Com Iris, a grande ganhadora é Goiânia (I)

Em um dos livros de Luiz Alberto de Queiroz dei este testemunho:

“Imensa fila de carroças e charretes – naquele ano de 1958 havia muitas charretes a transportar passageiros em Goiânia – chamava a atenção de todos na Avenida Anhanguera. No chapéu do carroceiro ou charreteiro; na traseira, nas laterais e na frente dos veículos o nome escrito em vermelho bem visível – Iris. O desfile tinha a sua vanguarda já lá bem acima do Lago das Rosas e a retaguarda ainda na Praça do Bandeirante. Para quem não sabia o que era aquilo a explicação vinha imediata;

– Passeata do Iris, um rapaz de Campinas candidato a vereador. Ele é muito popular. Os carroceiros estão todos com ele. Vai ser o mais votado.

E foi mesmo. Quatro anos antes, um estudante havia surpreendido Goiânia, conquistando uma cadeira na Câmara com quase 200 votos. Era Cristóvão do Espírito Santo. Agora, em 3 de outubro, outro estudante, Iris Rezende Machado, alcançava quase 3 mil votos. E isto numa capital onde o fenômeno popular da Vila Nova, Boaventura Moreira de Andrade, passava pouco dos 400; e candidatos do gabarito do jornalista e advogado José Luiz Bittencourt e do Professor Nion Albernaz se elegiam na casa dos 300 votos.

Quatro anos depois, 1962, Iris Rezende se via eleito deputado estadual com a maior votação de todos os tempos até então – mais de dez mil votos. Foi quando nos tornamos colegas e amigos, porquanto também me vi eleito para a Assembleia Legislativa. Ali no Palácio Alfredo Nasser tive assim a oportunidade de conhecer o dinamismo, a inteligência e a ética de Iris Rezende Machado que já no primeiro ano de mandato se via escolhido líder do governo Mauro Borges e no ano seguinte presidente da Casa. Quando nessa presidência aconteceu o golpe de 64, tinha tal respeitabilidade que as autoridades militares que iniciavam a caça aos chamados “subversivos” buscavam a opinião de Iris. E este, com a grandeza moral que o caracterizava invariavelmente como grande democrata fazia a defesa dos colegas sobre os quais incidiam as inquirições dos representantes da ditadura que começara em abril de 1964. Fui um dos que tiveram de Iris as referências mais generosas. Aliás, demonstrava por mim, embora seu adversário partidariamente, tal admiração que anos depois entrevistado pelo Jornal Opção e perguntado sobre os valores que se destacaram nos seus tempos de Assembleia Legislativa, respondeu: “Eurico Barbosa era um fenômeno.”

Realizadas as primeiras eleições sob o regime presidido pelo marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, Iris Rezende candidatou-se a prefeito de Goiânia. O adversário que teve de enfrentar foi nada menos que o ex-governador José Ludovico de Almeida, nome dos mais aureolados de prestígio e respeito, considerado um dos melhores governadores que o Estado havia tido de 1946 até então. O candidato a governador do Estado pelo mesmo partido de Iris, o PSD, foi o ex-secretário da Saúde e naquela época deputado federal José Peixoto da Silveira, que disputou a suprema direção do Estado com o Prefeito de Goianésia, Otávio Lage de Siqueira. Peixoto perdeu por pouco mais de três mil e quinhentos votos. Mas Iris Rezende derrotou José Ludovico de Almeida, com vantagem expressiva.

Na prefeitura de Goiânia Iris Rezende revelou-se extraordinário administrador. Encontrou nossa capital em lastimável estado, apesar dos esforços do seu antecessor, o honrado dr. Hélio Seixo de Brito, que deixou a Prefeitura com boa maquinaria adquirida em sua administração.

Iris revolucionou a condução dos destinos administrativos de Goiânia. Já nos primeiros dias a pavimentação de ruas em Campinas constituía um fato que surpreendia a todos, pela qualidade do asfalto, pela quantidade de ruas beneficiadas e pela celeridade dos trabalhos. Logo logo o asfaltamento se expandia, proporcionando o cenário de recuperação e de modernização do centro e de todos os bairros. A administração de Goiânia surpreendia e impressionava a toda a população. Mas, concomitante ou sucessivamente outras grandes realizações vinham alçar o nome do jovem prefeito ao respeito e à admiração dos goianienses, com revérberos do seu prestígio em todo o Estado. É o que demonstrarei no próximo artigo.

(Eurico Barbosa escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal terças & sextas-feiras)