Hip hop em mutação
Diário da Manhã
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 01:20 | Atualizado há 1 semanaEstamos nos aproximando do final da década, e o hip hop continua sendo um dos gêneros musicais mais influentes do século. No cenário internacional, o ano de 2018 trouxe lançamentos inéditos de artistas já consagrados, como Kanye West (que produziu uma série de cinco discos chamada Wyoming Sessions), e revelações, como Denzel Curry (antes conhecido como um rapper de SoundCloud – plataforma popular de compartilhamento de músicas) e Devon Hendryx, com seu projeto JPEGMAFIA. As mutações estéticas são evidentes através de todos estes artistas e estão presentes nas batidas, letras e performances. Subgêneros como o glitch e o trap, derivados da música eletrônica, ganham novas roupagens, e o hip hop experimental apresenta uma vasta safra.
A saga Wyoming Sessions, idealizada por Kanye West (que desde 2016 vivia vários conflitos pessoais devido à sua saúde mental deteriorada) começou a ser revelada em maio, e é composta por cinco álbuns, todos produzidos por West. Em sequência, foram lançados os discos Daytona (do rapper Pusha-T), Ye (do próprio Kanye West – disco no qual ele sugere ter transtorno bipolar, associando a condição mental a um superpoder), Kids See Ghosts (uma dupla criada por West e Kid Cudi), Nasir (do rapper Nas, responsável por um dos maiores clássicos do rap de todos os tempos: Illmatic, de 1994) e K.T.S.E. (em parceria com Teyana Taylor). Daytona e Kids See Ghosts foram imediatamente aclamados pela crítica, enquanto os outros receberam avaliações mistas.
De acordo com Clayton Purdon, do jornal norte americano The AV Club, Daytona é “uma obra prima do minimalismo”, enquanto Ben Beaumont-Thomas, do britânico The Guardian, observa cada faixa como “uma lição de elocução”. Quanto ao projeto Kids See Ghosts, Chuck Arnold do veículo Entertainment Weekly repara na condução psicológica da música, “esperança, cura e assombro, diante da escuridão”. Jordan Bassett do NME avalia a atmosfera da obra: “soa adequadamente fantasmagórico e sobrenatural – um breve vislumbre de outro mundo”.
Considerado a surpresa do ano, o rapper Denzel Curry, autor do álbum TA13OO, afirma ter passado por um processo de amadurecimento meditativo para alcançar seus objetivos. “Tive que aprender a usar menos meu lado abrasivo, e a usar mais meu lado suave e calmo. Com isso aprendi como ser o que sou”. Ele refere-se ainda a seu último álbum, Imperial, que se comportava de maneira mais extrema. “Eu estava ardente, agressivo, malvado e frio, devido ao que eu estava passando naquele período”. Outra novidade do ano é o projeto JPEGMAFIA, de Devon Hendryx. O álbum Veteran, lançado originalmente em fita cassete, comporta-se de maneira abstrata, agressiva e política. O rapper declarou recentemente que produz “música para ser odiada”.
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