Um homem chamado vontade
Diário da Manhã
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 03:35 | Atualizado há 6 anosFrase de uma comentarista da Globo News da goiana Cristiane Lobo me impressionou muito: Bolsonaro é o único candidato que tem um exército disposto a lutar por ele.
Estavam em mais uma rodada de comentários da pesquisa Data-Folha de ontem, terça-feira. Todos, jornalistas e diretor do Instituto de Pesquisas, atordoados, meio que em estado de choque com os números apresentados. Como assim, Haddad paralisou e Bolsonaro subiu em todos os segmentos? Como assim, está à frente do candidato do Lula, mesmo depois das manifestações do EleNão, em todas as capitais?
Cristiane Lobo então comentou: este exército trabalha sem pagamento algum. Trabalha de graça, muitas vezes tirando de seu próprio bolso, acrescento. Isto faz toda a diferença. E quem o faz, com grande ou pequeno sacrifício de seu tempo ou de suas finanças, o faz por um motivo essencial e simples: porque acredita que ele pode fazer a diferença.
Pode agir diferente do que os outros têm feito. Cristiane, que não é nem jamais foi Bolsonarista, e em muitos instantes o tratou com certa arrogância ou desprezo, pareceu emocionar-se, coisa incomum e até proibida nos jornalistas, disse que perguntou a uma pessoa do povo, em uma rua de Brasília: “Por que você vai votar nele? “Porque ele disse que vai fazer”, foi a resposta.
Esta a diferença que faz este homem tão xingado, tão vilipendiado ou esnobado por setores ou por quase toda a imprensa, pelo mundo político a que pertence, multiplicar votos e intenções de votos, em nichos da população que lhe eram ou deveriam lhe ser contrários.
Mulheres, de todos os estratos da sociedade, desde os mais humildes, com renda de um salário mínimo, até as das faixas ricas e mais escolarizadas.
Mulheres que da admiração envergonhada que sentiam pelo candidato, passam à admiração assumida e declarada, em coragem cívica de quem toma posse de seu direito de optar e escolher.
Negros, indígenas, quilombolas, homossexuais e LGBTs que resistiram à insidiosa e implacável campanha para colocarem-se em indisposição feroz contra sua pessoa em si, não apenas contra suas idéias políticas.
Então, da certeza que até há poucos dias atrás, de que Bolsonaro poderia até sair à frente no primeiro turno, mas perderia para todos no segundo, a possibilidade aventada por um dos jornalistas, e pelo diretor do Instituto, de que poderia vencer as eleições no dia 7, próximo domingo.
Fernando Gabeira foi o mais lúcido de toda bancada, em descrever o candidato Bolsonaro, e tentar explicar o fenômeno eleitoral em que ele vai se transformando: “Eu o conheci, convivi com ele no parlamento”.
Soube no que ele poderia se tornar, quando o vi conhecer Maria do Rosário e Jean Willis, e não largá-los mais, em refregas diárias, combates que envolveram xingamentos, cusparada, e pretensa ofensa ao dizer que a deputada-mulher não merece ser estuprada.
Tudo cálculo e astúcia de animal político em atividade até quando está dormindo. E Foi como se Gabeira tivesse dito: “Maria do Rosário e Jean Willis são os maiores eleitores do presidenciável Jair Bolsonaro”. Ele sempre soube disto.
“Tudo está na Vontade. Tudo no princípio é vontade. É a fundamentação de tudo e é tudo. É a verdadeira e única substância do corpo.
Ele subsiste primeiro numa vontade, então em duas vontades existe uma terceira. Torna-se então uma auto-afirmação”. (Murilo Nunes Azevedo – Essência da Alquimia).
(Brasigóis Felício, escritor e jornalista. Membro da Academia Goiana de Letras e de outras instituições culturais)
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