A vila de San Michel – Anacapri – Refúgio de Axel Munthe
Diário da Manhã
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 23:04 | Atualizado há 6 anosNossa principal meta em Anacapri era visitar a casa de Axel Munthe: a vila San Michele. Munth, além de idealizador da obra foi, também o seu arquiteto; misturou estilos arquitetônicos da era medieval com tradições renascentistas, com uma solução final de notável bom gosto. Durante trinta anos ele trabalhou na construção da Vila, procurando detalhes e, muitas vezes, derrubando segmentos que não lhe agradavam, para reconstruir novamente.
Durante suas andanças pela ilha foi acumulando tesouros perdidos da civilização romana: uma cabeça de medusa que foi retirada do fundo do mar, uma cabeça de Afrodite de beleza sem igual, seguramente da era romana, provavelmente inspirada em algum original grego; um capitel Romano; uma estátua de Mercúrio, um baixo relevo em mármore, representando Apolo tocando a lira; uma cabeça de mulher Romana, que foi retirada de um sarcófago que impressiona pela suavidade dos traços.
No entanto a mais notável e importante cabeça de estátua de toda a coleção é a que representa o imperador Tibério, quando ainda jovem, fragmento este que Munthe adquiriu de um camponês plantador de uvas, que ao cavar a terra, deparou-se com aquele “monstrengo” que inclusive o assustou bastante.
Provavelmente a peça mais valiosa de toda a Vila é uma esfinge egípcia, escultura em granito rosado, presumivelmente do tempo de Ramsés II, (cerca de 1300 anos A.C.) sem uma explicação muito lógica de como Axel consegui trazê-la até ali e de onde teria ele conseguido este exemplar.
No frontispício da porta de entrada da Vila, está gravada em letras bem destacáveis o nome “San Michele”. Ao transpor aqueles umbrais, repetimos a cena vivida por mais de 1 milhão de outros visitantes, oriundos de todas as partes do mundo. É necessário permanecermos todo o tempo com os olhos bem abertos, com todos os sentidos bem agudizados, para não escapar nenhum detalhe daquele monumento, que é San Michele.
Sentimos a onipresença de Munthe em todos os compartimentos da Vila, assim como nos seus jardins, sempre bem cuidados.
Reina ali a paz e a calma ! Não há como deixar de enriquecer-se com tanta expressão de cultura e beleza reunidos com tanto amor e sabedoria.
Na ante-sala da Vila San Michel, pisamos um mosaico romano, de estilo das que vimos na ruína de Pompéia, com a gravação latina “Cane Canen” (cuidado com o cão). As peças valiosíssimas estão dispostas de maneira agradável e de fácil visualização, ora encravada em paredes, outras vezes sutilmente colocadas em um canto de um cômodo, outras ainda sobre fragmentos de coluna romanas.
Há um conjunto harmonioso de todas as coisas, há uma ordem, dentro da desordem propositalmente programada por Axel Munthe .
Por intermédio de uma escada de ladrilhos de mármores, chegamos ao quarto de Axel Munthe, um dos mais belos recantos de San Michele, alí encontramos variado estilo de móveis, uma cama de ferro, de estilo siciliano forjada no século XV, janelas tipo venezianas, algumas cadeiras e mesas estilo renascentista.
Outra sala nos obriga a admirar a alma de poeta e arguto observador que foi Axel Munthe: é o seu escritório!. Ali ele colocou a famosa cabeça de Medusa, seguramente uma obra do tempo romano, o mobiliário e os espelhos são do estilo rococó.
Saindo para os jardins da Vila, através de uma porta maravilhosamente desenhada com arcos de mármore africanos, deparamos com algo que dificilmente iremos esquecer: a galeria das esculturas; formada de arcos brancos e pilastras localizadas em um pátio cheio de plantas e flores, formando guirlandas, além de se descortinar o Mediterrâneo, com o céu azul agressivo e belo.
Destaca-se na galeria o busto de Tibério, em seguida uma mesa retangular em mosaico da era medieval de beleza sem par, atrai nossa atenção. Esta mesa, como todas as peças da Vila tem sua história: Axel Munthe encontro-a em uma pequena casa de camponeses, sendo usada com a tábua de passar roupas e com a sua infalível intuição, trouxe-a para sua casa; a passadeira recebeu em troca uma tábua moderna e a mesa de mosaico, com todas as honras merecidas foi colocada ali bem no meio da galeria.
Muitas outras peças em mármore e terracota, que a primeira vista parece estarem espalhadas de qualquer maneira, estão, na verdade, dispostas de maneira genial nesta galeria (capitel, estátua de Mercúrio, cabeças de deuses romanos etc).
No final, desta galeria se alarga e dá formação a um semi-circulo, onde estão colocados bancos de mármore. Segundo nos “conta” Axel Munthe, este era o local preferido da rainha Vitória da Suécia , quando vinha visitá-lo, como sua cliente.
Antes de abandonarmos San Michele, nos estava reservado o momento mais emocionante da visita: a esfinge egípcia, colocada de maneira estratégica sobre a amurada da sacada observando, com ares enigmáticas, o Mediterrâneo; pela sua disposição é impossível ver o seu rosto, apenas os primeiros raios do sol nascente têm a oportunidade de acariciá-la e dar encanto ao seu sorriso multimilenar.
Como todo visitante que há mais de meio século já esteve neste lugar somos, também, impelidos a colocar nossas mãos sobre o lombo deste “leão esfinge” e também fazermos nosso pedido: o desejo de voltar algum dia a este lugar inolvidável. É possível que este desejo se realize, assim como se realizam todos os desejos que almejamos com todo o coração e sem reservas.
Já no ocaso da vida, com os olhos vacilantes pela cegueira que se aproximava, Munthe escreveu no seu diário uma frase que resume toda a história da sua vida: “Esta é San Michele, fi-la de joelhos para ser o santuário do sol, de onde tenho buscado a sabedoria e a luz do glorioso Deus a quem tenho adorado durante toda a vida”.
Nossa principal meta em Anacapri era visitar a casa de Axel Munthe: a vila San Michele. Munth, além de idealizador da obra foi, também o seu arquiteto; misturou estilos arquitetônicos da era medieval com tradições renascentistas, com uma solução final de notável bom gosto. Durante trinta anos ele trabalhou na construção da Vila, procurando detalhes e, muitas vezes, derrubando segmentos que não lhe agradavam, para reconstruir novamente.
Durante suas andanças pela ilha foi acumulando tesouros perdidos da civilização romana: uma cabeça de medusa que foi retirada do fundo do mar, uma cabeça de Afrodite de beleza sem igual, seguramente da era romana, provavelmente inspirada em algum original grego; um capitel Romano; uma estátua de Mercúrio, um baixo relevo em mármore, representando Apolo tocando a lira; uma cabeça de mulher Romana, que foi retirada de um sarcófago que impressiona pela suavidade dos traços.
No entanto a mais notável e importante cabeça de estátua de toda a coleção é a que representa o imperador Tibério, quando ainda jovem, fragmento este que Munthe adquiriu de um camponês plantador de uvas, que ao cavar a terra, deparou-se com aquele “monstrengo” que inclusive o assustou bastante.
Provavelmente a peça mais valiosa de toda a Vila é uma esfinge egípcia, escultura em granito rosado, presumivelmente do tempo de Ramsés II, (cerca de 1300 anos A.C.) sem uma explicação muito lógica de como Axel conseguiu trazê-la até ali e de onde teria ele conseguido este exemplar.
No frontispício da porta de entrada da Vila, está gravado em letras bem destacáveis o nome “San Michele”. Ao transpor aqueles umbrais, repetimos a cena vivida por mais de 1 milhão de outros visitantes, oriundos de todas as partes do mundo. É necessário permanecermos todo o tempo com os olhos bem abertos, com todos os sentidos bem agudizados, para não escapar nenhum detalhe daquele monumento, que é San Michele.
Sentimos a onipresença de Munthe em todos os compartimentos da Vila, assim como nos seus jardins, sempre bem cuidados.
Reina ali a paz e a calma ! Não há como deixar de enriquecer-se com tanta expressão de cultura e beleza reunidas com tanto amor e sabedoria.
Na ante-sala da Vila San Michel, pisamos um mosaico romano, de estilo das que vimos na ruína de Pompéia, com a gravação latina “Cane Canen” (cuidado com o cão). As peças valiosíssimas estão dispostas de maneira agradável e de fácil visualização, ora encravada em paredes, outras vezes sutilmente colocadas em um canto de um cômodo, outras ainda sobre fragmentos de coluna romanas.
Há um conjunto harmonioso de todas as coisas, há uma ordem, dentro da desordem propositalmente programada por Axel Munthe .
Por intermédio de uma escada de ladrilhos de mármores, chegamos ao quarto de Axel Munthe, um dos mais belos recantos de San Michele, encontramos variado estilo de móveis, uma cama de ferro, de estilo siciliano forjada no século XV, janelas tipo venezianas, algumas cadeiras e mesas estilo renascentista.
Outra sala nos obriga a admirar a alma de poeta e arguto observador que foi Axel Munthe: é o seu escritório!. Ali ele colocou a famosa cabeça de Medusa, seguramente uma obra do tempo romano, o mobiliário e os espelhos são do estilo rococó.
Saindo para os jardins da Vila, através de uma porta maravilhosamente desenhada com arcos de mármore africanos, deparamos com algo que dificilmente iremos esquecer: a galeria das esculturas; formada de arcos brancos e pilastras localizadas em um pátio cheio de plantas e flores, formando guirlandas, além de se descortinar o Mediterrâneo, com o céu azul agressivo e belo.
Destaca-se na galeria o busto de Tibério, em seguida uma mesa retangular em mosaico da era medieval de beleza sem par, atrai nossa atenção. Esta mesa, como todas as peças da Vila tem sua história: Axel Munthe encontrou-a em uma pequena casa de camponeses, sendo usada com a tábua de passar roupas e com a sua infalível intuição, trouxe-a para sua casa; a passadeira recebeu em troca uma tábua moderna e a mesa de mosaico, com todas as honras merecidas foi colocada ali bem no meio da galeria.
Muitas outras peças em mármore e terracota, que a primeira vista parece estar espalhadas de qualquer maneira, estão, na verdade, dispostas de maneira genial nesta galeria (capitel, estátua de Mercúrio, cabeças de deuses romanos etc).
No final, desta galeria se alarga e dá formação a um semi-circulo, onde estão colocados bancos de mármore. Segundo nos “conta” Axel Munthe, este era o local preferido da rainha Vitória da Suécia , quando vinha visitá-lo, como sua cliente.
Antes de abandonarmos San Michele, nos estava reservado o momento mais emocionante da visita: a esfinge egípcia, colocada de maneira estratégica sobre a amurada da sacada observando, com ares enigmáticos, o Mediterrâneo; pela sua disposição é impossível ver o seu rosto, apenas os primeiros raios do sol nascente têm a oportunidade de acariciá-la e dar encanto ao seu sorriso multimilenar.
Como todo visitante que há mais de meio século já esteve neste lugar somos, também, impelidos a colocar nossas mãos sobre o lombo deste “leão esfinge” e também fazermos nosso pedido: o desejo de voltar algum dia a este lugar inolvidável. É possível que este desejo se realize, assim como se realizam todos os desejos que almejamos com todo o coração e sem reservas.
Já no ocaso da vida, com os olhos vacilantes pela cegueira que se Munthe escreveu no seu diário uma frase que resume toda a história da sua vida: “Esta é San Michele, fi-la de joelhos para ser o santuário do sol, de onde tenho buscado a sabedoria e a luz do glorioso Deus a quem tenho adorado durante toda a vida”.
(Hélio Moreira, membro da Academia Goiana de Letras, Academia Goiana de Medicina, Instituto Histórico e Geográfico de Goiás)
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