Opinião

Noventa anos a serviço do Reino

Diário da Manhã

Publicado em 13 de julho de 2016 às 01:53 | Atualizado há 6 dias

As datas marcantes da existência de um indivíduo são oportunidades importantes para celebrarmos a vida e proclamarmos os feitos que porventura tenha realizado. Celebrar a vida das pessoas que se consagraram ao serviço de Deus, amando o bem e a justiça é testemunhar a graça divina que age e impulsiona os que arrostando todos os percalços e indiferentismos desse mundo, perseveram na missão para a qual o Senhor os escolheu: “Não fostes vós que me escolhestes; ao contrário, Eu vos escolhi a vós e vos designei para irdes e dardes fruto, e fruto que permaneça.” (João 15:16). O Criador é sempre mais louvado nos atos praticados em seguimento ao Seu Filho e o exercício quotidiano da vivência evangélica é luzeiro a atrair os homens e mulheres de boa-vontade para as fileiras daqueles que pelejam pela construção do Reino de Deus.

Os noventa anos de Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, Arcebispo Emérito de Goiânia, é momento propício para proclamarmos as ações de Deus por meio de seu ministro ordenado. Sua história de vida é permeada por abundantes graças, que devem ser proclamadas para a honra e glória Daquele que o escolheu do meio de seu povo e o constituiu sacerdote.

Este relato resumindo a vida laboriosa de Dom Antonio, desde o nascimento em Orizona aos dias atuais, não quer outra coisa a não ser, lembrando Santa Terezinha do Menino Jesus, cantar o que se deve cantar eternamente: As misericórdias do Senhor (Salmo 89,1).

Família

“A família é um fundamento indispensável para a sociedade e os povos, assim como um bem insubstituível para os filhos, dignos de vir à vida como fruto do amor, da entrega total e generosa dos pais. Como pôs em evidência Jesus, honrando a Virgem Maria e São José, a família ocupa um lugar primário na educação da pessoa. É uma verdadeira escola de humanidade e de valores perenes. Ninguém se deu a vida a si mesmo. Recebemos de outros a vida, que se desenvolve e amadurece com as verdades e os valores que aprendemos no                relacionamento e na comunhão com os demais.” (Papa Bento XVI)

Dom Antonio Ribeiro de Oliveira é oriundo de uma família profundamente cristã e honrada de lavradores do município de Orizona, a antiga Campo Formoso cidade que fora conhecida, primeiramente, por “Capela dos Correias”. Sua família é pioneira do município, estando, inclusive, ligada à mudança do primitivo nome da localidade.

Conta-nos o historiador Olímpio Pereira Neto  que o Padre Simeão Estilita Lopes Zedes, parente da família de Dom Antonio, indo em visita a eles que residiam na fazenda “Pontinhas”, admirou-se com a paisagem da região, formada por campos quase sempre cobertos com “capim do cacho branco”. Celebrando missa na capela do lugar, sugeriu que o nome “Capela dos Correias” fosse mudado para “Campo Formoso”, nome mais bonito e de forte apelo local. Dessarte, a “Capela dos Correias” passou a ser conhecida por Campo Formoso, nome que perdurou até 1944, quando foi mudado para Orizona.

Dom Antonio nasceu na fazenda “Pontinhas”, distante nove quilômetros da sede municipal, a 10 de junho de 1926, filho de José Ribeiro de Oliveira e Luíza Marcelina de Castro, casal unido, temente a Deus, que chegou a comemorar 62 anos de feliz união matrimonial, criando 10 filhos: João Batista Ribeiro, Maria Ribeiro de Oliveira, Irmã Geralda Ribeiro de Oliveira (salesiana), Ana Maria Ribeiro, Irmã Maria Luiza Ribeiro de Oliveira (salesiana), Manoel Ribeiro de Oliveira, Antonio Ribeiro de Oliveira, Irmã Terezinha Ribeiro de Oliveira (carmelita), Luzia Ribeiro de Oliveira (falecida com a idade de cinco anos) e Afonso Ribeiro de Oliveira. Dom Antonio, foi, portanto, o sétimo filho de uma prole de 10, e começou, ainda criança, como costume naquele tempo, a auxiliar a família nos trabalhos do campo, cuidando das plantações diversas, de arroz, café ou milho, campeando vacas pelos pastos da fazenda de seus pais ou como “candieiro”, conduzindo o velho carro de boi da família pelas estradas sertanejas de Orizona. De seus pais, Antonio herdou a piedade e o temor de Deus, acrisolando em seu pequeno coração de menino os mais caros valores cristãos.

José Ribeiro de Oliveira, juntamente com sua esposa e filhos, participava das principais celebrações da paróquia de Orizona. Homem morigerado, auxiliava a vida paroquial no que fosse necessário. Aos vizinhos de fazenda prestava zelosa assistência, principalmente em caso de enfermidade. Sem se descurar da assistência religiosa à sua numerosa família, pela dificuldade de locomoção à época, Dona Luiza, sua esposa, era a catequista dos filhos, ensinando-lhes os primeiros passos da vida cristã.

Primeiros estudos

Em Orizona, Antonio iniciou os estudos com o tio materno, Samuel Fernandes de Castro, na escola rural do lugar, constituída de uma única sala de aula, com alunos de diversas idades. Nessa escola passou um ano aprendendo as primeiras letras e vivendo, é claro, os folguedos próprios da idade com os amigos e parentes da região, que também ali estudavam. O professor, como soía ocorrer naquela época, cuidava com afinco da disciplina dos alunos e, como advertência, pendurada em uma parede a temida palmatória, que o mestre quase nunca usava, por desnecessário, visto contar com a boa índole e obediência de seus alunos.

A vocação para o sacerdócio

A paróquia de Orizona, ainda que contasse com párocos residentes, era, de tempos em tempos, visitada pelos Missionários Redentoristas, filhos de Santo Afonso, do convento de Campininhas. Um desses missionários, o padre Nestor de Souza (29/04/1891 – 30/04/1945), despertou no pequeno Antonio, então com 8 anos, o desejo de ser padre. Na realidade, Nosso Senhor o chamava, e Sua voz poderosa despertava em Antonio o desejo de O servir. O Senhor o chamava e sua resposta seria sim, um sim perseverante, decidido. Antonio Ribeiro repetiria com o profeta Jeremias a exclamação: Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir (Jer 20:7) e este amor pelo Mestre seria para toda a vida, assumindo o chamado sem olhar para trás.

Seguindo seu coração, Antonio manifestou ao pai, o senhor José Ribeiro, o desejo de ser padre. Religioso como era, seu José assentiu ao desejo do filho. Apresentado a Dom Emanuel Gomes de Oliveira, então Arcebispo de Goiás, este prometeu que assim que fosse reaberto o seminário de Silvânia ele seria chamado.  Passados dois anos, o vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, de Orizona, padre José Trindade da Fonseca e Silva, transmitiu ao vocacionado o chamado de Dom Emanuel para ingressar no Seminário Santa Cruz, em Silvânia. Era o ano de 1936. Em Silvânia teve como colegas os alunos João Botelho, Isócrates de Oliveira e Nelson Rafael Fleury, que terminaram os estudos e se ordenaram presbíteros. Outros cinco colegas não lograram terminar os estudos: Lindolfo Louza Filho, José Nascimento, Alair, Geraldo da Paixão e Hermelindo de Siqueira.

Os estudos eclesiásticos

Os sete primeiros anos de estudos se deram em Silvânia e Mariana. Até que se concluísse a então chamada 6ª série, Antonio Ribeiro teve como reitores os padres Abel Ribeiro Camelo – goiano, que mais tarde seria bispo de Jataí e, posteriormente, da Diocese de Goiás –, e José Lázaro Neves, mais tarde bispo de Assis, em São Paulo.

Seguindo os estudos, de 1943 a 1944, cursou Filosofia no Seminário Central da Imaculada Conceição, no Ipiranga, na capital paulista, sob o reitorado do padre Manuel Pedro da Cunha Cintra, mais tarde bispo de Petrópolis. Em São Paulo, o seminarista Antonio Ribeiro permaneceu dois anos, sempre aplicado nos  estudos.

Terminado o curso de filosofia, retornou a Mariana para cursar Teologia no Seminário São José, durante quatro anos, de 1945 a 1948. Seu reitor era o padre José Lázaro Neves, que conhecera como reitor do Seminário Santa Cruz de Silvânia. Em junho de 1948, no Congresso Eucarístico de Goiânia, o subdiácono Antonio Ribeiro serviu ao solene pontifical presidido por Dom João de Barros Câmara, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro.


Ordenação presbiteral e ministério

No dia 2 de abril de 1949, em Mariana, das mãos de dom Helvécio Gomes de Oliveira, arcebispo daquela arquidiocese e irmão de dom Emanuel, recebeu a ordenação sacerdotal. Contava apenas 22 anos, mas recebera licença especial do Santo Padre Pio XII para sua ordenação antes da idade canônica. Retornando a Goiás, cantou a sua primeira missa em sua terra natal, na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, a 5 de junho de 1949.

Assumindo as funções inerentes ao sacerdócio, no mesmo ano tornou-se coadjutor da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora de Goiânia, o primeiro templo religioso da nova capital, que existiu na Rua 19, nos fundos da catedral, onde hoje se encontra o Edifício Dom Abel.

Sempre pronto para o serviço, neste mesmo ano de 1949, foi professor de Latim e secretário da Faculdade de Filosofia de Goiás, recém-fundada por Dom Emanuel Gomes de Oliveira. Em 1950 foi nomeado reitor do Seminário Santa Cruz, em Silvânia, permanecendo no reitorado por 5 anos. Concomitante, atendia a paróquia de Vianópolis, juntamente com o padre Nelson Rafael Fleury, seu amigo e companheiro desde a época do seminário menor, e o padre José Lima.

Foi designado Cônego Honorário do Cabido de Mariana em 1954, e em abril de 1955 o Cônego Antonio Ribeiro de Oliveira retornou à sua terra natal, Orizona, nomeado vigário da Paróquia Nossa Senhora da Piedade. Permaneceria em Orizona até julho de 1957, transferindo-se para Goiânia a chamado de dom Fernando Gomes dos Santos, primeiro arcebispo da recém criada arquidiocese, para assumir o cargo de vigário da Catedral, a partir de 1º de agosto de 1957. Em 1958, elevado à dignidade de monsenhor, foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese de Goiânia, função que desempenhou até o ano de 1975.

Exerceu as funções de vigário da catedral até setembro de 1961, tendo prestado inestimável contribuição para o término das obras da sé goianiense, que se arrastavam desde a época de Dom Emanuel.

Bispo auxiliar de Goiânia

Em agosto de 1961, foi nomeado bispo titular de Arindela e Auxiliar de Goiânia, pelo Papa João XXIII, tendo desempenhado importantes missões nesse pastoreio, que exerceu por 14 anos. Foi ordenado bispo por Dom Fernando Gomes dos Santos, na Catedral de Goiânia, a 29 de outubro de 1961. Foram consagrantes Dom Abel Ribeiro Camelo e Dom José Lázaro Neves, ambos reitores de quando fora seminarista. Foi pregador Dom Hélder Câmara. Dom Antonio era, naquele momento, um dos mais novos bispos do episcopado católico.

Esteve presente, em 1965, no encerramento do Concílio Vaticano II, participando de sua última sessão. Este episódio nunca seria esquecido por Dom Antonio, deixando imorredouras recordações da epopeica demonstração de fé dos padres conciliares reunidos em torno do Santo Padre, chefe visível da Igreja Militante. Foi apresentado pessoalmente ao Santo Padre Paulo VI, durante a audiência concedida aos bispos latino-americanos, momento do qual não se recorda sem se emocionar.

Lembrando o Concílio que tanto bem fez à Igreja e ao mundo, Dom Antonio recorda sempre a impressão que lhe causou a presença dos 2.400 bispos reunidos na basílica de São Pedro, oriundos de todas as partes do mundo, de todas as raças e de todos os idiomas vivos. Naqueles dias emocionantes, a universalidade da Igreja Católica se comprovava em toda sua realidade, no episcopado mundial.

Totalmente devotado à Igreja, em 1966, com a morte de Dom Abel, bispo da Diocese de Goiás, foi designado para Administrador Apostólico daquela Diocese, sede primacial da Igreja Goiana. Nesse pastoreio, permaneceu por um ano, entregando a Diocese a Dom Tomás Balduino, o novo bispo nomeado. Foi também Administrador Apostólico da Diocese de Itumbiara, após a morte de seu primeiro bispo, Dom José Veloso, administrando a Diocese de maio de 1972 a agosto de 1973, quando tomou posse o novo bispo Dom José Lima.

Em 1965, Dom Antonio foi escolhido para presidente do Conselho Estadual de Educação. Prestou inestimável serviço à Educação no Estado de Goiás, atuando no Conselho de Educação por duas décadas.

Bispo de Ipameri

Em 19 de dezembro de 1975, o Papa Paulo VI nomeou Dom Antonio para bispo da Diocese de Ipameri. Sua posse se deu no dia 14 de março de 1976, contando com a presença de Dom Fernando Gomes dos Santos. De certa forma, o bom filho à sua terra retornava, já que Orizona é uma das muitas paróquias da Diocese de Ipameri.

Pastor zeloso, Dom Antonio imprimiu em seu pastoreio um cuidado especial pela formação do clero. Construiu o Seminário Maior da Diocese de Ipameri, Seminário Mater Eclesiae, inaugurando-o a 21 de abril de 1980, em cerimônia presidida por Dom Fernando. Esteve sempre junto ao seu rebanho, não poupando esforços para o progresso espiritual e o bem social da porção do povo de Deus a ele confiado.

Dom Antonio e Dom Fernando cultivaram sólida amizade, que foi crescendo à medida que passavam os anos. Dom Antonio, até a sua nomeação para bispo de Ipameri, esteve sempre ao lado de Dom Fernando, como vigário da catedral, vigário geral da arquidiocese e bispo auxiliar. Foram 18 anos na arquidiocese de Goiânia, ao lado de Dom Fernando. A transferência para Ipameri não diminuiu os fortes laços que os uniam. Encontravam-se sempre, aconselhavam-se e cuidavam cada qual da missão que o Senhor lhes confiara.

Arcebispo de Goiânia

Em 1985 a Igreja de Goiânia se vestiu de luto pelo falecimento de seu primeiro arcebispo. Após a morte de Dom Fernando, Dom Antonio foi chamado pelo Papa João Paulo II para outra importante missão. No dia 30 de outubro de 1985, Dom Antonio foi nomeado arcebispo metropolitano de Goiânia, Igreja particular que conhecia como ninguém, não somente a sua história, mas também os frutos da evangelização, seus problemas e desafios.

Tomou posse da arquidiocese a 12 de janeiro de 1986, em concorrida celebração realizada ao ar livre, em frente à catedral. Homem de oração e reflexão, Dom Antonio deu continuidade ao trabalho pastoral de Dom Fernando. Assumiu as CEBs como eixo da caminhada pastoral da arquidiocese, e apoiou em todos os sentidos a reunião do 6º Encontro Intereclesial de CEBs, realizada em Trindade e que tinha sido assumida por Dom Fernando. Também deu continuidade às Assembleias Arquidiocesanas, organizando quatro delas durante o tempo em que foi arcebispo de Goiânia.

Teve especial carinho com o Seminário Santa Cruz, fazendo-se presente junto aos seminaristas e incentivando os estudos e a prática pastoral nas comunidades. Como resultado de sua atuação na formação de novos presbíteros, foram ordenados trinta e cinco padres durante seu episcopado.

Logo no início de seu pastoreio em Goiânia, com espírito desprendido e prenhe de ação evangélica, dom Antonio coordenou os trabalhos para a entrega de 526 lotes a famílias carentes que haviam invadido área pertencente à Arquidiocese, onde hoje se localiza o Jardim Dom Fernando.

Trabalhou sempre em sintonia com o clero, conclamando a todos e não poupando esforços para que a Igreja Arquidiocesana se posicionasse sempre em favor dos mais humildes.

Reformulou os Estatutos da então Universidade Católica de Goiás, contando, nesse talante, com a colaboração de seu vigário geral, padre José Pereira de Maria. Com isto, houve uma maior aproximação da Universidade com a vida pastoral da Arquidiocese.

Fato inesquecível foi a visita do Santo Padre João Paulo II à Arquidiocese de Goiânia. Na tarde do dia 15 de outubro de 1991, João Paulo II presidiu a Celebração da Palavra e fez uma bonita reflexão sobre a comunidade eclesial. A vinda de João Paulo II à Arquidiocese confirmou a caminhada da Igreja do Regional Centro-Oeste. Dom Antonio se recorda emocionado daquele dia:

“Tive a graça de como Arcebispo de Goiânia em 1991, receber a visita pastoral de São João Paulo II. Foi uma grande bênção para nós da Arquidiocese e para todo o Estado de Goiás. Lembro que o Regional Centro Oeste havia pedido que, numa segunda viagem do Papa ao Brasil (a primeira acontecera em 1980), Goiás fosse contemplado com sua visita. E assim aconteceu. Por causa de uma agenda muito intensa, nossa capital o receberia por poucas horas. Aqui ficou estabelecido, pela comissão preparatória de viagem, que haveria uma Celebração da Palavra. Aprovado o roteiro, uma comissão organizada pelo Governo do Estado e pela Arquidiocese, começou, desde janeiro de 1991, os preparativos. Escolhido o local, na área externa do Estádio Serra Dourada, ali se montou todo o necessário para acolher Sua Santidade e para receber a multidão que o encontraria.

No dia 15 de outubro, à tarde, chegou a Goiânia o Santo Padre, em voo especial, acompanhado de outro avião, que trazia a imprensa internacional. No avião papal, uma grande comitiva de membros da Cúria Romana e da CNBB.

Foi feito um desfile rápido do Aeroporto Santa Genoveva até o local da celebração, passando pela BR-153.

Sua Santidade aparentava certo cansaço e pareceu um pouco apreensivo. Ao chegar à Praça fronteira ao Estádio, uma multidão, calculada pela Polícia Militar em 350 mil pessoas, aplaudia emocionada e frenética o ilustre visitante.

Ao se deparar com aquele entusiasmo, João Paulo II se alegrou, toda aquela apreensão inicial se transformou em alegria. Era o pai feliz com a acolhida filial. Sua Santidade presidiu a Celebração e na homilia falou-nos sobre a Comunidade Eclesial. Foi uma grande exortação paternal que nos confortou e confirmou a caminhada.”

Dom Antonio se recorda que após discursar, o Santo Padre cumprimentando-o, fez a seguinte observação: Você fala forte! Na volta para o aeroporto, com ênfase, disse: eu precisava vir a Goiânia para te entender! E na despedida, já estando para embarcar, voltando-se para Dom Antonio, o Vigário de Cristo disse com humildade: quero, de novo, agradecer!

Foram momentos de júbilo e graça para a Igreja Particular de Goiânia que se viu confirmada em sua fé e fortalecida para a caminhada, na construção do Reino de Deus. Este evento histórico já se encontra indelevelmente registrado nos anais da história de nosso estado.

Arcebispo Emérito

Dom Antonio enfrentou lutas e inúmeros trabalhos, gastando-se pela causa do Reino. Serviu à arquidiocese de Goiânia até sua renúncia, aos 75 anos. No dia 8 de maio de 2002, foi anunciada a nomeação de Dom Washington Cruz para arcebispo de Goiânia. Dom Antonio entregou a arquidiocese ao seu novo arcebispo no dia 14 de julho de 2002.

Retirando-se para a paróquia de Inhumas em julho de 2002, assistindo os paroquianos com dedicação e espírito de serviço evangélico, passou a exercer a sua vocação primeira, a de padre, junto do seu povo. Acompanhou-o e ainda o assiste atualmente, a dedicada sobrinha Zilda, sempre zelosa com Dom Antonio e que recebe, gentilmente, os inúmeros amigos e parentes do querido arcebispo emérito.

Retornou a Goiânia em 7 de setembro de 2012, e como arcebispo emérito continua a auxiliar a arquidiocese, seja na celebração de missas, aconselhamento pastoral e como pregador de retiros. É reconhecido como exímio orador, tendo uma prodigiosa memória, enorme capacidade de síntese e organização de ideias.

Dom Antonio, do alto de seus 90 anos, não cantou o seu Nunc Dimittis. Incansável no trabalho na vinha do Senhor coloca-se, com toda a sabedoria dos anos, a serviço do Reino, na pregação e vivência evangélicas. Sua visão profética é atualíssima. Esteve sempre do lado dos excluídos, por entender que o amor cristão é misericordioso e que a misericórdia é o rosto de Deus. Nisto está em perfeita sintonia com o Papa Francisco, que pela bula Misericordiae Vultus proclamou o Ano Santo da Misericórdia.

O testemunho de Dom Antonio é semente fecunda que germina e frutifica na vida da Arquidiocese de Goiânia. A regra de vida de Dom Antonio pode ser resumida nestas suas palavras citadas por Monsenhor Luiz Gonzaga Lobo, palavras embebidas de fé perseverante e operosa:

“Deixar de lado o serviço aos pobres é um contratestemunho. A doação aos pobres, a opção evangélica pelos excluídos é sempre o sinal que mostra, ao Brasil e ao mundo, a identidade da Igreja de Cristo. Precisamos repetir a prática da misericórdia. Misericórdia gratuita, imensa, inesgotável, como nas primeiras comunidades cristãs, que não tinham entre eles nenhum necessitado.”

 

(Antônio César Caldas Pinheiro, diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central da PUC Goiás, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e presidente da Academia Itaberina de Letras e Artes)

]]>


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias