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Com percepções da realidade, Flores Para Algernon vai além da ficção científica

Redação

Publicado em 8 de julho de 2018 às 01:26 | Atualizado há 7 anos

Entre os temas mais recorrentes da fic­ção científica, a per­cepção de múltiplas reali­dades já abriu margem para narrativas clássicas e ques­tões tão profundas quanto um buraco negro. Afinal, o mundo que sempre per­cebemos realmente existe? Mas para além dos portais interdimensionais, o au­tor norte-americano Da­niel Keyes manteve os pés no chão dentro do univer­so sci-fi e apresentou uma história que explora este conceito e nos impacta pela delicadeza. Publicado origi­nalmente em 1966 e agora lançado pela Editora Ale­ph, o livro Flores para Alger­non foi o grande expoente da carreira do escritor, ga­nhador do prêmio Nebu­la e inspiração para o filme Os Dois Mundos de Charly (1968), que garantiu a Cliff Robertson o Oscar de Melhor Ator. Com mais de 5 milhões de exem­plares vendidos e referência den­tro das escolas dos Estados Uni­dos, a obra surgiu nas palavras de um homem de 32 anos e 68 de QI: Charlie Gordon.

Com excesso de erros no início do romance, os relatos de Char­lie revelam sua condição limitada, consequência de uma grave defi­ciência intelectual. Isso ao menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às gozações dos colegas de trabalho e alheio às tragédias familiares. Po­rém, ao participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele não apenas se torna mais inteligente que os próprios médi­cos que o operaram, mas fica cons­ciente, também, de uma nova reali­dade: ácida, crua e problemática. Se o conhecimento é uma benção, Da­niel Keyes constrói um personagem complexo e intrigante, que questio­na essa sorte e reflete sobre suas re­lações sociais e a própria existência, chegando a reconhecer na realida­de uma certa maldição. E tudo isso ao lado de Algernon, seu rato de es­timação e a primeira cobaia bem­-sucedida no processo cirúrgico.

Originalmente um conto homô­nimo publicado em 1959 (ganha­dor do prêmio Hugo), Flores para Algernon explora a ficção científi­ca com suas operações pioneiras e superinteligência, mas trata de rea­lidades simultâneas sem ao menos viajar para o espaço desconhecido. Em resumo, Daniel Keyes entra na men­te humana e apre­senta uma realidade que se torna paralela sob a perspectiva de um homem. Algo a se esperar de um au­tor influenciado pe­los roteiros de qua­drinhos que escrevia para Stan Lee e inspi­rado por artigos aca­dêmicos e anotações de Aristóteles.

Perturbador e profundo, Flores para Algernon é tão con­temporâneo quan­to na época de sua primeira publica­ção, debatendo vi­sões de mundo, re­lações interpessoais e, claro, a percepção sobre nós mesmos. Assim, ao explorar as realidades de Char­lie Gordon, também é a chance de se per­guntar: afinal, o mundo que sem­pre percebemos realmente existe?

SOBRE O AUTOR

Nascido no Brooklyn, em Nova York, Daniel Keyes foi graduado e mestre pela Brooklyn College. Au­tor de oito livros, trabalhou como comerciante marinho, editor, pro­fessor de ensino médio e professor universitário na Universidade de Ohio, onde foi condecorado com o título de Professor Emérito em 2000. Ganhou os prêmios Hugo e Nebu­la por seus trabalhos como escritor e, em 2000, foi escolhido como Au­tor Emérito pela Science Fiction and Fantasy Writers of America (Escrito­res de Ficção Científica e Fantasia da América). Faleceu em 2014.

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