Barbárie na Praça da Bíblia
Diário da Manhã
Publicado em 9 de setembro de 2016 às 02:54 | Atualizado há 8 anosOntem, 8, após o almoço, por volta das 14h15, quem passava pelo terminal da Bíblia se assustou com a confusão. Rafael dos Santos Jaipassu, 21 anos, se desentendeu com outro homem que ainda não foi identificado. Os homens quebraram e espalharam mercadorias pelo chão e, munidos de facas e pedaços de pau, brigaram violentamente. O conflito só acabou após a chegada da polícia, que precisou usar bombas de efeito moral para separar os envolvidos.
Rafael, que foi atendido no Cais Vila Nova, e posteriormente conduzido para a Central de Flagrantes, deixou a prisão em fevereiro deste ano. Ele possui passagens por porte ilegal de arma de fogo, roubo qualificado, receptação e desacato. O segundo envolvido está no Hugo e uma vez estabilizado também será encaminhado para a delegacia. Havia também um menor envolvido na briga, que até o fechamento da edição ainda não havia sido encaminhado para a Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai).
Motivo
De acordo com informações obtidas com outros ambulantes do terminal, que preferiram não se identificar por medo de represálias, a briga ocorreu por uma disputa de pontos de venda de mercadorias no terminal. “Já faz três dias que estão brigando por esse ponto, mas ficavam apenas na discussão, hoje um deles trouxe mais três ou quatro amigos para bater no outro vendedor”, declarou uma mulher que trabalha no local.
Uma passageira relata o medo que sentiu após entrar no terminal para ir ao trabalho: “Estava indo pegar o meu ônibus quando começaram a brigar na minha frente, corri para longe e logo ficaram mais violentos, um dos rapazes pegava o isopor do outro e quebrava, espalhava tudo pelo chão, enquanto o dono da mercadoria tentava se defender”. A passageira relata ainda que viu pessoas trazendo facas e pedaços de pau para entregar aos envolvidos na briga.
Funcionários da Metrobus declararam que situações assim são comuns no Terminal Praça da Bíblia. Para eles, a presença dos vendedores autônomos é negativa, causando conflitos, sujando o local e dificultando a circulação dos passageiros.
Rapidamente a polícia chegou ao local para separar a briga, sendo que uma das viaturas saiu em perseguição de um menor de idade que fugiu do local. Mariene, que é passageira e transita pelo terminal diariamente, conta que brigas e assaltos são constantes no local. “Vejo assalto aqui constantemente e os guardas pouco fazem, essa é a segunda briga violenta que presencio aqui. Tenho bastante medo de passar por esse terminal, porém não tenho outra opção”, lamenta.
Medo nos terminais
Segundo dados da 1ª Delegacia Regional de Polícia de Goiânia, ano passado as ocorrências registradas por roubos e furtos no Eixo Anhanguera superam três mil. Na Capital é fácil encontrar quem tenha relatos de casos de violência nos terminais. A estudante universitária Maria Eduarda relata que já foi assaltada voltando para casa. “Estava indo da faculdade pra casa quando um rapaz colocou a faca contra minhas costas, falando bem baixo mandou que eu passasse carteira e celular para ele. Desci um ponto após ele, mas não encontrei nenhum policial ou sequer guarda”.
A história de Maria Eduarda se repete por toda a cidade, quem não passou por uma situação como esta conhece alguém que já foi vítima.
Ao final do ano passado, uma determinação da Justiça obrigava a Metrobus a contratar uma empresa de segurança para atuar nos terminais. A medida, entretanto, durou pouco tempo, em julho deste ano a Guarda Municipal parou de fazer a guarda dos terminais, alegando que a empresa detentora da licitação não cumpriu com sua parte no acordo, que seria o investimento e manutenção de equipamento dos guardas.
A Guarda Civil Metropolitana (GCM) declarou, na ocasião, que antes do descumprimento do acordo, 80 homens se revezavam entre os terminais, além dos vigilantes terceirizados.
Recorrência dos ambulantes
De acordo com o decreto nº 8.676, de 23 de junho 2016, “Fica proibida a permanência de vendedores ambulantes nas proximidades e nos acessos dos terminais de integração e estações de embarques do Eixo Anhanguera e suas extensões”. Entretanto, qualquer passageiro do eixo sabe que esta medida não é cumprida.
O problema é antigo e há quem concorde e quem discorde da presença dos vendedores nos terminais. A aposentada Neide é favorável à permanência destes. “Eles estão aqui trabalhando honestamente, compra quem quiser” declara. O universitário Thiago concorda com a aposentada. “Em Goiânia há uma máfia que domina o transporte coletivo, não há absolutamente nada de errado em uma cidadão tentar tirar seu sustento vendendo mercadorias nos terminais”, diz.
Alguns, contudo, são contra, Camila, que é recepcionista e utiliza os ônibus do eixo diariamente, acredita que a retirada dos ambulantes seria benéfica. Para Camila, eles perturbam os passageiros e sujam as plataformas.
Em nota, a assessoria da Metrobus afirmou que lamenta o que aconteceu no terminal e está trabalhando para a retirada dos ambulantes, de todos os terminais pertencentes ao Eixo Anhanguera.
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