Cotidiano

Dieta da vida saudável

Diário da Manhã

Publicado em 6 de setembro de 2016 às 01:59 | Atualizado há 8 anos

Com tantas informações e artigos sobre a relação entre doenças e alimentação, sobre dietas mais saudáveis e diferentes formas de corrigir o cardápio, associando-o a exercícios físicos para adquirir uma vida mais longeva, surgem questões muito convenientes para os que se preocupam com a saúde: a carne é ou não é prejudicial à saúde? Vegetarianos vivem melhor ou sofrem mais por não ingerir carne? E os veganos? Como é possível manter o organismo em perfeito funcionamento sem comer absolutamente nada de origem animal?

Vegetariano é a pessoa que não come carne de nenhum tipo de animal, mas ainda consome produtos de origem animal, como ovos, leite e os lacto derivados, por exemplo. Existem também os ovo-lacto-vegetarianos, que são aqueles que não consomem nenhum tipo de alimento de origem animal. E, além desses dois tipos, existe o vegano, uma forma mais extrema de vegetarianismo baseada numa filosofia que defende o direito de vida dos animais. O vegano procura evitar ao máximo a exploração ou abuso dos animais, e boicota também produtos considerados “especistas”, como gelatina, cosméticos, produtos de couro, etc.

Em resumo, todos esses estilos de vida consistem numa dieta alimentar que não permite o consumo de carne. No entanto determinados nutrientes são restritos apenas à proteína animal, como a vitamina B-12 e o Ômega 3, sendo que este último é encontrado numa maior concentração na gordura de peixes. Tanto a vitamina B12 quanto o ômega-3 têm papel importante na saúde de todo o sistema cardiovascular, além de também exercer função essencial na formação e manutenção do sistema nervoso. A deficiência desses nutrientes pode levar a duas grandes complicações, a anemia e a neuropatia, enquanto na fase de formação do feto (gestantes) e durante o período de amamentação, pode trazer graves consequências para a criança.

Por outro lado, diversas doenças cardiovasculares estão associadas ao consumo de carnes, especialmente a carne vermelha. Pessoas que ingerem carne vermelha têm maior predisposição a desenvolver câncer, aumentam em mais de 30% o risco de desenvolverem doenças cardiovasculares e possuem um índice mais elevado de colesterol em circulação no sangue.

Estudos demonstram que os vegetarianos, principalmente veganos, não ingerem vitamina B12 suficiente e, consequentemente, apresentam estado nutricional relativo à vitamina abaixo do recomendado. Em contrapartida, aqueles que não consomem carne estendem um pouco mais sua longevidade, não apresentando riscos de doenças cardiovasculares, praticamente anulam a probabilidade de desenvolver câncer, não apresentam sobrepeso e os níveis de gordura corporal e de colesterol no sangue são baixíssimos.

Você é o que você come”

A máxima consiste no quanto uma pessoa leva a sério sua alimentação. O nutrólogo Weder Willian, em entrevista ao Diário da Manhã, explicou que para o brasileiro, inversamente o que propõe todas as pesquisas relacionadas ao consumo de carne, o mais saudável é consumir carne vermelha. “Eu sei que surpreendo ao dizer isso, mas se analisarmos mais profundamente sobre o assunto e começarmos a discutir sobre a forma que a carne é produzida no Brasil, teoricamente não há como ter uma opinião diferente”, afirma o especialista.

No Brasil, principalmente na região Centro-Oeste, é possível ingerir carne vermelha oriunda de animais criados num regime de confinamento extensivo, ou seja, o gado se alimenta apenas de capim, e a ração, no caso do regime semi-extensivo, tem o intuito de apenas complementar a alimentação do animal. Dessa forma a carne do animal, além de ser mais magra, apresenta também uma menor concentração de colesterol. É fácil concluir que se o animal é mais saudável, a sua carne também é mais saudável.

“O gado que se alimenta apenas de ração, no caso do confinamento intensivo, é induzido a desenvolver e engordar sua carcaça mais rapidamente, o que torna sua carne mais gordurosa. Essa carne apresenta uma concentração altíssima de gorduras trans, além de ter uma taxa de colesterol acima do aceitável. Só que essa carne é, geralmente, exportada, porque é justamente essa gordura que faz sucesso no exterior, ela deixa a carne mais macia e mais saborosa”, afirma Weder.

A criação de porco, de peixe e de frango também parte do mesmo princípio. A produção de carne desses animais consiste numa alimentação riquíssima em proteína e gordura, justamente para o ganho de peso. Ou seja, essa carne apresenta o mesmo problema já citado, que é a alta concentração de colesterol, gordura em excesso e maior quantidade de gorduras trans.

“Nem os peixes fogem à regra, mesmo que sua carne seja considerada mais saudável. O peixe pescado é praticamente inacessível a nós, e quem quiser comer peixe com mais frequência vai comer peixe de criatório, de carne muito gorda e também apresentando muito colesterol. Até mesmo o salmão, uma das carnes de peixe mais saudáveis que existe, quando temos condição de pagar por um preço muito alto, também vem de uma fazenda, geralmente do Chile, que cria esses peixes”, explica o nutrólogo.

Poucas pessoas têm essa preocupação com a origem da carne, e isso abrange também para outros alimentos. A vantagem que vegetarianos e veganos possuem sobre essas pessoas é justamente a preocupação com a origem dos alimentos e a necessidade de balancear suas refeições para suprir a necessidade do corpo de ingerir proteínas e óleos essenciais ao organismo. “É esse ato de parar e pensar sobre ‘o que devo comer’ é que torna a alimentação mais saudável. Você deixa de simplesmente ingerir comida, que é o simples ato de saciar a fome, para poder se alimentar, que é o mesmo que atender as necessidades do seu corpo. E isso é via de regra para o vegetarianismo, em quase a totalidade dos seus adeptos é possível ver que eles se preocupam em balancear e variar o cardápio”, completa o doutor.

Quanto à reposição de nutrientes essenciais, o consumo da vitamina B-12 na vida adulta se torna opcional, embora seja bastante importante. Uma forma de obtê-lo é através da versão sintetizada numa farmácia de manipulação, desde que seu uso seja recomendado por um especialista através de uma receita médica.

A semente de linhaça, cuja parcela de ômega-3 está concentrada em seu óleo, é uma opção mais eficiente de repor o nutriente. E uma forma de obtê-lo em maior concentração é consumir o óleo dela extraído, o óleo de linhaça. Um adulto vegetariano ou vegano deve consumir diariamente, no mínimo, uma colher de chá do óleo de linhaça. Essa mesma dose mínima vale também para as crianças, enquanto gestantes e mulheres em fase de amamentação devem dobrar essa dose diária.

 

Veganismo e a filosofia da vida

O veganismo foi criado em 1944 pelo britânico Donald Watson. Ele definiu o veganismo como um estilo de vida que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade com os animais, para alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade.

Nara Sodré, estudante de Cinema e Audiovisual, é vegetariana desde os seis anos de idade. “Pratico o veganismo apenas há alguns meses, mas desde pequena nunca senti vontade de comer carne, mal lembro como é o gosto”, conta ela. Foi seu amor pela vida dos animais que veio a vontade de se tornar vegana. “Toda e qualquer vida é importante, independente se ela é humana ou animal. Se é uma vida, ela tem o mesmo direito que todas as outras de ser respeitada e ninguém pode contestar isso”, afirma ela, categórica.

Hábitos Alimentares

A frase da vegana de 18 anos resume o que é o conceito de uma filosofia que vai muito além dos hábitos alimentares. “Quando pequena, eu disse à minha avó que eu não queria mais comer carne. Ela não se importou, mas me disse que eu iria comer a beterraba, o repolho, o feijão, a abóbora, e tudo o que fosse servido. E desde então, na prática, comecei a entender o que eu estava fazendo, balanceando a minha refeição comendo de tudo, variando o cardápio. Não comer carne não me trouxe nenhum malefício, justamente porque eu me preocupo com minha alimentação”, ela completa.

Nara também falou sobre os estereótipos veganos construídos a partir dos que não abrem mão do prazer de comer carne, uma espécie de rixa que existe entre dois ideais. Mas ela afirma que é possível ver uma imposição ideológica muito maior das pessoas que comem carne sobre as pessoas que não comem. “Quando estou num churrasco, por exemplo, algumas das pessoas insistem para que eu coma carne, e quando rejeito, dizem que está muito gostosa, e que não entendem como consigo viver assim”.

Ela ainda completa: “Eu sei que é atribuído aos veganos uma fama de militância pedante, que estão sempre aborrecendo aqueles que não concordam ou não ligam pra esse ideal. Mas eu, assim como vários outros veganos ou vegetarianos, ao contrário do que se imagina, respeitamos as pessoas que comem carne. No nosso país, principalmente aqui em Goiás, é nítida a cultura da celebração da carne, e as grandes iguarias goianas têm como base a proteína animal, bem como o Estado da minha família, o Ceará. Na verdade, eu vejo isso como apenas uma questão de escolha, e eu escolhi não comer carne.”

IDEOLOGIA

E respeitar o hábito de comer carne, embora possa parecer contraditório ao discurso pregado pela ideologia, não contraria a filosofia vegana. O movimento tem o intuito de conscientizar a população sobre a existência de métodos cruéis de criação de animais, de levar informação e questionar a dependência que a humanidade criou a partir desse consumismo.

Veredicto do especialista

Para o nutrólogo Weder Willian, a solução é caminhar para o vegetarianismo. “Mas não se deve cortar a carne da dieta, pelo contrário, como já disse, a carne faz bem, desde que se saiba sobre sua origem e desde que seja consumida em menor quantidade. Quando digo que devemos caminhar para o vegetarianismo me refiro também aos hábitos que é o de se atentar à alimentação, variar o cardápio e acrescentar mais vegetais à refeição. Quanto à carne, é possível você alternar os dias em que vai comê-la, e também não é necessário abandonar o churrasco. Comer também nos traz prazer e não devemos nos privar, e sim nos controlar”, ele ressalva.

Boa saúde física

Durante as últimas décadas, há um maior conhecimento sobre os efeitos da dieta vegetariana no status nutricional e na saúde física. No geral, os estudos têm demonstrado que os vegetarianos encontram-se em boa saúde física comparados aos padrões nacionais, assim como os não vegetarianos com um estilo de vida similar.

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