Cotidiano

Perseguição pela fé

Diário da Manhã

Publicado em 18 de setembro de 2016 às 01:22 | Atualizado há 6 dias

  • Os familiares de Shahriar Cyrus, preso por ter uma fé proibida no Irã, visitaram a redação do Diário da Manhã para denunciar a intolerância religiosa da qual a família é vítima
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    Shahriar Cyrus faz parte da religião Bahá’í, uma religião que tem sido sistematicamente perseguida desde a revolução islâmica em 1979. Trata-se de uma perseguição sistematizada, já matou mais de 200 Bahá’ís, além das diversas torturas e prisões.

    A redação do Diário da Manhã tomou conhecido do caso a partir da denúncia de um primo do professor. Sam Cyrous é consultor de Direitos Humanos e Cultura de Paz em Goiás, ele mostrou preocupação com com o primo e sua família. “Começou a ser um regime, uma perseguição sistematizada. Se você olhar na história e ver a tortura feita contra os Bahá’ís que vai de amarrar um fiel a dois cavalos e soltá-los cada um para um lado, chumbo derretido goela abaixo, entre outros meios de torturas”, explica Sam.

    Segundo artigo publicado no Huffington Post, Shahriar provavelmente está na prisão de Evin, que é especialmente concebida para inimigos do estado. Foi aí que estiveram presos o cineasta Maziar Bahari (que produziu recentemente com Jon Stewart o filme Rosewater), a jornalista Roxana Saberi e várias iranianos ativistas de direitos humanos.3

    “Shahriar não era nem jornalista, nem ativista de direitos humanos”, diz Elaheh Cyrous, tia do pintor. “Ele é um intelectual de arte, e qualquer pesquisa demonstra isso. Ele foi preso apenas por ser bahá’í, uma fé que é perseguida há décadas pelo regime, para que os bahá’ís desapareçam”. Elaheh saiu do Irã na época da Revolução Islâmica e está há 35 anos longe de sua terra natal, o Irã.

    Os Bahá’ís

    A religião Bahá’í surge na antiga Pérsia (atual Irã), no século XIX, mais especificamente no ano de 1844. A fé dos Bahá’ís traz novos princípios para as necessidades de uma sociedade em geral. Vista como uma religião pacífica, entre os ensinamentos estão a unicidade da humanidade, igualdade entre homens e mulheres, a harmonia entre religião e ciência e a eliminação dos extremos de pobreza e riqueza.

    Perseguições

    As perseguições contra os Bahá’ís se consolidou na revolução Islâmica em 1979, no Irã. A religião oficial do Irã é o Islamismo e tem como defensores de uma das correntes do Islã, os xiitas. Somente durante o primeiro ano da revolução, cerca de 200 Bahá’ís foram mortos ou executados, centenas de outros foram torturados ou presos. A perseguição é tamanha que empresas foram beneficiadas e recebem incentivos caso demitisse os seguidores da religião Bahá’í e universidades obrigadas a expulsar alunos da mesma, tudo por causa de de suas crenças religiosas.

    Em 1981, a Direção Nacional dos Bahá’ís desapareceu sem nenhuma pista de sua localização. Em, 1988 os Bahá’ís deixaram de organizar a sua administração, mas regime iraniano percebeu que precisava se comunicar com eles, já que eles são a maior minoria religiosa do Irã, são 300 mil registrados. “O regime pediu para que fosse criada uma comissão com sete representantes a nível nacional para ser o elo entre os Bahá’ís e o governo. Essas sete pessoas há oito anos foram presas. Demorou-se anos para constituírem uma acusação contra eles. Essas mesmas pessoas que o próprio regime pediu que houvesse para que pudesse ter o intercâmbio com as 300 mil pessoas adeptas da religião”, explica Sam Cyrous.

    Advogada dos sete dirigentes da comunidade Bahá’í que estão presos, fala sobre a injustiça cometida pelo governo iraniano. “Como advogada destes sete “Yarani-iBahá’í” (amigos), eu própria revi todo o processo, página a página. Não existe fundamento no processo para as alegações levantadas contra eles pelo promotor. Estas pessoas foram presas apenas pela sua fé. Por medo de admitirem que eles estão presos devido às suas crenças religiosas, o governo os acusou de agir contra a segurança nacional sem fundamento”, diz a advogada e prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi.

    Incitação ao ódio

    Os meios de comunicação iranianos divulgaram dezenas de propagandas de incitação ao ódio contra os Bahá’ís. Entre os documentos veiculados estão artigos antibahá’í, vídeos e páginas na internet. A consequência da divulgação de tais conteúdos gera diversos ataques à vida dos religiosos. Desde 2009 casas foram incendiadas, edifícios explodidos, lojas e empresas que membros da religião Bahá’ís eram proprietários foram atacadas e ameaças foram pichadas nas fachadas das lojas e residências.

    Um cemitério na cidade de Semnan também foi alvo dos ataques contra a fé Bahá’í. O edifício mortuário foi totalmente incendiado e destruído pelos perseguidores. Diversas sepulturas foram destruídas e pichações com conteúdo de ódio foram deixadas em um reservatório de água do local.

    Manifestação

    Diversos políticos goianos e brasileiros já manifestaram indignação à perseguição religiosa sofrida pelos adeptos da religião Bahá’ís. O ex-presidente da comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa Mauro Rubens já se pronunciou sobre o caso das prisões e torturas que acontecem no Irã. Através de petição encabeçada pelo deputado e participação de todos os parlamentares, a Assembleia enviou ao governo federal, à embaixada do Irã, ao Palácio do Itamaraty e ao Congresso Nacional um comunicado em que se manifesta contrária à prisão dos religiosos pelo governo daquele País”, disse.

    A vereadora e atual presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores, Cristina Lopes, lamenta a prisão de Shahriar Cyrous e de outros religiosos. “Antes de ser presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Municipal de Goiânia, eu sou um ser humano que luta diariamente para que os direitos de todos os cidadão sejam respeitados. Sou contra qualquer cerceamento de liberdade individual e essa situação, que fica cada vez mais grave no Irã, precisa ser combatido pelas autoridades internacionais competentes. Não é possível que pessoas sejam condenadas, apenas por ter uma crença, que difere da maioria. Conheço a comunidade Bahá’í de Goiânia, e espero que a situação dos seguidores dessa crença que estão presos no Irã seja resolvida o mais rápido possível”, afirma Cristina Lopes.

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