A candidata Suelene dos Balduino de Posse
Diário da Manhã
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 23:03 | Atualizado há 6 anosOs Balduino são históricos pioneiros de Posse, atual cidade-polo do leste goiano, na fronteira com a Bahia. Geneticamente (para não dizer tradicionalmente), os Balduino são políticos, reformistas e revolucionários, dedicados às causas públicas, como o foi Dom Tomás Balduino, um dos bispos mais destacados da América Latina, ao lado de Dom Helder Câmara.
O legendário coronel José Balduino de Souza, que viveu e reinou em Posse no século XIX, foi eleito 2º vice-presidente do estado de Goiás, de 1905 a 1909 (na gestão de Miguel da Rocha Lima), de quem a professora Suelene Balduino (foto), sua famosa tetraneta, é agora candidata a vice-presidente da República na chapa do Cabo Daciolo.
TRAÇOS DE ORIGEM
Em ligeiras informações prestadas pela própria candidata, Suelene Balduino Nascimento “é filha caçula do casal de goianos, José Alves do Nascimento (de Formosa) e Suely Balduino (de Posse). Segundo Suelene, seus pais são os grandes amores de sua vida. Com o exemplo dos pais aprendeu valores e princípios, tais como fé, caridade, determinação, responsabilidade, integridade e amor ao próximo”. Outra referência histórica que figura na memória existencial de Suelene, é a do médico Raul Balduino de Souza, seu tio-avô, por cujas mãos ela nasceu (eis que doutor Raul fora também vereador em Posse e mais tarde prefeito municipal de Anápolis), o qual ao agasalhar no leito a ainda anônima criancinha, teria exclamado: “Mais uma bela lutadora da saga dos Balduino!”.
Quem quiser saber mais sobre os notórios Balduino de Posse, de suas atividades na política, no campo jurídico, nas letras e nas artes (destaque para o poeta José Décio Filho e o compositor Álvaro Balduino, dito o “Pixinguinha” goiano), leia de Emílio Vieira, as obras “A saga da Posse & álbum das famílias” (Cegraf/UFG, Goiânia, 2005) e “Os poderes da Posse” (Kelps, Goiânia, 2011). Suelene Balduino, ainda jovem iniciou suas atividades eclesiásticas na Igreja Batista, e em paralelo, graduou-se em Pedagogia na UNICEUB. Em 2013 graduou-se bacharel em Direito, pelo IESB. Tem um perfil de determinação para promover mudanças onde acredita que elas sejam necessárias, e assim foi incentivada a aceitar o desafio desta candidatura, “por acreditar na verdade de que o Brasil ainda tem jeito e por acreditar, como educadora, no poder transformador da Educação e de que o amor sempre vence”.
DA TRADIÇÃO POLÍTICA
Não houve tempo hábil para este escriba fazer a desejada entrevista com a nobre candidata, que honra a memória histórica do legendário Coronel José Balduino de Souza, um dos ícones do poder da região do nordeste goiano. O coronel em tela, desde 1886 exercia o comando superior do 4º corpo de cavalaria junto com o 14° batalhão de serviço ativo da Guarda Nacional, instalados em Posse para prover a segurança das fronteiras Goiás-Bahia, conforme noticiado no “Almanach da Província de Goyaz”, de Costa Brandão, em 1886. Pode-se dizer que a elevação de Posse a município ainda no período imperial, não se deu apenas por sua importância como localização fronteiriça, mas graças ao esforço de homens valorosos aí radicados (a exemplo do coronel Balduino), que se tornaram os primeiros agentes locais da administração pública, bem como no âmbito regional e estadual.
O coronel José Balduino está também à base da primeira geração de intelectuais goianos ligados ao poder público. Era pai do deputado constituinte em 1891, Gustavo Balduino de Souza, que assinou a primeira Constituição do estado de Goiás. Era avô de José Balduino de Souza Décio, deputado estadual de 1925 a 1928. Bisavô da deputada estadual Almerinda Magalhães Arantes, sempre eleita e reeleita desde 1955 e por três legislaturas até 1967. Destaque também para o notório deputado Gustavo Balduino Santa Cruz (legislaturas de 1963 a 1971), tendo sido vice-presidente da Assembleia Legislativa de Goiás. Razão assiste à professora Suelene para ombrear candidatura à vice-presidente da república.
IDEIAS-CHAVES
Em linhas gerais, reportamos algumas ideias-chaves extraídas de trechos de entrevistas já concedidas pela candidata, para ilustrar sua posição mental diante da atual problemática social brasileira, tendo, principalmente a mulher como célula mater da família.
1- Papel das mulheres na sua família – “As mulheres de minha família são cidadãs formadoras de opinião. Valorizam a formação, pautada em princípios de ética e respeito à vida. São determinadas, responsáveis, sensíveis às necessidades do outro, mulheres de fé, que desempenham o papel de trazer o equilíbrio ao lar em parceria com os demais membros da família e a maioria está ou esteve inserida no mercado de trabalho”.
2 – O que pensa sobre o feminismo – “No meu ponto de vista incorreu no mesmo erro do machismo, sem entendimento da perspectiva espiritual bíblica, embasada no amor que Jesus demonstrou, onde não há distinção entre homens e mulheres nos seus direitos. Ambos devem ser amados e respeitados como indivíduos. Jesus, embora nascendo e crescendo em uma cultura oriental, onde as mulheres nem eram mencionadas, teve seus diálogos mais profundos com as mulheres. Ele oportunizou uma mudança de paradigma ao lançar as sementes de valorização da mulher na sua perspectiva igualitária de amor a todas as pessoas.
O feminismo se transformou em algo prejudicial, trazendo mais cargas para as mulheres ao roubar, muitas vezes, a essência que faz de cada mulher um ser completo e especial. Combater as injustiças é necessário, mas não devemos usar as armas que reprovamos. Não é a luta pela luta, pelo vale tudo, que agride àqueles que deveriam ser convencidos a serem nossos aliados. Não acredito no erguer de uma bandeira que não tenha como alvo o convencimento daqueles que se opoem. Acredito que, pelo menos, a oportunidade deve ser dada, lutando pela justiça, porém sem a prática da injustiça na conquista do seu espaço relevante na sociedade”.
3 – Sobre o crime do feminicidio – “A nossa proposta contra a violência é ampla. Passa pelo aumento de efetivo nas fronteiras, maior investimento nos profissionais da segurança, equipamentos de tecnologia, inteligência, interligando as forças policiais, retirada de armas ilegais, campanha nacional específica que envolva a parceria com profissionais de várias áreas, escolas, universidades objetivando criar a cultura de que a violência contra a mulher, além de crime é vergonhoso. Punir, na forma da lei, com o rigor necessário todo o tipo de violência a quem quer que seja. Ampliar o atendimento as mulheres às delegacias especializadas não limitando este atendimento apenas à denúncia, mas proporcionando atendimento físico e psicológico, judiciário e protetivo, visando autonomia em relação ao agressor, caso não seja possível o resgate familiar com projeto específico. Além da punição também é preciso oferecer alternativas para tratamento do agressor e da família agredida”.
4 – Sobre violência doméstica contra a mulher – “Se existe briga (no ambiente doméstico) é porque está faltando algo! Se existem conflitos, existem pedidos de socorro. Omissão também é crime. Temos no Brasil vários grupos organizados trabalhando para o fortalecimento da família com profissionais capacitados oferecendo cursos, palestras, experiências vivenciadas que podem auxiliar nos relacionamentos. Muitos, após terem suas famílias restauradas, são capacitados para ajudarem a outros. São iniciativas da sociedade civil que poderão ser ampliadas dentro da legalidade e disponibilizadas para a sociedade. Acredito que o Estado deve cuidar do seu povo em parceria com todos que desejarem colaborar. É urgente fortalecer as famílias, investindo na inteligência emocional, nos valores espirituais e até mesmo na formação profissional dos membros da família. Famílias restauradas e felizes, Nação forte e competitiva”.
5 – Das mulheres com menor remuneração que os homens – “É triste ainda termos que discutir esse tema. É irracional essa discrepância, mas enfrentaremos de frente cada desafio. Incentivos fiscais e prêmios de qualidade dando visibilidade pública às empresas que tratarem as mulheres com a mesma dignidade oferecida aos homens, são alternativas a serem trabalhadas”.
6 – Das mulheres nas relações de trabalho – “Creches são um direito a ser oferecido para as mães com o objetivo de facilitar a sua participação no mercado de trabalho. Sabemos que a demanda é grande. Onde existe vontade política as soluções fluem. As políticas públicas federais devem ser elaboradas e desenvolvidas em parceria com os municípios. O Governo Federal deve contribuir com verbas federais e acompanhar o processo dos gastos dos recursos com a participação dos gestores e da população interessada de cada município, usando as tecnologias disponíveis”.
7 – Posicionamento quanto à prática do aborto – “Sou contra o aborto. Sou a favor da vida tanto para a mãe quanto para o embrião. Sou a favor da prevenção, da orientação, do ensino e da busca de soluções com acolhimento, apoio psicológico, espiritual e financeiro. Se mesmo isso não for suficiente, políticas públicas que venham facilitar o processo de adoção pode ser uma alternativa de solução. Creio no texto bíblico que diz: “Meus ossos não estavam escondidos de Ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os Teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no Teu livro antes de qualquer deles existir. (Salmos 139: 15,16)”.
8 – Sobre o conceito de gênero nas escolas – “Ensinar a respeitar as pessoas nas escolas, faz parte da formação de cidadania dos estudantes, mas não concordo com a promoção da ideologia de gênero nas escolas. A diversidade existe e precisamos tratar a todos com respeito e amor, mas não propiciar confusão nas mentes das crianças”.
9 – Sobre a cota de mulheres na política – “Diante das conquistas das mulheres em vários setores da sociedade, a política também se apresentou, mas deve haver um aumento ainda maior. Atualmente, não temos nem 10% de representatividade de mulheres na política e as mulheres são a maioria dos brasileiros. A cota de 30% foi uma tentativa tímida de diminuir as desigualdades de oportunidades, mas não veio completa. A forma de definir o uso das verbas nos partidos precisa ser alterado por lei. No meu entendimento, não pode continuar nas mãos dos presidentes dos partidos essa autonomia em definir seu uso. Deve sim, haver um investimento na formação política dos candidatos em geral, com ênfase na ética, de forma a servir a Nação e não ser servido pela função ocupada ou pretendida”.
10 – Da luta das mulheres face aos seus objetivos – “Tive a oportunidade de desistir ou prosseguir, como a maioria das brasileiras. Com a força divina decidi prosseguir sempre e reconheço que o sabor das conquistas também foi e continua a ser glorioso. Forjaram em mim um caráter de perseverança, elevaram minha autoestima e fortaleceram a minha identidade em Deus, Aquele que tudo pode e que me conduz em triunfo. Quero como representante das mulheres facilitar o caminho para que não precisem de tanta superação como é imposto ainda hoje para milhares de guerreiras espalhadas pelo Brasil. Chegou a nossa vez, mulheres brasileiras!”
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: evn_advocacia@hotmail.com)
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