Cultura

O disco que recolocou os Stones nos trilhos

Diário da Manhã

Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 11:26 | Atualizado há 6 anos

Marcus Vinícius Beck

O ano era 1967. No rádio bandas psicodélicas faziam sucesso com músicas que criticavam a Guerra do Vietnã (1955-1975). Nesta época, a banda inglesa Rolling Stones (responsável ao lado dos Beatles pela chamada Invasão Britânica) parecia perdida e tentava flertar com o novo gênero que despontava na cena roqueira. Ora, é preciso lembrar que foi nesse período que eles lançaram o disco Their Satanic Majesties Request (1967) e ficaram mais de um ano sem subir no palco para apresentações. Eita, quanta dificuldade os Stones enfrentaram, não?

Calma. Além do recesso musical, Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones (1942-1969) tiveram de enfrentar acusações de envolvimento com drogas e encararam o sistema jurídico do Reino Unido. Por pouco não foram condenados e presos. Mas se você acha que não é possível mais desgraça, alto lá: em meio à crise judicial, o empresário e produtor dos Stones, Andrew Loog Oldham, resolveu pular fora do barco e deixar o quinteto sozinho.

Então quer dizer que os Beatles ainda chegaram a lançar, naquele ano, o antológico Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band? Isso, mas o problema foi que a resposta dos Stones não chegou a altura do disco dos rapazes de Liverpool, que fora considerado por críticos musical da revista Rolling Stone o melhor álbum de todos os tempos. Sem ligação com a contracultura, a tentativa de equiparar-se com McCartney e cia, em Their Satanic Majesties Request, foi muito mal-sucedida, despertando dúvidas se de fato os Stones estavam musicalmente perdidos ou não.

E, aí, cercados de incertezas, veio o agora cinquentenário Beggar´s Banquet. Lançado nos Estados Unidos em 6 de dezembro de 1958, o disco foi responsável por recolocar os Stones no caminho do bom e velho rock and roll. Depois do massacre comercial de Their Satanic Majesties Request, cuja produção foi assinada pela própria banda, os ingleses saíram atrás de algum cara que produzisse o grupo e, também, resgatasse a identidade musical deles. Para isso, encontraram Jimmy Miller.

De cara

Pois é, no primeiro trabalho do Miller com os Stones veio o clássico Jumpin´Jack Flash. Com ele, a banda inglesa ganhou uma pegada suja, angular, unindo a distorção nos riffs de Richards com o groove de Brian Jones e, após sua saída, Mick Taylor. Os roqueiros se reuniram para gravar o próximo álbum no estúdio Olympic Studio, na cidade de Londres, em 17 de março de 1968.

Do ponto de vista sonoro, o disco deixou de lado aquela baboseira (que não tem nada a ver com o universo furioso stoniano, aliás) para voltar aos elementos básicos do blues, country e folk. Tudo isso embalado por um som semi-acústico que chocara a crítica musical quando o trampo chegou na prateleira das lojas de música dos EUA, fazendo com que o álbum figurasse a 3° colocação nas paradas de sucesso do Reino Unido e na 5° na terra do Tio Sam (fato que concedeu disco de platina à banda).

Bem, naquela época, havia bastante inquietação social no mundo todo e os Stones conseguiram capturar esse estado de espírito. O álbum que viria a chamar-se Beggar´s Banquet (O Banquete dos Mendigos) tinha uma certa vibração socialista e proletária, especialmente em função da música Street Fight Man, mas obviamente sempre passando pelo crivo irônico, debochado e cínico dos Stones.

Polêmica

Considerada um dos maiores clássicos dos ingleses, foi neste disco em que faixa “Sympathy for the devil” foi lançada. Para escrever a letra, Jagger teria se inspirado no livro O Mestre e a Margarida, do poeta soviético Mikhail Bulgarov (1891-1940), e nas obras do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). Na música, o eu-lírico assume a posição de demônio que tem o poder de interferir nos acontecimentos mundiais, trazendo caos e desgraça por onde passa.

Com o sucesso da música, que foi responsável por abrir o disco, a banda ganhou um estigma – parte da opinião pública os chamava de “satanistas”. Além disso, é preciso salientar que o disco foi um dos últimos suspiros do guitarrista Brian Jones, que viria a morrer no ano seguinte, 1969, em decorrência de causas até hoje pouco elucidada. Jones defendia um Stones “mais raiz”, com os dois pés fincados no blues do sul dos EUA.

O LP consolidou a fama de “maldito” deles, porém a excelência técnica e musical do trabalho os elevou a outro patamar enquanto banda de rock. A partir do disco, eles entraram numa fase de ouro, abrindo a porta para os discos Let it Bleed (1969), Sticky Fingers (1971) e Exile on Main St (1972). Em 2003, a Rolling Stone EUA divulgou uma lista com 500 maiores discos de todos os tempos. Beggar´s Banquet estava na 54° posição.

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