Cotidiano

Não existe consumo seguro de álcool

Diário da Manhã

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 03:39 | Atualizado há 6 anos

Estudos até recentemen­te divulgados chegaram a afirmar que a ingestão moderada de álcool pode ajudar numa vida mais longínqua e mais saudável. No entanto, pesquisado­res da Universidade de Washing­ton, nos Estados Unidos, realiza­ram uma grande meta-análise que avaliou a relação entre o consumo de álcool e como pode afetar nos­sa saúde a longo prazo. Além de reafirmar que o álcool é uma das drogas que mais mata no mundo, o estudo também comprovou que não existe qualquer bebida alcoó­lica completamente segura.

Os cientistas do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde, um programa de pesquisa inde­pendente conduzido pela Univer­sidade de Washington, realizaram a pesquisa que fez parte do rela­tório anual do programa “Estudo Global da Carga de Doenças”, que avalia a mortalidade e a incapaci­dade de doenças em todo o mun­do. O doutor Max Griswold e sua equipe analisaram quase 600 es­tudos publicados sobre como o ál­cool afeta nossa saúde, envolven­do 28 milhões de pessoas.

Os cientistas também ana­lisaram cerca de 700 fontes de dados sobre a frequência com que pessoas em 195 países be­bem regularmente, abrangen­do os anos entre 1990 e 2016. O principal achado é muito de­primente para os frequentado­res de bares: “Não há realmen­te nenhum benefício de beber para a saúde. O nível mais segu­ro, do ponto de vista da saúde, é não beber nada”, Griswold con­tou ao portal Gizmodo.

BENEFÍCIOS ENGANOSOS

Não faltam pesquisas sugerindo que o consumo baixo a moderado de álcool está associado a alguns benefícios para a saúde, principal­mente para o coração. Griswold ex­plica que um dos maiores proble­mas com esses estudos é que eles não conseguem contabilizar vieses sutis na população analisada.

Essencialmente, é difícil estu­dar pessoas que não bebem ál­cool isoladamente, porque algu­mas pessoas que dizem que não bebem atualmente podem ter bebido muito no passado. Uma vez que muitos “largam” o álcool por causa de problemas de saú­de, rotulá-los como “não bebedo­res” apenas faz com que os consu­midores atuais de álcool pareçam mais saudáveis em comparação.

Pesquisas que identificaram ou tentaram identificar pessoas que costumavam beber, mas pa­raram, encontraram muito menos evidências de benefícios à saúde do coração. Por exemplo, embo­ra houvesse um risco ligeiramen­te reduzido de infarto em bebedo­res leves, o mesmo não acontecia com outras doenças cardiovascu­lares, como derrame, pressão alta e batimentos cardíacos irregulares. Mesmo que o álcool tenha algum efeito positivo no coração, isso não chega nem perto de equilibrar a montanha de riscos para a saúde que qualquer consumo regular de álcool provoca, incluindo câncer e acidentes automobilísticos.

O novo relatório pretende ser, acima de tudo, um lembrete neces­sário dos danos causados pelo ál­cool. Alguns países, como a Dina­marca, começaram a relaxar suas leis de tributação desse produto, leis desenhadas para desencorajar seu consumo. Além disso, agências de saúde em todo o mundo afirmam que beber até duas doses de álcool por dia é seguro. Esse mesmo nível de consumo, de acordo com a me­ta-análise, aumenta o risco de mor­rer precocemente em 7% em com­paração com não beber nada.

Griswold esclarece que, em todo o mundo, o álcool foi a prin­cipal causa de quase 3 milhões de mortes em 2016, tornando-se o 7º maior fator de risco. O efeito é pior para os homens, com o álcool liga­do a 12% de todas as mortes en­tre indivíduos do sexo masculino de 15 a 49 anos. “As pessoas pro­vavelmente bebem mais do que imaginam, e isso está prejudican­do sua saúde”, pontuou Griswold, em referência a uma pesquisa que mostrou que somos péssimos em estimar a quantidade de bebida al­coólica que ingerimos. “Todos nós poderíamos beber um pouco me­nos. Isso salvaria vidas”.

 

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