Anigo realiza ato em defesa do direito à memória e à verdade
Diário da Manhã
Publicado em 27 de agosto de 2016 às 02:52 | Atualizado há 1 semana
Os mortos e desaparecidos, além dos presos políticos torturados após a instalação da ditadura civil e militar de 1964 no Brasil, serão homenageados, em sessão gastronômica e política, hoje, a partir das 12h30, no Clube da Aseg [Associação dos Servidores da Caixa Econômica Federal], na Avenida T-8, esquina com a T-1, Setor Bueno, em Goiânia. É o que informa o presidente da Associação dos Anistiados do Estado de Goiás [Anigo], o professor de História aposentado Marcantonio Dela Corte.
– Em defesa do direito à memória e à verdade!
O número de mortos e desaparecidos no Estado de Goiás totaliza 15 pessoas, registra o pesquisador. Integrariam a relação Honestino Monteiro Guimarães, Marcos Antônio Dias Batista, José Porfírio de Sousa, Durvalino de Sousa, Ismael Silva de Jesus, Paulo de Tarso Celestino da Silva, Divino Ferreira de Sousa, Arno Preiss, Boanerges de Sousa Massa, Jeová de Assis Gomes, Rui Vieira Berbert, Maria Augusta Thomaz, Márcio Beck Machado, Cassimiro de Freitas e Ornalino Cândido da Silva.
– Centenas foram presos ilegalmente, torturados e exilados.
Entre os presos, o próprio Marcantonio Dela Corte, ex-PCdoB e ex-PCB, Paulo Silva de Jesus, João Silva Neto, que perdeu mandato de vereador e foi expulso da Universidade Federal de Goiás [UFG] pelo decreto 477, Neso Natal, Tarzan de Castro, Maria Cristina Uslenghi Rizzi de Castro, uma uruaguaia socialista, Hugo Brockes, Alaor Figueiredo, Wilmar Alves, Valdi Camarcio Bezerra, Horiestes Gomes, Aldo Arantes, Luiz Carlos Orro, Maurício Zacariotti, Manoel Porfírio e Cristiano Rodrigues.
– Dezenas embarcaram para o frio exílio.
Além de Juarez Ferraz da Maia, que foi para o Chile, Athos Magno Costa e Silva fugiu para Havana, Cuba, depois para as terras de Salvador Allende e, por último, na gélida Alemanha. Lenine Bueno, Chile e Europa. Athos Pereira da Silva, Suécia. Dagmar Pereira da Silva, Suécia. José Duarte dos Santos integrou o “grupo dos 70”, com o golpe do general Augusto Pinochet, em setembro de 1973, foi para Suécia e Moçambique. Tarzan de Castro e Maria Cristina, Chile e França. Depois da anistia, retornaram.
– A anistia saiu em agosto de 1979. Presos foram libertados, como Antônio Pinheiro Salles…
A Associação dos Anistiados de Goiás [Anigo] já lançou dois documentários, registra ele. As produções cinematográficas, uma produzida pelo celebrado Ângelo Lima, abordam os anos de chumbo no Brasil e no Estado de Goiás. Dois volumes do livro Arquivos Revelados – A ditadura militar em Goiás circularam no mercado editorial neste ano de 2016. A obra, que obteve uma parceria institucional com a UFG e a Comissão de Anistia do MJ, é resultado de um trabalho “incansável” de Marcantonio Dela Corte.
– Para preservar a memória da resistência democrática!
O golpe de Estado civil e militar de 1964, em Goiás, contou, em 31 de março, com o apoio do então governador do Estado à época, Mauro Borges Teixeira. Ele era filho do interventor no Estado da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, Pedro Ludovico Teixeira. Em 26 de novembro do mesmo ano, Mauro Borges acabou deposto. O assalto ao Tiro de Guerra, em Anápolis, 1964, entrou para a história. O único sobrevivente da operação é Neso Natal, que exilou-se depois na extinta União Soviética [URSS].
– Revoltas estudantis ocorreram em Goiânia, no ano de 1968.
Líder dos estudantes – secundaristas e universitários – se destacaram naquele ano, 1968, que começou em 28 de março, com a morte, no Restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, do secundarista Edson Luís de Lima Souto. Juarez Ferraz da Maia, Marcantonio Dela Corte, Olga Darc Pimentel, Alan Kardeck Pimentel, Euler Ivo Vieira, Jackson Pires, Carlos Brandão, Marcos Antônio Dias Batista, Ademir Lima e Silva, Paulo Silva de Jesus, Valdi Camarcio Bezerra, Stepan Necerssian, Maria do Socorro e Mirinho.
– 1968, um ano que não terminou, como aponta Zuenir Ventura.
O historiador Marcantonio Dela Corte lembra ainda que a Revolta de Trombas e Formoso, liderada pelo lendário José Porfí-rio, ocorreu no Norte de Goiás. Mais: a guerrilha do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista do Brasil [PCdoB], desenvolveu-se no norte de Goiás, atual Estado do Tocantins, e sul do Pará, além do Maranhão. Com um saldo de 60 mortos e desaparecidos. A guerrilha da ALN seria executada em Goiás, pontua. A última célula viva do Molipo foi liquidada em Rio Verde, diz.
– O movimento de redemocratização iniciou-se em 1977 e logo depois foi criado o Comitê Goiano pela Anistia.
1964 Golpe de Estado civil e militar
Serviço
Ato da Anigo
Data: Hoje, 27 de agosto
Horário: 12h30
Local: Clube da Aseg
O que foi a ditadura civil e militar no Brasil
Em primeiro de abril do ano de 1964, fardados e civis derrubaram o presidente da República, João Belchior Goulart, e implantaram uma ditadura. À sombra da guerra fria, a estratégia era desagregar o bloco-histórico nacional-estatista e levar os interesses multinacionais e associados à direção do Estado.
As tropas de Olímpio Mourão Filho desceram a serra sem um só tiro ou protesto e chegaram no dia 2. Jango teria voado com o general Assis Brasil à Fazenda Rancho Grande, em São Borja. Maria Thereza e filhos foram para o Uruguai. O deposto sai de São Borja em 4 de abril. É o que conta Jair Krischke [RS], presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
– Em seu próprio avião e aterrissa em Durazno.
O primeiro general-presidente a entrar em cena em Brasília [DF] foi Humberto Castello Branco. Ele queria um ato institucional que durasse apenas três meses. Assinou três. Queria que as cassações se limitassem a uma ou duas dezenas: cassou quinhentas pessoas e demitiu duas mil pessoas.
O seu governo durou nada mais, nada menos do que 32 meses, 23 dos quais sob a vigência de 37 atos complementares. O marechal Humberto Castello Branco foi o cérebro do golpe de 1964. Ele era o líder da Sorbonne militar, composta, por exemplo, por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.
Para o brasilianista Thomas Skidmore, o movimento civil e militar de 1964 ocorreu com dez anos de atraso e nunca atingiu o seu objetivo estratégico: desmantelar a estrutura estatal e sindical corporativista montada por Getúlio Vargas, que suicidara-se em 24 de agosto do ano de 1954, no Palácio do Catete.
“O golpe ia ser dado em 1954, mas falhou por causa do suicídio de Getúlio Vargas”, aponta Thomas Skidmore. Não foi uma quartelada, mas uma ação de classe traçada tática e estrategicamente pelas elites orgânicas do capital transnacional, analisa o cientista político René Armand Dreiffus.
– Ipes, Ibad e ESG consideravam o Estado como instrumento de um novo arranjo político e de um “novo modelo de acumulação”.
História: as articulações contra João Belchior Goulart começaram antes de sua posse, em agosto de 1961. Mais: se intensificaram a partir do plebiscito que decretou a volta do presidencialismo, em janeiro de 1963, e tomaram as ruas após o anúncio das reformas de base, em março do trágico ano de 1964.
Sucessor de Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº 5 em 13 de dezembro de 1968. Vice, o civil Pedro Aleixo foi impedido de assumir o Palácio do Planalto. Depois de um breve exercício da Junta Militar, Emílio Garrastazu Médici chegou ao poder, em 1969.
Em 1977, Ernesto Geisel, o “Alemão”, que havia executado a partir de 1974 a distensão lenta, gradual e segura, baixa o Pacote de Abril. João Baptista de Oliveira Figueiredo é abençoado pela caserna no ano de 1978 e o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia, em agosto do ano de 1979.
Os exilados retornaram ao Brasil e os presos políticos deixam os cárceres. A ditadura acabou em 15 de março de 1985. Mas o historiador Daniel Aarão Reis diz que a ditadura termina, de fato, em 1979. Para ele, de 1979 a 1988 há, no Brasil, um período de transição. De um Estado de Direito Autoritário a um Democrático. O escritor Carlos Fico discorda dessa versão.
A democracia no Brasil, depois dos anos de ditadura civil e militar, só se consolida e se institucionaliza, com a remoção do legado constitucional autoritário e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, sob a Nova República, abençoada pelo “senhor Diretas Já”, Ulysses Guimarães. (Renato Dias)
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