Entretenimento

Homem chora

Diário da Manhã

Publicado em 18 de outubro de 2018 às 22:01 | Atualizado há 6 anos

Amigo, por obséquio, sente­-se nesta bodega sentimental – ou melhor, leia-a.

Se a vida dói, bebe-se cowboy!

Bem, vamos lá, deixa eu molhar a palavra antes, é sexta-feira, dia de ins­titucionalizar o decreto do final de se­mana, conforme me diz um amigo, profissional na arte de enxugar copos.

Sou um anjo embriagado, por­nográfico – devo-te mais uma, Nel­son, eu sei – e amoroso numa frase de crônica cujo assunto é relegado a segundo plano neste nobríssimo veí­culo que escrevo semanalmente (leia isso sem ironia, por favor).

Normal, caro escriba, é normal.

Perdoe-me por me traíres, sopra­-metitioNelsonRodrigues, maisuma vez, no cocuruto literário.

Homem que é homem não chora, seu cronista. Aliás, a gente ouve essa ladainha chata desde que nos separa­mos do aconchego do útero de nos­sa mãe, e caímos na vida.

Homem que é homem chora, é claro, embora, quasesempre, sejapor causa do gol que Alexandre Pato per­deu embaixo da trave contra o Boca Juniors, nas oitavas-de-final da Liber­tadores de 2013…. Inacreditável, lem­bra, corintiano?

Homem que é homem chora. Ponto. Até o Paulo César Pereio cho­ra, porra!

Eu já chorei, confesso, diante de uma mulher, de uma amiga e dian­te do título da Libertadores do Timão.

E, meu caro, o choro em frente à moça desejada não podia ser mais revigorador, porém ridículo. No mo­mento em que as lágrimas escorriam de meus olhos, ela aconchegou-me a cabeça em seu peito, ficamos abraços e dormíamos, de conchinha. Até hoje ela me olha com cara de dó. Fazer o quê. Compreendo-a perfeitamente.

Pausa para ouvir Trato é trato, de Chrystian e Ralf. Trem bão demais da conta… “Sou bastante homem pra chorar/ Pode apostar que se você partir/ Eu vou viver só pra te dar mo­tivos/ Motivos pra voltar pra mim”.

Homem que é homem chora deslocado diante das lágrimas que lhe escorrem pelos ombros, prin­cipalmente quando chora-se por amor. Haja coração!

Infelizmente, homem que é ho­mem sempre foi obrigado a congelar suas lágrimas. E assim a vida segue, o centroavante perde o gol, o amor acaba e esta crônica vagabunda e apaixonada é redigida com o cora­ção dolorido e pisado por amor, cuja moça, que todos veem com olhos ar­regalados, dilacerou-o.

O choro contido, guardado, apertado dentro do peito, enclausu­rado em algemas arbitrárias do psi­quismo é o grande problema destes tempos. Inclusive, foi o maior pro­blema da história entre relaciona­mentos. Chore, homem!

Todavia, até o poeta chorou. Vai que é tua, Drummond: “Um dia des­ses, eu separo um tempinho e ponho todos os choros que não tenho tido tempo de chorar em dia”.

Só confio naquele sujeito, naque­le infeliz e desalmado que senta e chora, chora, chora nem que seja por 20 segundos. Aquele maldito choro de morte, da separação, aquele mal­dito choro da ressaca, aquele maldi­to choro que denuncia teu ciúmes ao ver a mulher amada com outro.

Eis mais uma vantagem das mu­lheres sobre nós, homens: o choro espontâneo, a coragem e o deste­mor de fazê-lo, não importa hora, nem lugar, nem cacete nenhum.

Se o choro vem, independente­mente de onde e quando, elas cho­ram e não congelam as lágrimas, como os homens, pobres homens, miseráveis, burros, cretinos.

Pior de tudo, meus amigos, é o homem que não chora nunca, ja­mais, sobre hipótese alguma. Esse, como diz o Nelsão, é um cretino fun­damental, que não consegue perce­ber o óbvio ululante. Evitar o choro faz mal para o coração, e o tipo que o adia não merece respeito.

Transar depois de lágrimas é a melhor coisa que poderia aconte­cer, é o sal da existência que alimen­ta o acorde que sai do violão, a frase que entra na oração, o verso do poe­ta entre tantos outros, a bola que es­tufa as redes na final…

Acabei de presenciar uma linda moça chorando no meio do ponto na Avenida Araguaia. Era tão linda. Mas por que chorava?

A moça não escondia seus soluços de choro, seus olhos inchados. Terá discutido a relação, a velha e boa DR?

Não, é óbvio.

A moça deveria chorar por moti­vos plausíveis, tais como a enfermida­de que acomete o avô, algum trecho do livro em que segurava nas mãos, sei lá.

Homens, minha gente, só cho­ram por causa do troféu do time do coração. O resto…

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