Politica

“Existe ressurreição na política”, afirma Vilmar

Diário da Manhã

Publicado em 12 de outubro de 2018 às 23:32 | Atualizado há 6 anos

O presidente do PSD Goiás, Vilmar Rocha, afirmou, em entrevista à Rádio Bons Ventos FM, que não existe “morte” dentro da política e que os políticos conseguem se renovar para “viver muitas vidas”. Vilmar Rocha foi candidato a suplente do ex-governador Marconi Peril­lo (PSDB), que concorreu ao Se­nado, mas não foi eleito.

“Não acho que seja tão difícil de recuperar, porque tem uma coi­sa na política também que existe muitas vidas, existe a ressureição. Às vezes uma pessoa perde uma eleição acachapante e ela ressur­ge. Não existe morto em política. Os exemplos estão ali e são muitos. A literatura política está cheia de exemplos assim. Agora, outra coi­sa: quem sabe lidar com a derrota tem um valor para as pessoas. […] É preciso isso para ver como a pes­soa reage politicamente, emocio­nalmente na derrota. Isso faz par­te. Ninguém tem uma vida política completa se só tem vitórias”, disse.

O ex-deputado federal se re­fere à hecatombe da base aliada de Goiás nas eleições deste ano: derrota em todos os níveis – go­vernador, dois senadores e per­da de maiorias na Câmara Fede­ral e Assembleia Legislativa. “O grande problema é quando um grupo vai ficando muito tempo no poder, ele vai ficando dentro de uma bolha de interesses legí­timos ou não. Dentro de uma bo­lha, e perde o contato com a socie­dade, o contato com as pessoas.”

Vilmar Rocha tem uma lon­geva carreira política: foi depu­tado estadual por dois mandatos e deputado federal por cinco ve­zes, além de secretário de Estado e dirigente partidário. É professor de Direito Constitucional da UFG.

 

 

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

 

Qual é a sua avaliação até o momento, está tranquilo?

Eu brinco que, na eleição pas­sada, na noite que terminou a apu­ração e eu não fui eleito depois de uma longa luta e uma longa bata­lha, eu dormi igual a um bebê, por­que eu estava bem comigo mesmo. Esse é o problema: não fazer algo que mexe com seu coração, com a sua alma. A mesma coisa ocorre agora, eu me posicionei dizendo o que acha que deveria ser feito com a nossa base, vocês todos sabem, eu não vou repetir nem vou falar aque­le negócio: “Ah, eu avisei”. Não vou entrar nessa. Eu não quero ter ra­zão, eu quero ser feliz. Não ouviram, né? E gritei alto. Mas nesta visão, eu me posicionei, falei o que pensava, comsinceridade, comlealdade, com verdade e transparência. Com re­lação ao Marconi, eu pensei mui­to. Eu poderia ter sido candidato em outras chapas, eu tinha espa­ço. Mas na última hora eu resol­vi aceitar ser suplente do Marconi por duas razões. A primeira é que sempre achei que ele era o melhor nome para representar Goiás no cenário nacional. Eu acho isso, um senador tem que conhecer o Esta­do, as pessoas, tem que ver as gran­des demandas. Estou convencido disso. Número dois: é por gratidão. Ele foi correto na última eleição co­migo, me apoiou, por companhei­rismo, por amizade. Como agora o cara está em dificuldade e…? Es­tou ao lado, estou junto. É aquela velha história, na alegria e na tris­teza. Por isso que estou bem, estou em paz, porque fiz aquilo que meu coração mandava.

Qual a análise até agora?

Eu já tenho uma avaliação. Nesta eleição, a opção das pessoas foi pelo não, não pelo sim. As pes­soas não votaram assim: “Vou votar no candidato X porque ele vai ser um bom governante”. Não, a pessoa diz: “Estou votando no candidato X dizendo não a outra situação”. Por exemplo, a população votou não contra a classe política, ela está dizendo não a nenhum des­ses candidatos que estão aí. Tem candidato que não tem jeito de fa­lar sim, determinados candidatos que estiveram postos aí. A popu­lação não disse sim para eles. A população disse não. A popula­ção quer mudança, quer ruptura.

Dói ver que não te ouviram?

O grande problema é quando um grupo vai ficando muito tem­po no poder, ele vai ficando dentro de uma bolha de interesses legíti­mos ou não. Dentro de uma bolha, e perde o contato com a sociedade, o contato com as pessoas. Vamos até usar uma expressão mais român­tica: ter contato com as ruas, com as vozes rouca das ruas. Isso é um perigo para uma pessoa. Então, a gente tem que, todo dia, ao sair de casa, passar Bombril na pele para sentir, para perceber e muitas vezes quem vai ficando muito tempo no poder vai perdendo esse contato. É aquela velha história: o rei está nu e ninguém via que o rei estava nu, teve que alguém dizer: Olha, o rei está nu. Então, isso é uma verdade que quaisquer grupo, quaisquer pessoas têm que ter muito cuida­do, não perder o chão da realida­de, não tirar o pé do chão, sair des­sas bolhas que se criam às vezes em torno dos governantes.

Uma derrota política não seria difícil de recuperar?

Derrota política sim, derrota eleitoral sim, mas não acho que seja tão difícil de recuperar, porque tem uma coisa na política também que existe muitas vidas, existe a ressu­reição. Às vezes uma pessoa perde uma eleição acachapante e ela res­surge. Não existe morto em política. Os exemplos estão ali e são muitos. A literatura política está cheia de exemplos assim. Agora, outra coi­sa: quem sabe lidar com a derrota tem um valor para as pessoas. Há uma história de que foram entre­vistar um velho general, que tinha vencido todas as batalhas. Chega­ram e disseram: O senhor é um caso único, ganhou todas as batalhas e estamos aqui para te ouvir. Ele dis­se: “Muito bem, só que eu não sou um homem completo, não sou o me­lhor”. Disseram: por que? Ele disse: “Não sou completo porque nunca perdi. Eu não sei como eu reagiria na derrota, então não sou comple­to, tem gente melhor, vão procurar alguém que ganhou e que perdeu”. Eu posso dizer que, graças a Deus, eu já ganhei e perdi muitas eleições. Então, é preciso isso para ver como a pessoa reage politicamente, emo­cionalmente na derrota. Isso faz parte. Ninguém tem uma vida po­lítica completa se só tem vitórias.

Iris Rezende também diz que a derrota em 1998 o fortaleceu…

Em 2006 eu perdi uma eleição paradeputadofederalsendoumdos mais votados do pleito. À época eu tive 70 mil votos, um dos mais vo­tados e perdi por falta de legenda. Fiquei quatro anos sem mandato, sem partido, sem participar nem do governo estadual nem do governo federal. Voltei para a Universida­de, fui dar as minhas aulas. Escre­vi meu livro, que preciso atualizar, chamado “O Fascínio do Neopopu­lismo”. Estamos vivendo no Brasil, de novo, uma fase populista. Olha, amigos, o Bolsonaro vai ganhar, eu acredito que ele caminha para ganhar a eleição, mas ele tem um perfil de um candidato populista. Nós vamos ter enormes desafios nos próximos anos caso isso aconteça. Pode até dar certo, mas o perfil é de um candidato populista. Não estou fazendo juízo de valor, estou fazen­do uma análise, uma constatação. Também não acho que a opção do PT seja boa para o Brasil, negati­vo. Não se trata disso. Não estou fazendo juízo de valor, mas nós te­remos muitos desafios. Outra coi­sa que às vezes aquela história de você, na política, comparando jo­gar a criança com a água: o que es­tou dizendo com isso? É o seguinte: o que está em crise no Brasil não é a política, é a má política. O dia­bo é você jogar fora junto a má e a boa política. É você querer substi­tuir os políticos atuais, todos eles, por piores. Isso aconteceu na Itália.

Com Berlusconi?

Com Berlusconi. É aquela ve­lha história: olha, não saber dis­tinguir a boa da má política, por­que existe a boa política, sim. Isso é um perigo. Nesse momento de você querer substituir todos que estão aí e colocar gente pior.

Durante a campanha, vimos pessoas que nunca se preocuparam com política e agora recomendam um candidato como o salvador da pátria. Como o senhor analisa isso?

As pessoas estão se comportan­do, nesses casos, não como eleitores, mas como torcedores. Há uma di­ferença entre eleitor e torcedor, de torcida organizada. É o seguinte: o torcedor não tem isenção para analisar o time. Ele é torcedor, ele está ao lado do time incondicional­mente. Já o eleitor, tem que selecio­nar e analisar. Vou votar por isso, isso e isso, não vou votar em fulano por isso, isso e isso. Isso é um eleitor, é fazer uma escolha. Se você já é tor­cedor, não você não tem escolha.

Seria um efeito manada?

Um pouco isso. Nós estamos vendo isso no Brasil. Isso tem que ser colocado para a gente analisar. Tem outra coisa também: não po­demosteraque­la visão elitista de que o povo não sabe. Isso é visão elitista. Temgentequeé assim: quando é eleito, o povo está certo, quando ele perde, o povo não sabe. Negativo. Pode não ter tan­ta informação, mas elas têm um chipezinho interno. Por exemplo, as pessoas querem uma ruptura, querem uma mudança. Estão vo­tando em candidatos aí que têm o símbolo da mudança e que é bem provável que não serão a mudan­ça. Mas o que a população quer é isso, a população quer mudar, can­sou disso que está aí, que não está bem e quer mudar. E aquele que simbolizar essa mudança, vai. E às vezes não é mudança, mas eles simbolizam mudança.

Essa análise é para nível nacional e estadual?

Também. Essa é uma análise do fato político contemporâneo, da realidade política contemporâ­nea, vale tanto para o plano nacio­nal quanto para o plano estadual.

O perfil do eleitor a nível nacional aponta semelhança em Goiás?

É claro que está apontando aqui, é claríssimo, é no Brasil todo.

Quando o senhor disse que a base precisava de novas propostas, novo diálogo, qual era o recado efetivamente?

Eu disse, à época, com a clare­za do sol, que nós tínhamos que ter um perfil do candidato a governa­dor, que é quem lidera a política no Estado, diferente, da sociedade, al­guémquerepresentasseautonomia, que tivesse personalidade política, digamos. Outra coisa, que também serve para campo nacional e esta­dual. Não podemos eleger para ne­nhum cargo relevante postes. Como você vai eleger para a Presidência da República ou para o governo do Estado um poste? Tem que ser al­guém que tenha qualificação, expe­riência, história, formação, porque não é fácil governar, tem momen­tos difíceis, decisões difíceis. E, ou­tra coisa, as decisões normalmente são solitárias. E essa pessoa tem que estar qualificada para to­mar essa decisão. Um poste não está qualificado.

Tem postes aqui em Goiás?

Estou falando em tese, estou tranquilo. Eu estou analisando em tese coi­sas reais. Não pode ter poste. Quem exerce umcargorelevan­te, não pode. Olha onde nós fomos cair em ele­ger Dilma Rousseff como presiden­te do Brasil, olha o que deu? Porque era um poste. Agora, de novo, Fer­nando Haddad, é um bom moço, professor, mas é um poste, não está qualificado para ser presidente do Brasil. É o que eu penso. Não pode. Então, é isso. Mas isso tudo serve como ensinamento, amadureci­mento, é um estágio em que a po­lítica no Brasil está passando, ou­tros países já passaram por isso. O Brasil não vai acabar, vai ficar aí, terá mais ou menos dificuldades, mas não vai acabar, vai continuar. E cabe a nós todos que temos res­ponsabilidade de debate para ver o que é melhor para nosso Estado.

As pessoas que viram seu discurso de ruptura não teriam ficado frustradas quando o senhor aceitou ser suplente de Marconi Perillo?

Essa foi uma decisão difícil que eu tomei. Mas eu poderia ter sido candidato a senador em ou­tra chapa. Para isso, eu teria que fazer duas coisas: fazer um estupro político do partido que eu presido e eu não vou fazer estupro político em partido nenhum. A maioria do partido queria continuar na base, por razões A, B ou C. E eu teria que ficar na oposição a muitos com­panheiros e amigos, inclusive que me ajudaram, da atual base po­lítica. Isso seria muito desconfor­tável para mim. Por uma conve­niência política minha circunstancial, eu fi­car lá contra essa base política da qual eu sempre participei. En­tão, diantedisso, eu resolvi evi­dentemente dar um pas­so atrás. Eu nuncaqueria ser suplente assim, não. Meu projeto não era de ser suplente, era de ser candi­dato ao Senado, mas em função dessas realidades, eu resolvi dar um passa atrás, aceitar a suplên­cia. Eu sabia que seria difícil, mas estaria junto também com meus companheiros. Eu fiz essa opção pessoal. Talvez politicamente pode não ter sido a melhor opção, mas pessoalmente, por meus valores, meus conceitos, meus princípios, eu preferi isso e estou feliz com isso, estou satisfeito com isso. Não te­nho nenhum arrependimento de ter feito essa opção, ou para ga­nhar ou para perder. A vida é isso mesmo, você ganha, perde e vida que segue. O que está em jogo nes­sa eleição presidencial, mais do que crise econômica, desempre­go, são os valores, o que é uma coisa até bacana. Os valores da família, da democracia, da or­dem. Então, popularidade vai e volta, ela depende da circunstân­cias do momento, das composi­ções políticas. Você jamais pode perder é credibilidade, confian­ça. Se você perder isso, acabou.

Houve interferências externas nesta eleição que possam mudar o resultado final, como a Operação da Polícia Federal?

Issopodeteratrapalhado, agra­vado um pouco, mas não é a causa central. Ela pode ter atrapalhado, foi em um momento eleitoral, in­terfere no resultado do pleito, claro, mas não é a causa central, não foi a razão cen­tral. Já existia um quadro de rea­lidade que ela pode ter agra­vado um pou­co. Ela pode ser sido aque­lagotad’água.

 

 

Eu não quero ter razão, eu quero ser feliz. Não ouviram, né? E gritei alto (sobre a fadiga do Tempo Novo). Mas nesta visão, eu me posicionei, falei o que pensava, com sinceridade, com lealdade, com verdade e transparência”
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