Cotidiano

Internet como doença

Diário da Manhã

Publicado em 18 de setembro de 2016 às 01:37 | Atualizado há 7 dias

Considerados como mal do século, vícios em internet e redes sociais são temas recorrentes em notícias e estudos que abrangem o comportamento humano e suas vertentes. Para o psicólogo clínico, mestre em saúde coletiva Rossandro Klinjey  os vícios fazem parte da natureza humana, especialmente daquela que pode ser categorizada como autodestrutiva.

“Os vícios são de várias ordens, sendo o de drogas o mais visível, mas todos escondem uma significativa falência moral e de autocontrole, cuja solução não passa tão somente por um tratamento clínico, mas também por uma desintoxicação emocional e moral, por uma reconfiguração nos valores e crenças e no suporte familiar”, diz.

Dentre os vícios o psicólogo destaca o vício nas redes sociais como um dos mais preocupantes e que prejudica frequentemente o convívio social. Com o advento da tecnologia e a facilidade de visualizar os perfis através dos smartphones, as pessoas têm se isolado do convívio, vivendo mais o virtual do que o mundo real, afetando o campo emocional e social. “É comum vermos várias pessoas sentadas comendo uma pizza, todas caladas falando com pessoas que não estão ali. Basta o assunto não interessar mais que as pessoas sacam o smartphone e passam a ignorar quem está do lado”, observa.

De acordo com psicólogo clínico, mestre em avaliação psicológica no contexto da saúde mental Philipe Gomes Vieira na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) houve discussões sobre a inclusão de uma categoria, para o que seria considerado um quadro de dependência da internet. Mas, ele observou que a inclusão acabou por não se concretizar, uma vez que a força-tarefa organizadora do referido manual não julgou satisfatório o número de evidências empíricas que justificasse pensar nesse padrão comportamental enquanto patológico.

Apesar de não existir uma classificação diagnóstica para o que seria considerado um quadro de dependência da internet Philipe acrescenta que comportamentos excessivos, denominados “adições comportamentais”, como, por exemplo, adição por compras, adição por sexo, adição por exercícios físicos ou adição por internet, podem causar manifestações sintomatológicas que abarcam elementos cognitivos, comportamentais e fisiológicos.

De qualquer forma, ele ressalva que para se pensar em um transtorno aditivo, deve-se ter a clareza de que o padrão comportamental é, de fato, patológico, o que consiste em dizer que há prejuízos substanciais na vida do sujeito que o apresenta. “Um sujeito que evidencia comportamentos patológicos ligados ao uso abusivo da internet tende a enfrentar sérias dificuldades permeadas por manifestações de ansiedade autonômica, como, por exemplo, taquicardia (aceleração cardíaca), taquipneia (respiração acelerada), sudorese, dentre outras, quando se vê obrigado (por qualquer razão que seja) a se desconectar, ainda que por poucos minutos“, define.

Ambivalência social

O psicólogo clínico, Philipe Vieira descreve que um aspecto notável nas relações virtuais é a ambivalência social, que pode ser entendida como um desejo por se manter em contato com outras pessoas e, ao mesmo tempo, de maneira contraditória, afastar-se delas, assumindo uma conotação de proteção à possível frustração.

“Quando o sujeito passa a abrir mão de sua vida social real e concreta, postergando de maneira insistente compromissos e encontros, para, ao contrário, se manter em contato virtualmente com outrem, poder-se identificar um aspecto desarmônico e, portanto, desequilibrado entre o uso tecnológico e seus investimentos interpessoais”, averigua.

Desta forma ele constata que apesar dos smartphones facilitar os contatos, ao mesmo tempo e de forma ambivalente, os distancia, uma vez que, torna-se possível manter contato com uma determinada pessoa virtualmente, minimizando a necessidade de se encontrá-la pessoalmente. O que, ele afirma, na verdade, “poderia intensificar as relações, tornando-as aprofundadas em função da velocidade com que se consegue manter a comunicação, tende a torná-las superficiais”, afirma.

O especialista adverte que casos de adição comportamental tendem a causar danos severos na vida das pessoas, uma vez que devido ao prejuízo do autocontrole, a pessoa poderá enfrentar eventos de deterioração social, tais como: fracassos em cumprir metas e obrigações no trabalho, na escola, ou em qualquer contexto em que se esteja inserido.

Além disso, ele menciona que de maneira recorrente, o sujeito pode começar a ter prejuízos relacionais, tendo vista que passa a afastar-se de atividades em família e com os amigos, a fim de se manter utilizando determinada tecnologia, como acontece no caso dos smartphones que permitem um acesso contínuo e remoto à internet.

“Ao se usar de maneira excessiva de tal tecnologia, percebe-se uma relação de dependência, a qual obriga ao sujeito manter-se conectado a qualquer custo e em todo momento. Quando se vê diante de alguma situação que o obrigue a se desconectar, como, por exemplo, o descarregar da bateria de seu aparelho associado à impossibilidade de recarregá-lo prontamente, o sujeito tende a experimentar sintomas de ansiedade autonômica que pode, inclusive, se assemelhar a um ataque de pânico”, examina.

Além dos complicadores físicos, ele afirma ser possível identificar certos prejuízos laborais, relacionais e familiares, tendo em vista que algumas pessoas, por se encontrarem em um quadro de comportamento aditivo, podem sofrer de ataques abruptos de ansiedade e sensação de iminente perda de controle quando diante da impossibilidade de se manterem utilizando do recurso tecnológico, por qualquer razão que seja. “Os danos originados de comportamentos aditivos de natureza similar a essa, tendem a causar impactos generalizados na vida de uma pessoa”, constata.

Ele ressalta que todo comportamento aditivo só pode ser considerado como tal, quando, de fato, assume uma conotação patológica, trazendo disfunções e comportamentos desadaptados para o indivíduo. “Para se considerar o uso da tecnologia enquanto algo patológico faz-se necessário encontrar evidências de prejuízos acentuados e sofrimento intrapsíquico vivenciado pelo sujeito. Cabe a ele, quando percebe esses prejuízos, de maneira autônoma ou por sugestão de outrem, buscar auxílio de um profissional da Saúde Mental (psicólogo ou psiquiatra) para lidar com os elementos subjacentes a essas perturbações, visando alcançar o seu restabelecimento psicoemocional”, conclui.

 

Doenças mentais causadas pela internet

Doenças mentais causadas pela internet

Embora ainda não receba o reconhecimento oficial de uma condição psiquiátrica, estudos mostraram que doenças mentais causadas pela Internet que sugiram – ou pioraram – por conta do uso quase compulsivo da Internet e dos dispositivos digitais móveis são cada vez mais comuns.

A Internet é um prato feito para quem quer matar o tempo. Fonte inesgotável de vídeos fofos, de música, fotos e Instagrams de celebridades, a Internet também pode estar aos poucos levando as pessoas à beira da insanidade.

À medida que a Internet evoluiu e se tornou onipresente da vida moderna, foi testemunhado o aumento de uma série de doenças mentais causadas pela internet. Até recentemente, esses problemas, amenos ou destrutivos, não tinham sido reconhecidos oficialmente pela comunidade médica.

Alguns desses transtornos são novas versões de aflições antigas, renovadas pela era da banda larga móvel, enquanto outras são distúrbios completamente novos.

Síndrome do toque fantasma

A síndrome do toque fantasma é uma das doenças mentais causadas pela internet mais comuns. Trata-se de quando o seu cérebro faz com que você pense – ou até mesmo sinta – que seu celular está vibrando no seu bolso, mesmo que ele não esteja.

Segundo o Dr. Larry Rosen, autor do livro iDisorder, 70% dos heavy users (usuários intensivos) de dispositivos móveis já relataram ter tido a experiência mesmo sem ter recebido nenhuma ligação.

Nomophobia

O termo “Nomophobia” é uma abreviatura de “no-mobile phobia” (medo de ficar sem celular) e é a ansiedade que surge por não ter acesso a um dispositivo móvel.

A condição apareceu na mais recente edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais) e levou a um programa de tratamento dedicado a ela no Centro de Recuperação Morningside em Newport Beach, Califórnia.

Náusea Digital (Cybersickness)

A náusea digital ou cybersickness (ciberdoença) é a desorientação e vertigem que algumas pessoas sentem quando interagem com determinados ambientes digitais.

A nova versão do iOS deu o mais recente exemplo disso. Logo após seu lançamento, os fóruns de suporte da Apple começaram ser bombardeados com reclamações de pessoas que sentem desorientação e náuseas depois de usar a nova interface que dá impressão de movimento.

Depressão de Facebook

Muita gente sofre da depressão causada por interações sociais (ou a falta de) no Facebook.

Um estudo da Universidade de Michigan mostra que o grau de depressão entre jovens corresponde diretamente ao tempo que eles gastam no Facebook.

Uma possível razão é que as pessoas tendem a postar apenas as boas notícias sobre eles mesmos na rede social: férias, promoções, fotos de festas, etc. Então é super fácil cair na falsa crença de que todos estão vivendo vidas muito mais felizes e bem-sucedidas que você (quando isso pode não ser o caso).

Transtorno de Dependência da Internet

Trata-se de uma vontade constante e não saudável de acessar à Internet.

O Transtorno de Dependência da Internet (por vezes referido como Uso Problemático da Internet) é o uso excessivo e irracional da Internet que interfere na vida cotidiana.

“O problema está associado a outras doenças, como depressão, TOC, Transtorno de Déficit de Atenção e ansiedade social”, diz a Dra. Kimberly Young, médica responsável pelo Centro de Dependência da Internet, que trata de inúmeras formas de dependência à rede, como o vício de jogos online e jogos de azar, e vício em cibersexo.

Vício de jogos online

Trata-se de uma necessidade não saudável de acessar jogos multiplayer online.

“Quando você é dependente de algo, seu cérebro basicamente está informando que precisa de certas substâncias neurotransmissoras, particularmente a dopamina e a serotonina, para se sentir bem”, diz Dr. Rosen. “O cérebro aprende rapidamente que certas atividades vão liberar essas substâncias químicas. Se você é um viciado em jogos de azar, tal atividade é o jogo. Se você é um viciado em jogos online, então a atividade é jogar vídeogames. E a necessidade de receber os neurotransmissores exige que você faça repetidamente a atividade para se sentir bem.”

Cibercondria ou hipocondria digital

A cibercondria é a tendência de acreditar que você tem doenças sobre as quais leu online.

Em 2008, um estudo da Microsoft descobriu que autodiagnósticos feitos a partir de ferramentas de busca online geralmente levam os “buscadores aflitos” a concluir o pior.

“A Internet pode exarcebar os sentimentos existentes de hipocondria e, em alguns casos, causar novas ansiedades. Porque há muita informação médica lá fora, e algumas são reais e válidas e outras contraditórias”, disse o Dr. Rosen.

O efeito Google

O efeito Google é a tendência do cérebro humano de reter menos informação porque ele sabe que as respostas estão ao alcance de alguns cliques.

Graças à Internet, um indivíduo pode facilmente acessar quase toda a informação que a civilização armazenou ao longo de toda sua vida. Acontece que essa vantagem acabou alterando a forma como nosso cérebro funciona.

 

FONTE: Doutíssima

 

 

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