Estudo diz que população gastou reserva financeira
Diário da Manhã
Publicado em 24 de julho de 2018 às 01:29 | Atualizado há 6 anosEm pesquisa divulgada na manhã de ontem, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou que 13% da população brasileira gastou suas reservas financeiras nos últimos meses. No estudo, os especialistas afirmaram que os dados relativos ao mercado de trabalho frustraram os analistas. A expectativa era de que a economia brasileira crescesse mais neste ano em comparação com 2017, porém não houve a geração de emprego esperada e o orçamento das famílias continua chegando ao final do mês no vermelho. Por outro lado, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) disse que as pessoas com folga em suas contas preferem segurar dinheiro ao invés de gastá-lo.
Apesar da parcela dos brasileiros que usam reservas financeiras ter sentido o impacto da crise, especialmente quando a recessão esteve mais acentuada, os últimos meses têm mostrado uma queda maior nesse fator em relação ao mesmo período de 2017. No primeiro trimestre de 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmou que a taxa de desemprego ficou em 12,7% e foi responsável por atingir 132 milhões de pessoas. Em junho, por sua vez, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que levavam em conta apenas os empregos com carteira assinada, contabilizaram a destruição de 661 vagas.
O economista Aurélio Trancoso explicou ao Diário da Manhã que a FGV realiza esse levantamento há tempos, e os números são mais preocupantes ao ser comparados com os anos anteriores. De acordo com ele, a tendência no momento é que os brasileiros se endividem cada vez mais por meio de cartão de crédito ou crediário de lojas. “Por isso, a solução que vejo é fazer com que se gaste menos do que se ganha”, afirma ele, pontuando a necessidade de controlar o hábito de consumista que está presente na sociedade. “Neste contexto, é preciso evitar fazer refeições fora de casa e sair com frequência”, frisa.
Coordenadora da pesquisa, a economista do Ibre Viviane Seda informou que havia esperança de melhora no mercado de trabalho, mas ela destacou o impacto direto da recessão nas contas domésticos. Ela diz que a recuperação não veio e parte desses consumidores usou a poupança que tinha para pagar as contas.
O uso de reservas financeiras para custear o pagamento dos débitos acabou levando parte dos brasileiros, sobretudo os mais pobres, para o caminho do endividamento. No mês passado, o Ibre apontou que 9,8% dos consumidores se declararam endividados.
Assim, a análise detalhada dos números levantados mostra que os mais pobres possuem mais dívida. Já os mais ricos são os que mais queimam suas poupanças, porque contam com folga no orçamento. Para efeito de comparação, na faixa de renda dos que ganham até R$ 2,1 mil, 8,2% usaram sua reservas para despesas e 15,1% se declararam com saldo devedor. Enquanto isso, entre os que possuem renda mensal acima de R$ 9,6 mil, 16,1% usaram as economias próprias, mas só 3,7% tinham débitos.
DIFICULDADES
O frentista de posto Andrey Tavares, 41, está sem trabalhar há três meses, quando foi demitido de seu último emprego. De lá para cá, já tentou procurar serviço em vários locais, mas raramente teve sucesso. “Está complicado até arranjar bicos. Demora muito para aparecer trabalho e, quando sou chamado para alguma entrevista de emprego, cobram bastante experiência. Isso quando não temos de bater altas metas”, diz. Pai de duas filhas, as contas de sua residência não arcadas pela esposa. “Sorte que minha mãe me ajuda financeiramente”.
Já o vendedor Marco Polo, 44, viveu problemas em seus empregos. Natural do Paraná, na região sul do Brasil, ele mora na capital goianiense desde 2010. Durante esse tempo, passou por vários trabalhos, em diversos ramos. Conviveu com dificuldade para custear as contas domésticos, já que é o único que trabalha na família. “Atualmente, exigem que você tenha bastante capacidade e experiência, mas não lhe remuneram de forma justa”, relata ele, que está desempregado há dois meses. “Mesmo se você ter uma graduação em seu currículo, a coisa está complicada bastante nesse momento de recessão econômica”, finaliza.
INADIMPLÊNCIA
Em levantamento, o Serviço de Proteção ao Consumidor (SPC) mostrou que a piora no mercado de trabalho está diretamente ligada à dificuldade em conseguir um emprego. No primeiro semestre deste ano, 45% dos consumidores inadimplentes consultados pela entidade justificaram o atraso no pagamento das contas por falta de trabalho. Há dois anos, entretanto, essa quantia era de 32%. Já dados da Serasa Experian dizem que 60,4 milhões de brasileiros estavam com o nome “sujo” por inadimplência em maio. No mês anterior, era 61,2 milhões de pessoas nessa situação.
Está complicado até arranjar bicos. Demora muito para aparecer trabalho e, quando sou chamado para alguma entrevista de emprego, cobram bastante experiência. Isso quando não temos de bater altas metas”
Andrey Tavares, desempregado
Por isso, a solução que vejo é fazer com que se gaste menos do que se ganha”
Aurélio Trancoso, economista
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