Morre Tião Pinóquio
Diário da Manhã
Publicado em 23 de setembro de 2016 às 02:18 | Atualizado há 8 anosFaleceu no início da noite de quarta-feira, 21, o escritor, empresário e militante político histórico Sebastião Tavares de Moraes, conhecido como Tião Pinóquio. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina para tratamento de uma pneumonia e sofreu duas paradas cardiorrespiratórias provocadas por embolia pulmonar. De acordo com o filho mais velho, Wladmir Lênin de Moraes, Tião Pinóquio há algumas semanas reclamava de dores no peito e falta de ar e somente esta semana foi internado para fazer um ciclo completo de exames.
“Meu pai teve diagnosticado um derrame de água no pulmão e precisou fazer uma drenagem desse líquido. No início da noite, ele já fazia planos sobre o que gostaria de comer e beber quando voltasse para casa quando teve um desmaio. Mesmo após todo o trabalho e tentativas de reanimação, ele não resistiu e nós o perdemos”, lamentou o filho. Além de Wladmir, Tião Pinóquio deixou os filhos Nádia Krupskaya Tavares e Rafael Guevara Jayme Tavares. A viúva, Olga Jayme Perillo, lamentou a ausência do companheiro e foi amparada por amigos e familiares.
Tião Pinóquio teve intensa militância política nos anos 60 e 70 após ser um destacado líder estudantil. No início dos anos 1960 ele foi para o Rio de Janeiro com o objetivo de estudar Medicina. Em contato com a efervescência política do período, ele ingressou de pronto nos movimentos de esquerda que faziam a festa junto aos estudantes. Por ter uma articulação nata para agregar outros militantes no movimento e uma oratória vibrante, ele logo despontou e se tornou líder.
Eleito para presidir a Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), Tião Pinóquio viveu intensamente todos os períodos e movimentos que fizeram dos anos 1960 um divisor de águas no Brasil. Logo após findar seu mandato na Ubes, ele já estava integrado aos principais movimentos que tentavam resistir ao golpe militar de março de 1964 e foi eleito vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), junto com o presidente José Serra, atual ministro das Relações Exteriores.
Retorno
Com o triunfo do movimento dos militares e o Brasil mergulhado em uma sanguinária ditadura Tião Pinóquio volta a Goiás para retomar a vida com sua família. Seu pai manda recolher todos os livros que o filho acumulara durante o período de estudos no Rio de Janeiro e fica furioso com a quantidade de literatura, considerando que tudo remetia a ideias de esquerda. Um fato hilário é contado pelos filhos Wladmir e Nádia. “Nosso avô pegou todos os livros e foi para a beira do Ribeirão Anicunzinho para se desfazer de toda obra. Ia jogando um a um os livros no rio e um em especial recebeu o pedido de Tião Pinóquio para que não fosse jogado na água: era o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis”.
Como o pai de Tião não conhecia a obra nem o autor, ele aduziu logo que poderia ser algo de Cuba, a ilha do Caribe que em 1959 havia se tornado comunista com a revolução liderada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. “Ah, é? É de Cuba, então vai para o fundo do rio também e se algum peixe souber ler vai virar comunista também”, decretou, atirando o romance à correnteza.
A paixão de Tião Pinóquio por livros, ideias libertárias e os filhos fez com que ele dedicasse longos períodos a ensinar sua prole a gostar de leitura também. “Meu pai me ensinou o valor da leitura e o gosto pelo saber, isso ficará gravado na minha memória pra sempre”, lembra Wladmir Lênin.
O amigo Tarzan de Castro foi um dos tantos que foram até o Cemitério Parque do Cerrado se despedir de Tião Pinóquio. “Esse era como se fosse meu irmão, por adoção na militância política, na juventude e em nossos sonhos, nas lutas libertárias. Mantivemos por mais de quatro décadas uma imensa e forte amizade. Era uma pessoa diferenciada e com dezenas de amigos que agora estão lamentando sua perda, prestando nossa última homenagem a esse bom amigo”, finalizou. O governador Marconi Perillo ligou para a família, do Canadá, mencionando seus sentimentos e lamentando a perda de Pinóquio, de quem era amigo.
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