Goianiense aprova Lava Lato
Diário da Manhã
Publicado em 12 de agosto de 2016 às 02:31 | Atualizado há 8 anosMais de 75% dos habitantes da capital goiana acham que a operação vem sendo conduzida corretamente
Um dia um esperto comerciante inventou um serviço de lavagem rápida de automóveis por meio de jatos d’água. E anunciavam: lava-se a jato. Como existe no Brasil uma irresistível tendência a corromper a bela língua portuguesa, além da tendência de se corromper os costumes, a administração pública, as eleições, etc, lava a jato virou Lava Jato, não mais uma alocução, mas um novo vocábulo. E foi assim que a Polícia Federal, dando sua não muito modesta contribuição para corromper o idioma, batizou de “Lava Jato” a uma de suas muitas operações saneadoras.
Seguindo a informação de uma acaguete, os agentes da lei descobriram os trambiques que o doleiro Alberto Youssef vinha fazendo no mundo das altas finanças, usando um posto de gasolina de Brasília, onde havia um serviço de lavagem de carros a jato, para servir de fachada legal. O negócio tinha ramificações no Paraná e, por isso, o caso acabou parando nas mãos do juiz Sérgio Moro. Uma coisa puxa a outra. Descobriu-se que por trás das “maracutaias” de Youssef existia um vasto negócio de dinheiro de empreiteiras passados ilegalmente aos partidos políticos. Descobriu-se mais, que a dinheirama provinha de contratos dessas empreiteiras com a Petrobras. Embora jamais o doutor Moro tivesse mandado fazer perícias contábeis nesses contratos, aceitou-se como dado que os mesmos eram superfaturados.
A operação Lava Jato já vai para mais de dois anos. Já condenou muita gente a penas que, somadas, passam de 500 anos, o que é, claro, uma arrematada bobagem, já que a pena não pode passar da pessoa do réu e não pode ultrapassar a 30 anos, segundo a lei penal brasileira. Mas esta soma de todas as penas é um exercício que, conquanto ocioso, diverte os que não têm coisa melhor para fazer. Sérgio Moro virou herói nacional. Há tempos ele queria fazer no Brasil algo semelhante à Operação Mãos Limpas, a cruzada italiana contra corrupção que destruiu o sistema partidário da Itália e abriu caminho para o canastrão Berlusconi chegar ao poder e envergonhar, perante o mundo, o país de Da Vinci, Dante, Maquiavel, etc.
O como a operação está sendo conduzida é um assunto complexo. Moro tem sido duramente criticado pelos excessos que vêm cometendo. Já levou reprimenda até do ministro Teori Zavaski, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Mas a visão de poderosos empresários da construção civil e de políticos que são o creme de la creme da política brasileira sendo levados de camburão e trancafiados como vulgares trombadinhas enche de gáudio o populacho. Os que se deleitavam, no passado, em ver enforcamentos ou decapitações em praças públicas, em tempos medievais, guardam estreito parentesco espiritual com os que, hoje em dia, vão em ranchos às portas das superintendências da PF em todo o País gritar vivas aos caçadores de corruptos. Pouco importa se a mula manca; todos querem rosetar.
Como o assunto está todos os dias nos jornais e nas TVs, é impossível escapar dele. E como a desgraça dos malfeitores – o os assim considerados pela opinião pública – é ainda mais doce que a vingança, que Homero dizia ser ainda mais doce que o mel, é quase unânime a aprovação popular à cruzada comandada pelo meritíssimo juiz Moro. Pelo menos em Goiânia é assim. É o que constatou a pesquisa do Instituto Verus – Estudos de Opinião, realizada com exclusividade para o Diário da Manhã. O instituto fez uma sondagem do humor do goianiense não só a respeito da Lava Jato, mas, também, sobre outros temas polêmicos, já publicados por esta folha diária.
O instituto usou metodologia do tipo quantitativa, com amostragem por cotas proporcionais a sexo, faixa etária e região de moradia no município de Goiânia. Foram ouvidas pessoas acima de 18 anos e residentes em Goiânia há, pelo menos, mais de um ano. Os dados foram coletados entre 23 de julho a 2 de agosto do ano em curso.
Segundo Luiz Felipe Gabriel, diretor do Instituto Verus, o trabalho de campo foi realizado por coletores especialmente treinados para este estudo. 30% de todo o material obtido foi submetido a fiscalização e checagem junto ao próprio entrevistado. A amostra é bem representativa do universo pesquisado. Foram 600 entrevistas, determinando margem de erro de 4,1% para baixo ou para cima.
Segundo o presidente do Verus, a margem de erro tende a se estreitar à medida que os resultados apresentam frequências maiores ou menores. “O instrumento de coleta de dados foi do tipo estruturado com questões fechadas, sendo toda aplicação dos mesmos supervisionadas por fiscais de campo e coordenadores”, explica.
A distribuição dos entrevistados por sexo, idade e local de moradia foi proporcional aos dados demográficos disponibilizados pelo IBGE. Há ligeira preponderância da população feminina sobre a masculina. Por faixa etária, 29% da população está entre 35 a 49 anos, e 26,2% situa-se na faixa acima dos 50 anos. Os mais jovens, entre 18 a 24 anos, representam 18,5% da população.
Aprovação
Foi demandada aos entrevistados a opinião deles sobre a condução da operação que investiga a Petrobras, a Lava Jato. Para 66,1% dos goianienses, a operação vem sendo conduzida de forma correta. Mas uma respeitável minoria de 15,7% acha que estão cometendo abusos. 8,2% dos entrevistados não sabem o que dizer.
Parece que os homens estão melhor informados do que as mulheres sobre a Lava Jato. Entre os homens, apenas 3,9% não sabem opinar. Entre as mulheres, 11,8% não sabem o que dizer. A aprovação à operação (condução correta) apresenta índices quase iguais,: 79,9% homens e 72% mulheres. Dos que dizem estar havendo abusos, 16,1% são mulheres e 15,3% são homens.
Por faixa etária, há menos aprovação entre os jovens e maior aprovação entre as pessoas de meia idade. O índice de aprovação cai entre os mais idosos. Entre os jovens está a maioria dos que acham que está havendo abusos. Na meia idade, a reprovação é menor. Volta a crescer entre os idosos.
Parece que o grau de instrução não inflou muito na opinião do goianiense. Entre os que aprovam, os que reprovam e os que não sabem opinar, a discrepância dos índices por grau de instrução é estatisticamente relevante. Estão todos no mesmo patamar.
Já a verificação por classe social revela algo interessante. Os que mais aprovam são os ricos: 81% da classe A contra 74,5% da classe C. Os que mais reprovam também são os ricos. 16,2% da classe A acham que está havendo abusos. Na classe D, apenas 12,2% pensam assim. Em contrapartida, quase 10% dos muito pobres não têm opinião formada. Entres os pobres, classe C, também é alta a desinformação: 9,5%. Entre os ricos, apenas 2,7 % não sabem o que dizer.
]]>