Cotidiano

Vírus bovino pode estar associado à microcefalia

Diário da Manhã

Publicado em 6 de julho de 2016 às 03:21 | Atualizado há 9 anos

Descoberta pode justificar motivo do Nordeste ser o mais afetado com a epidemia

Pesquisadores brasileiros encontraram partículas do vírus da diarreia viral bovina (BDVB), além do vírus zika, em tecido cerebral de fetos e recém-nascidos com microcefalia, um agente que até hoje se imaginava afetar apenas rebanhos animais, como bovinos.

A pesquisa, feita por integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), encontrou trechos do BVDV em três amostras, um número ainda pequeno para qualquer afirmação categórica, mas já relevante para os cientistas.

“Essa é uma peça importante dentro desse quebra-cabeças. Nunca foi descartada a possibilidade de que, além do zika, outro vírus estivesse relacionado ao aumento de casos de bebês com problemas neurológicos”, disse um integrante da força-tarefa do Ministério da Saúde destacado para avaliar o caso.

O BVDV, da mesma família do zika (Flaviviridae), causa uma série de doenças no gado, como diarreias e problemas respiratórios, e gera grande quantidade de abortos e más-formações, como a artrogripose, uma síndrome que provoca deformações nas articulações, já identificada em vários bebês com microcefalia. Semelhança que despertou o interesse dos pesquisadores.

Assim como acontece com bebês, pesquisas mostram que a ação do BVDV na formação do feto bovino muda de acordo com o período de infecção. Assim como os humanos, o período de gestação do gado é de nove meses. “Abortos e más-formações são mais comuns no primeiro trimestre da gestação dos bovinos”, afirmou Eduardo Flores, professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa Maria.

O professor afirma que, embora muito presente no rebanho brasileiro, até hoje não houve relato sobre a transmissão do BVDV para seres humanos. Também não há registros sobre contaminação do vírus no meio ambiente. Uma das hipóteses de pesquisadores é de que o fato de o zika e o BVDV serem da mesma família possa aumentar a possibilidade de interação. “Talvez isso ajude a explicar a forma como o zika rompe a barreira placentária e ataca o feto”, diz um representante do governo de Pernambuco.

Nordeste

A interação entre os vírus pode ajudar a explicar, também, porque a epidemia do zika atacou o Nordeste com muito mais força do que qualquer outro lugar, como outras regiões ou países. A resposta ouvida até agora era de que a epidemia de zika em outras regiões do País é muito recente e que, por isso, seria preciso esperar alguns meses até que bebês com a síndrome congênita começassem a nascer.

“O tempo está passando e a epidemia de grandes proporções esperada no Sudeste não está acontecendo”, afirmou o representante. O último boletim do Ministério da Saúde sobre a microcefalia mostra que há 1.417 casos confirmados no Nordeste e 106 no Sudeste.

A hipótese é que o vírus bovino pode estar entrando em contato com humanos por meio de água contaminada pelas fezes de animais. “A região afetada sofre com desabastecimento de água. Poços geralmente estão próximos de locais onde o gado pasta”, disse o pesquisador. Há também a possibilidade do consumo de leite cru. Tais fatores de risco, no entanto, sempre existiram. A dúvida de pesquisadores é por que um vírus presente há tanto tempo no País e em outras partes do mundo agora está sendo associado a uma doença tão grave.

“A diferença é que agora entra em cena o zika, que poderia de alguma forma se associar com BVDV”, diz um integrante do Ministério da Saúde. “Mas são hipóteses. São necessários ainda estudos para comprovar alguma relação”. Santos afirma que, no momento, não é preciso adotar nenhum cuidado extra. “São as recomendações de sempre: comer carne cozida, usar leite pasteurizado”.

(Com Agência Brasil e Estadão)

 

 

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias