Como evitar a dor e a ansiedade da endometriose
Diário da Manhã
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 00:21 | Atualizado há 1 semanaA endometriose, doença caracterizada pelo crescimento indevido do endométrio, tecido do útero, para partes externas do órgão, normalmente é diagnosticada quando a mulher está entre os 25 e 35 anos, fase em que tenta engravidar e tem atividade sexual mais definida, mas o quadro, no corpo feminino, começou bem antes, logo nas primeiras menstruações.
A doença é associada principalmente a dor, cólicas menstruais fortes, desconforto inclusive no ato sexual são outros sintomas que, dependendo do caso, podem migrar para além do orgânico, como quadros de ansiedade e depressão. Também deve ser avaliada em casos de infertilidade.
De acordo com World Endometriose Research Foundation, cerca de 176 milhões de mulheres sofrem com a endometriose em todo o mundo. No Brasil, são 6 milhões de portadoras do distúrbio que já é considerado um problema de saúde pública.
De acordo com o médico Maxley Martins Alves, especialista em cirurgias minimamente invasivas, não é fácil estabelecer as causas da endometriose, porém sabe-se que a doença pode ser provocada pela menstruação retrógrada – quando pequenas porções de sangue voltam pelo canal tubário e se alojam em locais indevidos, como região pélvica, ovários, intestino, reto, bexiga e no peritônio, delicada membrana que reveste a pélvis.
ENDOMETRIOSE E INFERTILIDADE
Aos 35 anos, Rebeca de Lima Freitas é mãe de João Gabriel, de um ano de idade. Porém a gravidez, que para algumas mulheres vem de forma natural, para ela foi um processo que demorou nove anos de muitas tentativas e tratamentos para infertilidade.
Rebeca conta que sofreu 23 anos sofreu com sintomas da endometriose. Tentou tratamentos hormonais, mas, após algumas tentativas, a cirurgia foi apontada como tratamento mais adequado no caso dela. Especificamente, sua situação pediu duas intervenções e pouco mais de um ano depois, veio a tão sonhada gravidez.
A endometriose e a infertilidade estão associadas numa proporção de 50% dos casos relatados, ou seja, metade das mulheres com quadro de endometriose tem como consequência direta a infertilidade. Por outro lado, 50% dos casos de infertilidade feminina podem ter a endometriose como uma das principais causas.
Lesões em tubas uterinas são um dos principais fatores de infertilidade causado pela endometriose. Nesses casos, elas ficam danificadas devido ao processo inflamatório crônico da doença, que tem como uma das consequências a formação de aderências do peritônio com outros órgãos pélvicos, o que pode resultar na obstrução das tubas uterinas, reduzindo, ainda, a sua mobilidade. Isso dificulta ou até mesmo impede o transporte do óvulo e espermatozoides, e consequentemente a fecundação.
“Antes eu sofria com muitas dores e sangramento intenso”, explica Rebeca, sobre os outros sintomas que a levaram a buscar uma investigação mais detalhada de seu caso. Fatores como dores e sangramentos acabam, porém, por desencadear outros transtornos na vida da mulher.
De acordo com pesquisa realizada em parceria com o Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade, envolvendo mais de 3 mil mulheres, o prejuízo da endometriose vai muito além do da saúde física. Segundo o estudo, 50% das brasileiras com endometriose se ausenta do trabalho de uma a três vezes por mês, cerca de 23% das entrevistadas já ficaram afastadas por mais de 15 dias e 14% revelaram já terem sido demitidas por causa da doença.
De acordo com o médico ginecologista Ary Wanderley de Carvalho Júnior, especialista em endometriose, a doença pode prejudicaR também o relacionamento conjugal, pois causa a dispareunia, caracterizada por desconforto durante o ato sexual. “A dor pode levar redução da satisfação sexual, gerando problemas no relacionamento afetivo do casal, e este problema provoca depressão e ansiedade, principalmente na mulher”, explica o ginecologista, que acredita que o processo cirúrgico, caso indicado, é o caminho mais rápido e eficaz para conter a doença.
Ary Wanderley esclarece, ainda, que a cirurgia ou o tratamento medicamentoso é indicado de acordo com o quadro de cada paciente, sendo que a doença pode ser classificada em leve moderada ou grave. “Em alguns casos, o diagnóstico efetivo somente pode ser feito com a videolaparoscopia, um procedimento que permite observar os focos da endometriose e sua consequente retirada”, esclarece o médico.
Já a cirurgia consiste em pequenas incisões para identificação e o processo posterior “secagem” dos locais afetados, informa o cirurgião, Maxley Alves.
Após o processo, logo a paciente começa a sentir as melhoras, já que o tecido invasor é retirado. Porém, não existe cura para endometriose e, “mesmo depois da operação, é necessário que seja mantido um controle sobre o caso, com exames periódicos e tratamentos medicamentosos”, alerta Ary Wanderely.
DIAGNÓSTICO PRECOCE
Embora não exista causa para endometriose, alguns fatores podem ser considerados de risco, entre eles má alimentação, estresse, gravidezes tardias e alterações uterina. A prevenção é quase impossível, mas um diagnóstico precoce pode ajudar a conter a doença ao ponto de ela causar o mínimo de consequências.
Relatos de cólicas pré e menstruais fortes, desconforto e dores durante o ato sexual, podem ser um sinal de alerta. Nesse caso, o melhor é a realização de exames mais detalhados e já a utilização de medicamentos para conter o avanço dos tecidos, explica o médico.
Maxley acrescenta que um diagnóstico muito tardio pode levar inclusive a necessidade de retirada do útero, parte intestino, o que seria uma consequência evitável, já que a endometriose é progressiva e como tal pode ser controlada.
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