Lucro picado
Diário da Manhã
Publicado em 28 de julho de 2016 às 02:24 | Atualizado há 4 diasEspecialistas explicam a necessidade de planejamento para quem não possui renda fixa e depende de trabalhos informais
Um levantamento realizado pelo site vagas.com, empresa que desenvolve recrutamento e seleção, feito de 5 a 11 de abril deste ano, mostra que maioria das pessoas desempregadas no País estão endividadas. Nesse sentido, precisam recorrer a uma atividade remunerada, mesmo que informal, para resistirem à crise. Entre as atividades estão: vendas/comercial, trabalhos técnicos, serviços gerais/ajudantes, consultoria, freelance, entre outros. A maioria dessas pessoas tem sérios problemas quando se trata de seus recebimentos, e acabam enfiando os pés pelas mãos. Especialistas dão dicas de como podem equilibrar sua vida financeira.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados no último dia 26, relativos a maio deste ano, apontam que foram eliminados 72.615 empregos celetistas em todo País. O número equivale à retração de 0,18% de assalariados com carteira assinada em relação a abril.
No acumulado do ano, os dados mostram um decréscimo de 448.101 empregos, ou seja -1,13%. Nos últimos 12 meses, houve a redução de 1.781.906 postos de trabalho, correspondendo a um declínio de 4,34 % no contingente de empregados celetistas do Brasil. No Estado de Goiás, em maio, foram contratadas cerca de 44.360 pessoas e demitidas 44.207, segundo o mesmo levantamento.
Educação financeira
Vívian Rodrigues, da DSOP Educação financeira, explica que o profissional que não pode contar com um valor e data fixa de recebimento todos os meses possui um desafio maior no quesito controle, que aqueles que recebem um salário fixo. “Não se trata de uma questão de ser melhor ou pior, são apenas formas diferentes de controlar o fluxo de caixa pessoal”, diz.
Essa indefinição dos valores a serem recebidos e o fato das entradas serem várias vezes e quase sempre em pequenas quantias acarretam a necessidade de prever os gastos futuros e reservar uma quantia para tais fins. “É importante que o profissional saiba controlar esses gastos de forma mais cautelosa, a fim de contribuir sempre para a reserva de emergência, que deve ser maior para estes casos do que para os assalariados”, avalia.
Economia
O fato de receber o dinheiro, geralmente em espécie, de forma dividida durante o mês pode gerar nas pessoas o conforto de não depositar o dinheiro em uma conta bancária, deixando-o guardado em suas casas. Falando em macroeconomia, Vívian explica que existem duas situações ruins: a primeira é que o dinheiro deixa de circular no País e a segunda, mais grave do ponto de vista pessoal, é a de que esse dinheiro está deixando de render juros, enquanto a inflação colabora com a diminuição do poder de compra das pessoas mês após mês.
Nesse sentido a cabeleireira Katharinne Luz, 26, concorda com a educadora financeira. Ela vive uma rotina na qual precisa prever seus gastos a longo prazo para não entrar no vermelho e acabar endividada. Ela conta que evita ao máximo fazer compras parceladas e nas semanas que precisa fazer pagamentos fixos, como parcela de carro e aluguel do salão, retém todo dinheiro que entra para esses fins. “Não acumulo só em uma semana as contas e guardo dinheiro para comprar bens ou gastos que necessitem de valores maiores”, conta.
Katharinne também já esteve do outro lado da moeda, ela, que vez ou outra contrata manicures para o salão, diz que neste caso o controle das finanças precisa ser ainda maior. “O valor do serviço prestado no caso das manicures é bem menor, se a pessoa trabalhar bem ela consegue sim viver disso, mas precisa ter cautela e não sair gastando toda vez que recebe”, diz.
Ela esclarece que nesse caso o pagamento costuma acontecer uma vez por semana, o que torna mais difícil a missão de guardá-lo. “A maioria das meninas reclama, tudo que recebe gasta quando recebem o dinheiro picado, já tentei pagar de duas em duas semanas, com espaços maiores de tempo para ajudá-las, mas só quando elas mesmas me pediam isso”, esclarece.
Contas no azul
Vívian Rodrigues avalia que o primeiro passo para manter as finanças em dia nesses casos é que a pessoa saiba qual é a sua média salarial. Isso pode ser descoberto por meio da média dos últimos meses ou, para os que não têm esse controle, por meio da anotação de toda a receita pelo período de 3 meses. “Com essas informações elaborar um orçamento condizente é primordial, não se esquecendo de separar sempre uma determinada quantia para sua reserva financeira. Além dos investimentos para outros fins, é importante que a reserva seja, no mínimo, seis vezes o orçamento mensal para que ela consiga garantir o pagamento das despesas nos meses que a receita não for como esperada”, diz.
Como o recebimento pode acontecer várias vezes em pequenas quantias, também é importante dar um destino seguro a esse dinheiro. Caso a pessoa receba todos os dias, por exemplo, Vívian aconselha juntar todo o dinheiro e depositar no banco uma vez por semana. “Assim, o dinheiro não fica no bolso sempre e isso, ao mesmo tempo que inibe parte da impulsividade em gastar, também gera renda caso o dinheiro seja investido. No caso dos autônomos, há ainda outra dica importante: é preciso separar o dinheiro pessoal do dinheiro dos negócios”, afirma.
O economista Flávio Guerra também acha interessante a opção de investir esse dinheiro. Ele cita algumas opções de baixo risco para que sejam avaliadas a depender do seu caso. “Os títulos de tesouro direto, fundo de investimentos, Letra de Crédito Imobiliário (LCI), são algumas opções interessantes para investir seu dinheiro sem que ele perca seu valor”, explica.
Salário picado
Mesmo para quem é assalariado, existem empresas que oferecem a opção de vale durante o mês para o funcionário. Não existe nenhuma previsão em lei sobre o pagamento de vales, no entanto, como explica o economista do Flávio Guerra, o valor máximo não deve ultrapassar os 40 % do salário. “A única diferença entre quem trabalha formalmente, e aquela pessoa que não tem um salário fixo por mês está no fato de esse segundo indivíduo não ter certeza do valor exato a receber no final do mês. Para quem conta com a possibilidade do vale, é preciso cautela, usar somente quando de fato for preciso”, explica.
A analista de marketing da Fast Açaí, Cicera Correia, 26, sempre utiliza o benefício. No entanto, ela explica que é uma forma de não concentrar suas dívidas em apenas uma data, logo no início do mês. “É interessante para o funcionário, na Fast Açaí, onde trabalho o valor não pode ultrapassar os 30% do salário. Desse modo não tem como ficar sem dinheiro no final do mês. Sempre tenho uma quantia para receber”, esclarece.
Ela ficou cerca de cinco meses trabalhando apenas como freelance e faz uma comparação. “Quando não existe o salário fixo a gente acaba fazendo um planejamento maior do que recebe. Acabei aprendendo a regrar mais meus gastos por não ter certeza de quanto iria receber. Tem meses que ganhamos mais e outros menos”, explica.
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