Ronaldo Caiado e a Cultura
Diário da Manhã
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 22:46 | Atualizado há 6 anosUma boa medida do que teremos na gestão cultural em um eventual governo Ronaldo Caiado pode ser dada por sua recente declaração de que vai “atualizar e implantar efetivamente a Lei Goyazes, que só existe no papel, para funcionar a favor da área da cultura, que vai nos ajudar a resolver muitos problemas de outras áreas” (Rádio Sagres 730 e Diário da Manhã, 13/09).
Vê-se aí cravado em uma só frase o desconhecimento, a ingenuidade, o utilitarismo cultural e a falta de horizontes.
A lei Goyazes existe há 18 anos. Se Ronaldo, independentemente da ignorância de seus assessores, nunca ouviu falar dos seus chamamentos públicos, sempre muito disputados, e dos projetos apoiados e realizados por meio dela, que já vão na casa dos milhares, ora, é porque, decididamente, ele nunca quis saber do que acontece na cultura em Goiás. Não está nem aí.
Desde seu lançamento, no ano 2000, a Lei Goyazes já financiou milhares de projetos culturais de qualidade e relevância, possibilitou a realização de ideias inovadoras e grandes ações que vieram contemplar todas as regiões do Estado, envolvendo a classe cultural, produtores e artistas, os equipamentos culturais e os mais diversos públicos, de diversas áreas de ação, faixa etária e quadrantes, inclusive no exterior.
Essa declaração do Ronaldo, como a outra que deu na mesma ocasião, dizendo que vai recriar a Secretaria da Cultura, nos coloca com um pé atrás. Pois afinal, se eleito, o Ronaldo vai ter que governar não só para os que o elegeram, mas para todos os cidadãos goianos. No que me incluo.
Exatamente por isso, não cabem declarações que apenas agradam os setores desavisados. O Ronaldo, até agora, mostra desconhecer o setor cultural e, ao falar gratuitamente, demonstra a pouca importância e a desconsideração que pretende dar a ele, como se para contentar artistas e produtores culturais bastasse falar da boca para fora.
O setor cultural goiano hoje responde por centenas de realizações anuais, envolvendo milhares de trabalhadores e profissionais na criação e produção de bens artísticos e dezenas de milhares na circulação, usufruto e consumo direto destes bens.
Somente o Fundo Cultural e a Lei Goyazes, que Ronaldo diz vai “tirar do papel”, são responsáveis por injetar cerca de R$ 50 milhões por ano no setor cultural. Se a atual gestão de cultura foi de uma mesmice só igual à gestão passada (alguém lembra do governador Cidinho?) e encontra-se em atraso nos pagamentos e repasses já estabelecidos, essa é uma outra história, emoldurada por sérios problemas de ineficiência localizada de gestão.
Mas se o governante de 2019 quer dar um tratamento mais digno à cultura, do que ela realmente necessita, é preciso antes de mais nada reconhecer suas conquistas e se pronunciar com propriedade, conhecimento e, sobretudo, com novas ideias e propositividade bem embasada e esclarecida.
O que teremos, isso sim, em um eventual governo Ronaldo Caiado, ao menos por enquanto, é o incremento de uma mansa cultura pastoril e eventos lúdicos para acalmar os bobos da corte. Decididamente, a Pecuária de Goiânia, até então uma festa popular francamente em declínio, promete voltar a ser nosso principal evento anual de cultura. Toc toc toc na madeira.
(Px Silveira, Instituto ArteCidadania, presidente)
]]>