Marina versus Bolsonaro
Diário da Manhã
Publicado em 4 de setembro de 2018 às 22:32 | Atualizado há 6 anosEsta é certamente uma eleição atípica. Com um tempo reduzido de campanha e ausência das mega estruturas o trabalho de convencimento ficou concentrado no horário de TV e divulgação nas redes sociais. Aquele trabalho de corpo a corpo, das famosas caminhadas da campanha do Santillo que varria praticamente todo o estado, de casa em casa, não é mais possível fazer. Dessa forma, os nomes novos que se apresentam como renovação fica extremamente prejudicada com dificuldades de se fazerem conhecidos. Como atenuante o que melhora um pouco é que sob o espectro da Lava Jato a campanha corre solta sem recursos de monta como era de costume com os candidatos enricados inundando de dinheiro na compra de votos. Tudo leva a crer que a legislação eleitoral em vigor foi feita para favorecer os atuais detentores de mandatos dificultando sobremaneira a eleição de nomes novos. A renovação do congresso vai ser mínima. A reforma eleitoral ao invés de avançar na melhoria das práticas eleitorais e ajudar a renovação piorou.
Nesse quadro é que se desenrola a campanha atual, inclusive a nível presidencial. Com a ausência de Lula das eleições e, agora, em definitivo, os dois candidatos que se mantém nos dois primeiros lugares em todos os institutos são Bolsonaro e Marina. Isso durante os últimos oito meses, o que demonstra de certa forma a consistência dos dois nomes, apesar de ambos não disporem de uma estrutura partidária diminuta, de tempo mínimo de televisão e de parcos recursos do fundo partidário. Enquanto, PT, MDB e PSDB disporem cada um em separado de cerca de 200 milhões, a Rede dispoe um pouco mais de 10 milhões. Ou seja, a desigualdade de tempo de televisão e recursos partidários é monstruosa, tanto em relação à Marina quanto ao Bolsonaro em relação aos outros candidatos, mas, mesmo assim continuam na dianteira.
Resta saber, e isso é a grande interrogação dessa eleição é se mesmo tendo essas condições extremamente desiguais os dois vão chegar no segundo turno. Há duas candidaturas, a de Alkimin e Hadad que apostam em sua desestabilização, por diferentes motivos. Alkimin joga no seu tempo de televisão para catapultar sua candidatura e Hadad acredita na transferência de voto do Lula, nessa estratégia quase suicida que armaram crendo que nos últimos minutos que restam da contenda essa transferência pode acontecer. Se Marina e Bolsonaro conseguirem nos próximos 15 dias de campanha, quando já se fizerem sentir os primeiros impactos dos programas de televisão segurarem nas cordas, certamente, irão para o segundo turno. Ai, o embate será entre Marina e Bolsonaro, o que de antemão, as pesquisas de segundo turno favorecem a Marina. Em um dos embates que se enfrentaram cara a cara, na TV Record, a Marina levou nítida vantagem, colocando com firmeza e apontando contradições e incoerências em seu discurso.
Em relação ao debate no Jornal Nacional quando foi questionada sobre as coligações com partidos envolvidos em escândalos poderia ter respondido com mais contundência e afirmação. Por exemplo, a nível nacional ela coligou com o PV, partido que não esta envolvido em nenhuma denúncia de corrupção e pronto. Essa é a questão principal, as coligações estaduais são secundarias e obedecem a uma determinação democrática de respeitar as instancias regionais. A Rede não tem uma concepção de partido nos moldes dos partidos comunistas ortodoxos onde prevalece o centralismo democrático. Nesses sim, uma decisão do comitê central, de forma autoritária é obedecido em todas as suas instancias. A concepção de partido da Rede e completamente oposta, respeitando a democracia interna com autonomia aos Elos estaduais. O exemplo disso foi à votação do impeachment, quando a maioria votou a favor e dois deputados votaram contra. Por outro lado, não se pode deixar de esquecer a imensa diversidade política de nosso pais com suas particularidades e singularidades regionais. Aqui, em Goiás, temos a expressão maior do retrocesso político representando um dos maiores adversários das teses ambientais no Caiado. A Rede tinha que compor uma frente de resistência democrática ao caiadismo e, entre outros motivos fazer coligação. Foi com essa motivação política que assim o fizemos.
(Fernando Safatle, economista – Fernando.safat[email protected])
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