Brinde à renovação
Diário da Manhã
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 22:59 | Atualizado há 6 anosSetembro é o mês da primavera que, na cultura dos povos pagãos europeus da Idade Média, celebrava-se o reinício da vida e da fertilidade após o fim do inverno, época de festas e comemorações. Atualmente, o mês foi marcado pela expressão Setembro Amarelo, iniciativa de visibilidade e prevenção ao suicídio, lançada em 2014, estendendo a conscientização do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no dia 10 de setembro, desde 2003.
Outubro se inicia com o fardo de definir o futuro do país, as eleições presidenciais e o destino de nossa economia. E o que isso tem a ver com o aumento ou não das estatísticas de suicídios no Brasil? Tudo. Direta e indiretamente, o rumo que a economia tomar continuará a influenciar, bem ou mal, o núcleo da sociedade: a família.
Hoje no Brasil trabalha-se praticamente cinco meses por ano para se pagar impostos. O trabalhador médio sofre todos os meses para fechar suas contas e honrar compromissos que são, alguns, de obrigação do estado, como Saúde, Educação, Segurança e Transporte Público de qualidade, além de criar ambiente favorável ao desenvolvimento econômico e à prosperidade, melhorando, assim, nossos índices de desenvolvimento humano (IDH).
Empresários e empreendedores sufocam-se com a alta burocracia, juros e impostos elevados e leis trabalhistas que dificultam as empresas crescer e gerar riquezas. O que dizer, então, do assalariado, do pessoal que fica na informalidade ou trabalha em subempregos e, pior, muito pior, os mais de 13 milhões de desempregados que temos no país. Neste cenário não é difícil perceber que o distanciamento de pais e filhos dificulta o desenvolvimento da “linguagem do amor” no seio familiar e a construção de canais de comunicação sólidos entre eles.
A construção da identidade e da autoestima das crianças inicia-se no núcleo familiar e complementa-se no âmbito social. Na esfera social, a escola assume o papel mais importante, mas ambas as instituições são necessárias para o bom desenvolvimento emocional, acadêmico e social, sendo assim, de extrema importância, além da presença, o bem-estar da família dentro de casa e o bem-estar dos mestres nas escolas.
Alguns trabalhos e estudos mostram que o aumento da violência, da barbaridade dos crimes cometidos, do tráfico e do consumo de drogas e entorpecentes está diretamente relacionado à evasão escolar, principalmente na rede pública, por volta dos 11 a 12 anos de idade. Quando o ambiente escolar não é interessante e o que se apresenta não agrega valores nem conhecimento, as crianças rejeitam a escola e, uma vez nas ruas, elas remodelam suas crenças e valores de forma negativa. E muitas das que se perdem nas drogas acabam morrendo por overdose, engrossando as estatísticas de suicídio. Importante frisar que muitas destas crianças não vivenciam violência doméstica e nem vivem em ambientes violentos, fatores predisponentes ao suicídio.
Nas escolas particulares, a criança que não se ajusta ao modelo, ou se encontra em um ambiente de violência e/ou bullying, dificilmente consegue evadi-la. Neste caso, podem surgir sintomas de depressão, como tristeza e desesperança, afastando-se dos colegas e acabando por isolar-se da vida social, dando espaço algumas vezes às drogas. Em outros casos voltando sua atenção ao mundo digital com todos os seus encantos e perigos, muitas vezes disfarçados de jogos e desafios que induzem seus participantes a atentarem contra a própria vida, como foi a Baleia Azul e, mais recentemente, a Mama.
Segundo dados de 2012 da ONU, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos no mundo. 75% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda. No Brasil, segundo a CVV são 32 mortes por dia. Reafirmo que precisamos mudar a visão de educação que vem sendo aplicada. Investir em educação é, sim, além de ser o fator primordial para transformação de qualquer nação subdesenvolvida, um caso de Saúde e de Segurança Pública.
Que venha outubro e traga junto as mudanças tão esperadas, de uma nova estação para reencontrarmos a beleza e a força de um povo alegre e apaixonado por um país que deve estar acima de tudo e com Deus acima de todos.
(Fernando Rassi Nader, médico pediatra, empresário e educador)
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