“Na Pisada dos Cocos”
Diário da Manhã
Publicado em 6 de agosto de 2018 às 21:14 | Atualizado há 1 semanaO Brasil é um País repleto de sons. Por diversas questões, alguns se tornam onipresentes, já outros há poucas oportunidades de contemplá-los. E é para mostrar expressões musicais pouco difundidas, no entanto muito relevantes, que de hoje até o dia 13 de agosto o Sesc Goiás recebe a 21ª edição Sonora Brasil. Com tema “Na Pisada dos Cocos”, desta vez a programação homenageia as batidas do norte e nordeste do coco, com grupos tradicionais do estilo. As apresentações acontecem nas unidades do Sesc de Goiânia (o Teatro Sesc Centro), Anápolis Sesc Anápolis) e Jataí (Sesc Jataí) e são gratuitas.
No Sonora Brasil a música gira, já que é o maior projeto de circulação musical do País. Com aproximadamente 5.726 apresentações em mais de 150 cidades para cerca de 600 mil espectadores, sua intenção é despertar um olhar crítico sobre a produção e os mecanismos de difusão da música no País.
“Com mais de duas décadas de existência, o Sonora Brasil é fundamental para valorizar identidades musicais genuinamente brasileiras e incentivar a formação de público, despertando um olhar crítico e valorizando nossa riqueza cultural”, ressalta o diretor regional do Sesc Goiás, Leopoldo Veiga Jardim.
Para mostrar os outros sons do Brasil, ao todo tocarão no projeto quatro bandas: Coco de Iguape (CE), Coco de Zambê (RN), Samba de Pareia da Mussuca (SE) e Coco de Tebei (PE). Além da região Centro-Oeste, os grupos estão circulando por estados das regiões Sul e Sudeste. Já o Norte e Nordeste recebem o tema “Bandas musicais: formações e repertórios”, que esteve por aqui ano passado
“Na Pisada dos Cocos” apresenta variantes desta expressão típica da região Nordeste do Brasil, trazendo dois grupos que praticam cocos do litoral e outros dois do interior.
Quem abre o projeto hoje no Teatro Sesc Centro, às 20 horas, é o grupo Coco de Iguape (CE), que amanhã se apresenta no Sesc Anápolis e sexta-feira (10), no Sesc Jataí. Esta banda é de Aquiraz, que fica a 30 km de Fortaleza e os integrantes moram próximo à Praia do Iguape, é onde moram os integrantes do grupo. Eles praticam a pesca artesanal e são liderados pelos mestres Raimundo da Costa, que desde os 10 anos pratica o coco de embolada, e Chico Caçuêra.
O Coco do Iguape tem uma característica peculiar: o andamento mais acelerado e uma dança mais “pulada”. O grupo se apresenta descalço, como os pescadores costumam andar. A vestimenta é feita artesanalmente, com o mesmo tecido usado nas velas das jangadas e tingida com a tinta retirada da casca do cajueiro azedo.
A música mantém a estrutura de refrão fixo, apresentado pelo mestre e cantado pelos brincantes, e estrofes emboladas pelos mestres, algumas criadas na hora. A dança acontece em pares, um de cada vez no meio da roda, com trocas constantes marcadas pelo convite feito com o gesto da umbigada. Apesar da prevalência de homens, não há restrições à participação das mulheres.
Os instrumentos utilizados pelo grupo são o caixão (espécie de cajón), feito de madeira em forma de caixa, permitindo que o tocador fique sentado sobre o instrumento, e o ganzá, espécie de chocalho feito com latas reutilizadas, ambos fabricados pelos próprios integrantes. O triângulo, pouco encontrado em grupos de coco, foi inserido a partir de influências externas.
O grupo é formado por Mestre Chico Caçoeira (Francisco Renato das Chagas), Klévia do Iguape (Klévia Cardoso da Silva), Renato Cabral, Wellington Monteiro, Gatinho (João Anastácio de Carvalho), Caboquim (José Ailton da Costa Miranda), Altamiro da Costa e Adonai Ribeiro.
UM “SAMBA”
Amanhã será a vez do Coco de Zambê, vindo do município de Tibau do Sul, no litoral do Rio do Norte, se apresentar no Teatro Sesc, na quinta-feira segue para o Sesc Anápolis e no sábado (11), as batidas acontecem no Sesc Jataí. Lá, o coco chegou com a vinda do povo da África, injustamente escravizados nos engenhos de cana-de-açúcar e colônias pesqueiras da região.
Há notícias de sua existência desde 1903, quando foi publicada no jornal A República a notícia cujo conteúdo repudiava com veemência a prática de um “samba” que acontecia na casa de um sujeito conhecido como Paulo Africano, no município de Tibau do Sul.
O Coco de Zambê correu o risco de desaparecer, mesmo tendo se constituído durante décadas como importante elemento identitário de comunidades quilombolas da região. Seu ressurgimento ocorreu no final do século XX a partir da iniciativa de pessoas determinadas, como Mestre Geraldo Cosme.
Dois tambores estão presentes na maioria dos grupos que praticam o Coco de Zambê: o próprio zambê, também conhecido como pau-furado ou oco de pau, que é maior e mais grave, e o Chama, ambos construídos artesanalmente com troncos de árvores da região.
A música caracteriza-se como um canto responsorial, puxado pelo mestre e respondido pelo coro de vozes, e a dança acontece numa roda que mantém ao centro os tocadores. É praticado apenas por homens.
O grupo é formado por: Didi (Djalma Cosme da Silva), Uzinho (Severino de Barros), Tonho (Antonio Cosme de Barros), Mestre Mião (Damião Cosme de Barros), Zé Cosme (José Cosme Neto), Kéké (Ckebesson da Silva), Pepé (Ederlan da Silva), Beto (José Humberto Filho de Oliveira).
DANÇA DELAS
O Samba de Pareia, do município de Laranjeiras, a 23 km de Aracaju, é uma comunidade quilombola, que tenta manter as tradições herdadas de seus antepassados, como a Dança de São Gonçalo e o Samba de Pareia. Por aqui se apresentam às 20h, na quinta-feira (9), no Teatro Sesc Centro, na sexta no Sesc Anápolis e, no domingo (12), no- Sesc Jataí.
O Samba de Pareia, segundo relatos, surgiu há mais de 300 anos entre os escravos que trabalhavam nos canaviais como uma forma de ocupar o pouco tempo de descanso que tinham ao longo de sua jornada diária. O nome viria do fato de ser dançado em pares.
Hoje, na Mussuca, ele é dançado por mulheres, contando com a presença de homens apenas como tocadores que sustentam o ritmo com dois tambores médio-graves e uma porca (cuíca). Completa a instrumentação um ganzá, tocado por uma das mulheres, e o principal elemento rítmico, a pisada dos tamancos das dançadeiras.
Uma peculiaridade dessa manifestação cultural é o fato de estar relacionada a um ritual de nascimento que vem dos antepassados, no qual o grupo se apresenta para manifestar a alegria pela chegada de mais uma criança no povoado, dando-lhe as boas-vindas no seu décimo quinto dia de vida.
O grupo é liderado por uma mestra, Dona Nadir, o que é raro nos grupos de tradição, em que as funções de liderança normalmente cabem aos homens, e conta também com a participação de Mangueira (Acrisio dos Santos), Carmélia dos Santos, Elenilde da Silva, Maria Edenia dos Santos, Maria Ednilde dos Santos, Cecé (Maria José dos Santos), Maria Lucia Santos, Maria Luiza dos Santos, Maria José dos Santos e Normália dos Santos.
Por fim, o Coco de Tebei se apresenta na sexta-feira (10), no Teatro Sesc Centro. No sábado (11), no Sesc Anápolis e na segunda-feira (13), no Sesc Jataí. O som desta banda é praticado por um grupo de agricultores e tecelões da comunidade Olho D’Agua do Bruno, na cidade de Tacaratu, em Pernambuco, localizada na região do Médio São Francisco, próximo à divisa com Bahia e Alagoas.
O Coco de Tebei é cantado por mulheres e dançado por casais. Não utiliza instrumentos, e a base rítmica é marcada pela pisada dos dançadores. A sonoridade que resulta do canto somado ao ritmo da pisada nos remete, de certa forma, a uma ritualística indígena, que se caracteriza pelo contraste de timbre entre o metal das vozes femininas e o som seco da pisada no chão, além da ausência de nuances em cada um dos elementos.
O grupo é formado pelas cantadeiras Maria do Carmo de Jesus, Nivalda Rosa Gomes do Nascimento e Maria Nazaré Nunes dos Santos e pelos dançadores José Lira dos Santos e Janaína Maria dos Santos, Edna Nivalda do Nascimento Silva e Agnaldo José da Silva, Genivaldo Lira dos Santos e Edilane dos Santos.
O QUE É O COCO
Cocos são práticas coletivas que envolvem, na maioria das vezes, grupos mistos, formados por homens e mulheres, que são encontrados em áreas urbanas e na zona rural, inclusive em aldeias indígenas e comunidades quilombolas, onde a dança e a música, integradas, estão muito presentes. Cantadores e dançadores, como são chamados, são acompanhados por instrumentos de percussão ou pela batida dos pés, que marcam o andamento, simulando a pisada que prepara o chão batido, atividade muito praticada nos mutirões a qual se atribui essa característica da dança.
SEGUE, ABAIXO, A SINOPSE COMPLETA E O HISTÓRICO DE CADA ATRAÇÃO:
COCO DE IGUAPE (CE)
Apresentações às 20h
7/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro
8/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis
10/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí
COCO DE ZAMBÊ (RN)
Apresentações às 20h
8/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro
9/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis
11/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí
SAMBA DE PAREIA DA MUSSUCA (SE)
Apresentações às 20h
9/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro
10/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis
12/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí
COCO DE TEBEI (PE)
Apresentações às 20h
10/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro
11/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis
13/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí
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