Senado avalia viabilidade da ferrovia que liga Brasil ao Peru
Diário da Manhã
Publicado em 26 de julho de 2016 às 02:55 | Atualizado há 5 diasQuando cruza Campinorte (Goiás) e Vilhena (Roraima), com 1.641 km de extensão; senadores iniciam estudos para construção da ferrovia
A rodovia que poderá contribuir para a redenção econômica nacional está em fase de estudos pelo Ministério dos Transportes. Trata-se da Rodovia Transcontinental Brasil e Peru, motivo de recente audiência pública conjunta da Comissão de Serviços de Infraestrutura, Comissão de Assuntos Econômicos e Comissão de Relações Exteriores no Senado, para discutir o projeto.
Uma das audiências públicas que mais movimentou a Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) no primeiro semestre foi sobre a Ferrovia Transcontinental, que vai ligar o litoral brasileiro ao litoral peruano.
A iniciativa beneficiará os Estados de Goiás, Mato Grosso e Rondônia, no Brasil. O Peru e demais países vizinhos sentem a falta de uma maior integração com os brasileiros, um bom mercado para os latino-americanos. Para grande parte do centro do Brasil nasce mais uma oportunidade de conquista mais direta do continente asiático. Na Ásia estão países como a China e a Índia, os países mais populosos do mundo, com mais de dois bilhões de habitantes.
A Ferrovia Transcontinental foi planejada para ter aproximadamente 4.400 km de extensão em solo brasileiro, entre o porto do Açu, no litoral do Estado do Rio de Janeiro e a localidade de Boqueirão da Esperança/AC, como parte da ligação entre os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Peru. Entre Campinorte, norte de Goiás, e Vilhena, em Roraima, com estimados 1.641 km de extensão, essa ferrovia é denominada Ferrovia de Integração do Centro-Oeste – Fico.
Mercado da Ásia
O objetivo dessa rodovia de integração internacional é estabelecer alternativas mais econômicas para os fluxos de carga de longa distância; favorecer a multimodalidade; interligar a malha ferroviária brasileira; propor nova alternativa logística para o escoamento da produção agrícola e de mineração para os sistemas portuários do Norte e Nordeste; e incentivar investimentos, que irão incrementar a produção e induzir processos produtivos modernos.
Foram levados em conta os benefícios de proporcionar alternativa no direcionamento de cargas para os portos do Norte e Nordeste, principalmente aquelas produzidas em Goiás, Mato Grosso e Rondônia, e assim, reduzir o percurso e o custo do transporte marítimo de grãos e minérios exportados para os portos do oceano Atlântico, Europa, Oriente Médio e Ásia. O aumento da produção agroindustrial da região, motivada por melhores condições de acesso aos mercados nacional e internacional; e possibilitar ou estimular a exploração de reservas minerais ainda pouco exploradas.
Os valores estimados e a mão de obra a empregar ainda não foram apresentados. Sabe-se, contudo, que os valores serão prévia e futuramente estimados para os múltiplos trechos das obras. Os estudos de pré-viabilidade ainda não foram finalizados.
[box title=”Senado agiliza aproximação com a China e o Peru”]
Nessa audiência do Senado, a empresa China Railway Eryuan Engineering Group Co Ltd, mais conhecida pela sigla CREEC, apresentou informações acerca do memorando de atendimento já firmado entre o Brasil, a China e o Peru com alternativas de rotas, composição das cargas, critérios técnicos, além de outras informações sobre as etapas dos estudos em realização pelo MT.
A audiência pública contou com a participação de representantes dos órgãos e entidades relacionados a seguir: Casa Civil da Presidência da República; Ministério dos Transportes; Ministério das Relações Exteriores; Conselho de Estado da República Popular da China; Governo do Peru; Conselho Empresarial Brasil-China – CEBC; e do Grupo de Trabalho Brasil-China-Peru. A audiência foi presidida pelo Senador Wellington Fagundes.
A Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. também apresentou diversas informações a respeito do andamento de outras obras que poderão vir a fazer a conexão com a Ferrovia Transcontinental Brasil e Peru (também conhecida como Ferrovia Bioceânica). Além de dados do projeto dessa ferrovia e do cronograma de estudos e projeto considerado no memorando do entendimento, que foi firmado em maio de 2015.
Exclusividade
O Ministério dos Transportes, respondendo a questionamentos do Diário da Manhã, salienta que a “ferrovia em questão ainda está em fase de estudos, não havendo, por enquanto, obras em andamento, mas apenas perspectivas de possíveis conexões com outras ferrovias, rodovias, hidrovias e portos, que seriam, em conjunto, parte de uma estrutura de escoamento de produtos”.
O ministério adianta, no entanto, que será estudado o traçado ferroviário que se inicia em Campinorte, região norte de Goiás, onde se conecta com a Ferrovia Norte – Sul, e que vai até um porto na costa do oceano Pacífico no Peru. Trata-se de um trecho ferroviário considerado longo, com 3.300 quilômetros em território brasileiro e entre 996 quilômetros e 1.672 quilômetros em território peruano. Esses estudos possuem diferentes graus de aprofundamento, a depender da região considerada, conforme observa o MT.
O Ministério dos Transportes observa que o traçado considerado no âmbito do Memorando de Entendimento Brasil – China – Peru coincide com alguns trechos já previamente estudados pela Valec. Como, por exemplo, o trecho de 647 quilômetros entre Lucas do Rio Verde (MT) e Vilhena (RO) e o trecho de 901 quilômetros entre Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde (MT), com projeto básico já concluído.
O trecho da ferrovia entre Campinorte e Vilhena é denominado Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO). Conforme a Valec, já possui Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), e com Licença Prévia nº 493-2014, emitida pelo Ibama. Segundo o MT, os demais trechos ainda se encontram em estágio incipiente, no nível de pré-viabilidade.
No Peru, estão sendo avaliadas três alternativas de trechos: Alternativa Norte, 1.629 km, chegando ao porto de Bayovar; Alternativa Central, 996 km, chegando ao porto de Huacho; e Alternativa Sul, 1.672 km, chegando ao porto de Marcona.
Acompanhando de perto o desenrolar da questão, o senador Wilder Morais (PP-GO) se manifestou favorável à iniciativa de aproximação do amplo mercado asiático e latino-americano, através do Peru. “O interior brasileiro tende a realizar mais um sonho de integração nacional e internacional. O primeiro, sem dúvida, aconteceu com as entradas e bandeiras, que estenderam nossas próprias fronteiras. O segundo ocorrerá com a Transoceânica, ligando praticamente o Atlântico ao Pacífico por intermédio do Peru, e sua integração com as demais rodovias que cortam o País, ferrovias e hidrovias na Amazônia brasileira”, apontou o senador goiano.
O presidente da Federação da Agricultura (Faeg), com uma rede de mais de 120 sindicatos rurais em Goiás, José Mário Schreiner, avalia a Rodovia Transcontinental como uma das saídas para a produção de grãos, carnes e minérios para a Ásia. Como o senador Wilder Morais, pensa que “é importante a integração nacional dos transportes para reduzir o Custo Brasil”..[/box]
]]>