palco é única, mesmo que nos bastidores da música e da vida eles quase nunca se separaram.

Como era de se esperar, o clima será intimista. De acordo com Renato Teixeira, em entrevista ao DMRevista, o público vai poder sentir-se quase em uma roda de viola, que sempre fazem na Serra da Cantareira, em São Paulo, onde todos  possuem casa.

Acompanhados ainda pelo violonista Rodrigo Sater e pelo tecladista e arranjador Crispin Del Cístia, interpretam “modas”– e também alguns causos – inesquecíveis de seus repertórios. Não vão faltar clássicos: “Romaria”, “Trem do Pantanal”, “Panela Velha”, “Menino da Porteira”, “Chalana” e, claro, “Tocando em Frente”.

Como antigos parceiros de caminhadas, a sintonia entre estes músicos ficará mais do que nítida neste show, pois o entrosamento musical é tão grande que eles podem estar sentados, “proseando”, descompromissadamente, que, não mais que de repente, pode chegar-lhes uma obra prima, naturalmente. Foi assim que aconteceu com a inspirada faixa que dá nome ao show, a Tocando em Frente, feita por Renato Teixeira e Almir Sater, enquanto esperavam despretensiosamente o almoço.

Juntos, Renato e Almir compuseram várias outras faixas. Sérgio Reis, por sua vez, gravou grande parte delas. Aliás, o cantor dos sucessos “Coração de Papel”, “Pinga Ni Mim” é um dos maiores intérpretes de Renato Teixeira. Cantou da romântica Rio de Piracicaba à emblemática Romaria.

Mais próximos

Sim, a parceria quase sempre rondou a carreira destes três artistas. Mas, atualmente nos estúdios e nos palcos, eles têm ficado ainda mais próximos. Em 2010, por exemplo, Sérgio e Renato comemoraram quatro décadas de parcerias com a gravação do DVD “Amizade Sincera”. Tal álbum fez bastante sucesso, tanto que no ano de 2014 ganhou um segundo volume, o “Amizade Sincera II”, que recebeu até Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja, no ano seguinte.

E, por incrível que pareça, um disco de Renato Teixeira e Almir Sater só saiu este ano. Trata-se de Ar, que foi gravado no Brasil e Nashville (EUA) com produção de Eric Silver, e possui 10 canções inéditas, que misturam música caipira com rock acústico dos anos 1970. Algumas faixas deste álbum, como Peixe Frito e A Flor Que A Gente Assopra, poderão até ser conferidas ao vivo hoje, no show de logo mais.

Show “Tocando em Frente”

Onde: Atlanta Music Hall (BR-153, km 10. Aparecida de Goiânia)

Quando: Hoje, a  partir das 22 horas

Informações: (62) 3257-7000

 

[box title=”ENTREVISTA RENATO TEIXEIRA”]

“Está em andamento uma revolução do banal para o formidável”

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É o que disse Renato Teixeira sobre o atual momento da música sertaneja, em entrevista ao DMRevista. Na conversa, comentou sobre o nascimento de canções, a amizade com Sérgio e Almir e o Prêmio Nobel de Literatura de Bob Dylan. Confira a conversa a seguir:

 

DMRevista: “Tocando em Frente”, que dá nome ao show, é uma canção muito importante em sua carreira e de Almir Sater. Em entrevistas, vocês já falaram que a inspiração para compô-la chegou de forma fácil. Desde o início perceberam sua grandeza?

Renato Teixeira: Eu e o Almir estávamos aguardando o almoço ficar pronto, não nos reunimos para compor. Ele captou uma melodia linda e começou a tocar, eu quase que intuitivamente peguei um papel e uma caneta e escrevi. Ela foi quase que criptografada (risos). Ela simplesmente veio pra nós. Mostrei pro Almir e cantamos junto com a melodia. Ele olhou pra mim e disse: “Será que é plágio? Afinal, ficou muito bom”. Então, fomos almoçar, pois sinalizaram pra nós que o feijão estava pronto. (risos).

DMRevista: Você e Almir já compuseram vários outros clássicos juntos. E Sérgio Reis foi um dos artistas que mais interpretou suas canções. Quando e como começou esta amizade e sintonia musical entre vocês três?

Renato Teixeira: Somos grandes amigos, somos vizinhos na Serra da Cantareira, nosso refúgio, e nossa parceria musical sempre foi tão presente e marcante em nossas vidas que esta reunião veio como um encontro de grandes amigos. O que tocamos no show é muito do que tocamos juntos na Serra quando nos encontramos…

 

DMRevista: Até agora, mais de 500 cantores já interpretaram sua canção Romaria. Elis Regina foi a intérprete que mais te emocionou?

Renato Teixeira: A Elis era demais! Elis me emocionou muito, além, é claro, da linda interpretação de Geraldo Espindola.

 

DMRevista: Na época que fez “Romaria”, você disse que queria provar que música caipira podia ser contestadora e não estava esgotada e superada. Tem visto nascer novos representantes da música caipira?

Renato Teixeira: Hoje vejo grandes representantes da música caipira chegando, são eles: Chico Teixeira, Folk na Kombi, Nô Stopa, Gabriel Sater, Roberta Campos, entre outros… O movimento protagonizado por eles denomina-se música folk, e nada mais é do que uma nova abordagem da música caipira no Brasil.

 

DMRevista: Como analisa a importância da música de vocês para a cultura do interior e caipira?

Renato Teixeira: Analiso que nos tornamos uma espécie de referência e de música com conteúdo para a nova geração, a obra do Sérgio Reis, do Almir Sater, Orlando Boldrin, do Zé Geraldo, ainda será muito revisitada.

 

DMRevista: E como vê o atual momento da música sertaneja?

Renato Teixeira: Está em andamento uma revolução do banal para o formidável.

 

DMRevista: Suas canções são verdadeiras poesias. Como os poetas concretistas influenciaram a sua forma de criar?

Renato Teixeira: Leio muitos poetas concretistas e quando você gosta muito, acaba assimilando na sua obra.

 

DMRevista: O que achou de Bob Dylan ter ganhado o Prêmio Nobel de Literatura? Que brasileiros acha que também mereceriam um prêmio como este?

Renato Teixeira: A música é algo acima de tudo, não foi o Dylan que ganhou o prêmio Nobel, foi o vento. A música é vento, o vento é música, Dylan é vento. Dois brasileiros mereceram e ainda merecem: Nelson Cavaquinho e João Pacífico..[/box]

 

 

 

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