Livraria Leodegária
Redação
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 23:51 | Atualizado há 2 semanasO Mercado Municipal da Cidade de Goiás, construído na gestão do intendente (prefeito) Agenor Alves de Castro, em 1926, foi presenteado em 2016, com uma bela revitalização que preservou sua arquitetura original.
Ele, um dos meus points preferidos na minha amada Vila Boa, ganhou uma nova e muito especial companhia, com a inauguração em 8 de agosto passado da Livraria Leodegária, espaço literário que há muitas décadas não fazia parte da paisagem vilaboense. “A Livraria é uma iniciativa das professoras Ebe Lima Siqueira, Edina Ázara e Goiandira Ortiz, que, depois de mais de 80 anos sem um espaço dessa natureza na Cidade de Goiás, abrem as portas para a cultura, os autores e as trocas sobre livros, arte, música e encontros culturais e acadêmicos. Situada no belo espaço do Mercado Municipal, no seu pavilhão coberto e mais antigo, a proposta da Livraria é aliar o burburinho das pessoas que transitam por ali com a conversa sobre livros, sobre as experiências e práticas de leitura e de arte. Dessa forma, a proposta é intervir no cotidiano da cidade com a ideia de que há uma livraria na cidade, na vida das pessoas, considerando que um espaço dessa natureza só se tem notícia de sua existência na antiga capital na década de 1920, com a Livraria Século XX”.
Nome da livraria presta homenagem a educadora-poeta Leodegária de Jesus, primeira mulher no estado de Goiás a publicar um livro de poesias. Leodegária nasceu em Caldas Novas (GO), no dia 8 de agosto de 1889. Filha dos professores José Antônio de Jesus e Ana Isolina Furtado Lima.
Próxima aos três anos de idade acompanhando mudança familiar passou a residir em Jataí onde seu pai foi professor, ocupou cargos públicos e foi eleito deputado estadual pela região. Residiu, ainda em Jaraguá, e por mais permanência na Cidade de Goiás, onde estudou no Colégio Santana, enquanto o pai exercia o legislativo estadual e o magistério.
Contemporânea de Cora Coralina, apenas 12 dias mais velha que poeta-doceira, na antiga capital goiana, participaram ativamente da lida literária, fundando entre outros feitos, ao lado de outras mulheres, o semanário A Rosa.
Seguindo os passos de magistério do pai, a normalista do Colégio Santana foi professora na Cidade de Goiás, Jataí, Rio Verde e Catalão.
Entretanto, em busca de tratamento para a visão degenerativa do pai, ameaçada pelo glaucoma, Leodegária e a família passou a residir no Triângulo Mineiro, à época referência no tratamento oftalmológico. Ao lado dos seus, residiu em Araguari e Uberlândia exercendo o magistério e de forma intensa a poesia. Com a morte do pai, morou em Rio Claro (SP) e de volta a Minas, em Diamantina e Belo Horizonte. Durante sua vida migratória, fundou escolas e instituiu obras sociais. Na capital Mineira, faleceuem 12 de julho de 1978.
Seu primeiro livro, Corôa de Lyrios, de 1906, além do componente histórico de inaugurar o ato editorial da mulher goiana, tem outro componente importantíssimo, não menos histórico: Leodegária era negra. Corôa de Lyrio escrito quando ela tinha 15, 16 anos de idade, não foi bem recebido pela crítica. Sem dúvida, ela foi extremamente rígida, dotada de arremedos de crueldade com a autora adolescente. Seu segundo e derradeiro livro, Orchideas, de 1928, revela uma poesia esteticamente melhor resolvida, motivadora de leitura. A importância histórica de Leodegária está muito acima do valor conceitual estético de sua obra, ela se dá por ter sido a primeira mulher goiana, sobretudo negra a quebrar o machismo editorial em Goiás.
De volta à Livraria, lá são encontradas fartamente obras da literatura brasileira, em especial a feita em Goiás, e estrangeiras. Ainda “Um bom café, quitandas e doces tradicionais de Goiás, o vilaboense e os visitantes poderão apreciar no seu espaço. Aos poetas, escritores, autores, pesquisadores e artistas, a Livraria Leodegária abre seu espaço para lançamento de livros, debates, projeção de filmes, exposições e eventos afins”.
]]>