Agora restam apenas cinzas
Diário da Manhã
Publicado em 4 de setembro de 2018 às 22:13 | Atualizado há 7 diasNo último dia 2 um incêndio destruiu parte da história nacional. O Museu Nacional do Rio foi reduzido a cinzas em um evento que durou 6 horas. O museu mais antigo do País, com 20 milhões de itens, foi consumido em um incêndio que ainda não se sabe como e por que iniciou.
Éramos acostumados com tragédias diárias, os índices de mortos por assassinato no País com números superiores à de uma guerra, a má gestão repetida dos últimos governos ou as propostas tacanhas e eleitoreiras dos candidatos à presidência da república. O que aconteceu no Rio de Janeiro mostra não apenas uma monumental falta de cuidado dentro da gestão pública, tendo em vista a enorme redução de investimentos na cultura e preservação do patrimônio nacional, mas um fator bizarro de nossa pátria tupiniquim: o investimento maior em um político em relação ao próprio museu nacional.
Gasta-se mais dinheiro público sustentando as regalias de um único deputado durante um ano do que foi investido na conservação do Museu nacional em 2018.
O que se tornou pó com esse incêndio não foram apenas os artefatos históricos do museu – em sua dimensão cultural, artística ou científica –, mas todo um acervo do qual faz parte a história de uma civilização.
O que perdemos com essa tragédia sem precedentes percorre um caminho tortuoso com o qual lidamos desde a gênese de nossa história – só entramos em ação de forma emergencial e não de forma paliativa. O mesmo aconteceu com o incêndio na Boate Kiss, quando os órgãos responsáveis resolveram fiscalizar, após da tragédia na Boate Kiss, os extintores de incêndio nas casas de show de todo País.
Com essa tragédia no Rio e a destruição de milhares de peças e a incalculável perda para todos nós, ficamos mais um passo do total esquecimento de nossa história. O incêndio no Museu Nacional contribuiu para alçar a ponte que existia entre nossa história e o que somos atualmente.
A iconoclastia quase que intencional diante da história, arte, ciência, museologia, arquitetura, astronomia, arqueologia ou qualquer outro âmbito da herança cultural que foi perdido, nos mostra quem verdadeiramente somos, o que realmente importa para alguns de nossa nação em termos de investimento ou até pior que isso: para onde estamos caminhando quando se trata de preservação de uma imensa dimensão cultural de uma nação.
Destruímos nossa maior estatal, nossas florestas, massacramos os índios, poluímos os rios, devastamos áreas de preservação para o gado e a soja e sem muito alarde, matamos um pedaço de nossa história e a identidade de nosso povo.
O que foi transformado em cinzas no domingo não foram apenas os artefatos que ali estavam, mas o que resta da nossa capacidade em perceber a importância de toda uma gama cultural existente e a qualidade que isso promove para as atuais e as futuras gerações.
Dessa maneira, permanecemos imersos a uma condição degradante quando falamos tanto em educação como em políticas de investimento cultural. Uma nação que esquece de sua história e tampouco exerce uma preocupação mínima em ampliar sua política voltada para áreas do conhecimento, está fadada à ruína, ou melhor, fazendo um paralelo ao incidente do domingo – ser transformada em pó.
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