O caso da atriz Taís Araújo e do jogador Michel Bastos
Diário da Manhã
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 00:10 | Atualizado há 6 anosHá uns dois anos, a imprensa, principalmente a televisiva, enfocou, com enfadonha insistência e estardalhaço, o caso da atriz global Taís Araújo e, em menor intensidade, o do jogador sampaulino Michel Bastos, que, segundo eles, foram ofendidos pelas redes sociais. Estão fazendo do assunto um verdadeiro cavalo-de-batalha, ou por falta do que falar, ou por ser Taís Araújo uma artista global. Meses atrás, o goleiro Aranha, do Santos, foi manchete durante semanas quando torcedores de Porto Alegre chamaram o guarda-valas de “macaco”, num jogo Grêmio x Santos. Deu até polícia e ação penal.
O racismo, que se caracteriza por atitudes que separam as raças humanas ao considerarem algumas superiores a outras, sempre existiu ponto de ser a política que orientou o regime do “apartheid” (que significa “separação”) de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da maioria negra dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca.
O “apartheid” começou no período de colonização da África do Sul, em que os descendentes de holandeses, chamados bôeres, tomaram conta do país nos séculos XVII e XVIII. Os bôeres disputaram a colonização da África do Sul com os britânicos e criaram sua própria língua, o africâner.
Os bôeres aproveitavam-se do trabalho escravo dos nativos em suas plantações litorâneas, que explorava a mão-de-obra escrava, para colonizarem a chamada “Colônia do Cabo”, que foi dominada pelo Reino Unido em 1765, e os britânicos tomaram posse da colônia em 1814. A escravidão foi abolida em 1834 e, a partir daí, iniciaram-se os conflitos entre os bôeres e os britânicos.
Com o domínio dos ingleses nos territórios, todo o controle político passou a pertencer aos brancos porque os negros, inobstante serem mais de 70% da população, foram proibidos de ter o direito de se sentarem no parlamento. É intuitivo que para que 30% dominassem 70% da população seria pela força e violência, em explícita intimidação.
A única exceção para permissão de negros morarem fora de suas terras era se fossem empregados dos brancos. Em 1918, os negros foram obrigados a morar em lugares específicos, e temos a triste história de Soweto, cidade contígua a Joanesburgo, que foi estabelecida em 1963, como foco da segregação, pois era destinada apenas aos negros. Seu nome é formado pelas duas primeiras letras de SOuth WEstern TOwnships (“Bairros do Sudoeste”), bairros exclusivos para negros, pois, de acordo com as leis do “apartheid”, os negros não podiam viver em áreas reservadas aos brancos; Em 1983, Soweto deixou de fazer parte da municipalidade de Joanesburgo, passando a ter o estatuto de cidade e a sua própria administração.
Ficou conhecida na época do “apartheid” por ser foco de resistência antirracista e de protestos dos negros contra a política oficial de discriminação racial. Uma destas manifestações foi violentamente reprimida pela polícia em 16 de junho de 1976, passando à história como “o Massacre de Soweto”, com um saldo de 176 mortos.
Foram criadas leis que proibiam o casamento entre brancos e negros, a aquisição de terras pelos negros, a livre locomoção de negros que não portassem o “passe” (licença para circular), e se fossem flagrados andando à noite eram presos, e assim por diante. O pesadelo dos negros só acabou quando, em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente, após amargar vinte e sete anos de solitária.
Mas quando se fala de racismo, o primeiro pensamento que aparece na mente das pessoas é contra os negros, mas o racismo é um preconceito baseado na diferença de raças das pessoas. Por terem uma história mais sofrida com o preconceito, os negros são a principal referência quando é discutido o tema racismo.
Percebe-se como o racismo fez, e faz, parte da História, e como alguns grupos sofreram muito com isso.
Embora no Brasil haja uma forte mistura de raças, a incidência de racismo pode não ser tão evidente para alguns, mas não deixa de existir. Em alguns casos, ele ocorre de forma sutil, em que nem é percebido pelas pessoas. Pode acontecer em forma de piadas, xingamentos, ou simplesmente no evitar o contato físico com a pessoa. A verdade é que nenhum lugar está protegido do racismo. Falei no “apartheid” apenas para se ver a diferença abissal entre os dois racismos, o de lá e o de cá, e para mostrar como o governo daqui quer radicalizar..
Mas, embora disciplinado pela Lei 7.716, de 26 anos atrás, que define os crimes de preconceito racial, ainda não se viu um negro ser processado por racismo, embora a legislação determine a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. No Brasil, quando se fala em racismo, pode-se saber que a vítima é negra.
Agora, voltando ao assunto Taís Araújo, faço as seguintes considerações: aquela lei foi sancionada em janeiro de 1989, mas só passou a ser “questão de Estado” a partir do primeiro governo petista, que também criou, em 2012, a chamada “lei de cotas” (Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012), além de um ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (que, em tese, já tem o ministério da Justiça pra isto), e o ministério nunca teve um titular que não fosse da raça negra (Edson Santos, Matilde Ribeiro, Nilma Lino Gomes, Eloi Ferreira Araújo, Luíza Helena de Bairros e até o interino Martvs Antônio Alves das Chagas, todos com o ódio arraigado contra os brancos). E uma das “conquistas” do ministério foi censurar a belíssima obra de Monteiro Lobato, o maior autor infantil brasileiro, por causa de dois de seus livros: “As caçadas de Pedrinho” e “Negrinha”, acusando de racista o homem de Taubaté, que tanto nos marcou a infância.
Para mostrar a relação de estabelecer regras de comportamento para comunizar o Brasil, basta transcrever o 3º mandamento do marxista-leninista “Decálogo de Lênin”: “Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais”.
O governo petista vem incentivando os movimentos dos sem terra x fazendeiros, pobres x ricos, brancos x negros, e assim por diante.
Precisa dizer mais? Já se viu, por acaso, uma pessoa ser processada por ter chamado alguém de “branquelo”, “lagarta de jaqueira”, “sarará” ou “fogoió”?
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, escritor, jurista, historiador e advogado. liberatopo[email protected])
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