Cuidado! Ela está de TPM
Diário da Manhã
Publicado em 18 de junho de 2016 às 03:38 | Atualizado há 2 semanas“Já quebrei rádio, celular, já dei soco na parede e todas às vezes eu choro que nem uma doida. Quando estou nessa fase me tranco dentro de casa e não saio para nada, porque eu sei que se mexer comigo viro uma fera”. A narração é da dona de casa Márcia Cipriano, 35 anos, mas muitas mulheres com certeza se identificaram ou compreenderam a situação dela.
Engana-se quem acredita que TPM é um assunto somente para mulheres, o que muitos homens não sabem é que esta tensão pode ser sentida de maneira tão exacerbada que se torna algo patológico.
A TPM, ou Síndrome Pré-Menstrual (SPM), se caracteriza pelo conjunto de sensações que ocorrem em torno de 10 dias antes do início do ciclo menstrual, e atinge cerca de 70% das mulheres brasileiras, conforme dados do Ministério da Saúde.
Durante aproximadamente 28 dias, o corpo da mulher sofre diversas alterações que preparam o útero para receber um bebê. Nos primeiros 14 dias ocorrem o período de ovulação, e junto com ele a elevação dos níveis de estrógeno. Esse hormônio é um dos responsáveis por controlar o bem-estar. Nos 14 dias seguintes, a parede do útero começa a engrossar, como se estivesse preparando uma “cama” para o possível bebê. Nessa fase ocorre uma queda nos níveis de estrógeno e elevação nas taxas de progesterona.
“Essa alteração, quando muito brusca, já pode causar uma série de sintomas, como ansiedade, alterações do humor, dores nos seios e outros tantos conhecidos das mulheres”, explica a endocrinologista Andressa Heimbecher, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Passados esses 14 dias, o endométrio, parede que recobre o útero, começa a descamar e ser eliminado na forma de menstruação, gerando com ela outra queda hormonal, dessa vez na progesterona e no estrógeno. Por isso em algumas mulheres os sintomas podem ser ainda mais intensos durante a menstruação.
“Eu sofro muito com essa TPM, uma vez quando estava nessa fase quase bati meu carro no carro do meu ex-marido. Eu recebi uma ligação que ele estava namorando uma mulher dias após a nossa separação e eu fiquei uma fera. Fui atrás dele e quebrei seu carro, puxei o cabelo da suposta namorada, foi horrível”, lamenta Márcia Cipriano.
Segundo a endocrinologista Alessandra Rascovski, existem diferentes sintomas e abordagens terapêuticas para a Síndrome Pré-Menstrual. “Apesar de parecer que todas as mulheres sofrem com a TPM da mesma forma, os sintomas são diferentes de uma para a outra, e até de um mês para o outro”, afirma a médica.
LISTA
Alessandra divide a TPM em cinco diferentes tipos. “Tem a TPM do grupo A, que provoca agressividade, do tipo C, da compulsão por doces, do grupo D, da depressão, do tipo E, do enjoo e cólica e do tipo H que provoca o inchaço”, informa.
Contudo, segundo a endocrinologista, a TPM apresenta uma lista de sintomas gigantesca. Envolve depressão, pensamentos autodepreciativos, ansiedade, tensão, nervosismo, diminuição do interesse pelas atividades habituais, dificuldade de concentração, alteração no apetite, cansaço, falta de energia, problemas na qualidade do sono, tristeza repentina, choro fácil, carência afetiva, sensibilidade nas mamas e em outras partes do corpo, dores musculares, ganho de peso, agressividade, sensação de estar fora de controle, enjoos, enxaqueca, vômitos, excitação, problemas de pele e outros.
“Ainda assim, para que esses sintomas sejam efetivamente considerados patológicos, é importante que interfiram nas atividades cotidianas da mulher e só ocorram na fase pré-menstrual e cessem totalmente após o sangramento menstrual, desaparecendo completamente alguns dias após”, ressalta a médica.
Para Alessandra, existem muitas hipóteses para explicar as causas da Síndrome Pré-Menstrual, como é chamada na literatura médica. “A mais comum é que os hormônios sexuais, durante o ciclo menstrual, interferem no sistema nervoso central: alterações no estrogênio e na progesterona podem afetar os neurotransmissores, como a serotonina, e interferir no controle emocional, padrão alimentar e sono. Outros estudos apontam que deficiências nutricionais, como a de magnésio e das vitaminas A e B6, agravam os sintomas”, afirma.
Ela ainda explica que a forma grave de TPM é chamada de Disforia Pré-menstrual e afeta de 3 a 8% das mulheres. O tratamento vai de suplementos vitamínicos e fitoterápicos, medicamentos inibidores de receptação de serotonina e uso de anticoncepcionais, até inibição do ciclo menstrual: “É uma doença que pode e deve ser tratada”, explica.
Licença menstrual para mulheres faltarem ao trabalho
Durante o período menstrual, algumas mulheres sofrem bastante com os efeitos, e o obstetrício e ginecologista Gedis Grudzinskas acredita que “a licença menstrual” iria aumentar a motivação e produtividade das mulheres quando estão no trabalho nesse período.
“Algumas mulheres sentem ofensivamente a menstruação. Ir para o trabalho é uma luta e elas se sentem péssimas. Durante esse período, a maioria das mulheres sente desconforto psicológico e fisiológico”, disse em entrevista ao Daily Mail.
O médico acredita que, assim como a licença-maternidade, a menstrual deve ser de um a três dias a cada mês. No Brasil não há nenhuma lei prevendo licença menstrual para as mulheres. Em novembro de 2015, um projeto de lei apresentado pelo vereador de Guarulhos Toninho Magalhães Filho pedia uma licença três dias no trabalho para as mulheres durante o período menstrual. Só que esse projeto nem chegou a ser votado e, ainda que fosse aprovado, só valeria para a cidade de Guarulhos.
Na Indonésia, uma Lei do Trabalho de 1948 estipula que as mulheres têm direito a dois dias de licença menstrual por mês. No Japão, há uma norma trabalhista autorizando as mulheres que passam por “períodos menstruais especialmente difíceis” serem autorizadas a tirar uma licença, mas elas não ganham mais se optarem por trabalhar nesses dias. Em Taiwan, a Lei de Igualdade de Gênero em Emprego dá às mulheres três dias pagos por ano de licença menstruação.
Veja alguns alimentos que podem ajudar amenizar a TPM
– Cereais integrais (milho, cevada, aveia, centeio, trigo-sarraceno e arroz integral): são carboidratos complexos capazes de estabilizar a glicemia e eliminar a compulsão pré-menstrual por doces. Eles são excelentes fontes de proteínas, fibras, vitaminas B e E e sais minerais.
– Leguminosas (lentilhas, feijões de todos os tipos, grão-de-bico, feijão azuki, ervilhas verdes): possuem alto teor de carboidratos complexos e proteínas que ajudam a regular a glicemia, estabilizando oscilações de humor, ansiedade. A soja é um alimento excelente para mulheres com TPM por ser fonte de estrogênio vegetal, ajuda a normalizar os níveis de estrogênio, reduzindo os sintomas da TPM.
– Sementes e frutos oleaginosos (nozes, amendoim, amêndoas, pistache): são excelentes fontes de proteína. Devem ser consumidos crus e sem sal. Não consuma aqueles torrados e salgados, pois apenas piorarão os sintomas.
– Hortaliças verdes (folhas verdes como couve e mostarda, hortaliças com raiz como cenoura e nabos, crucíferas como brócolis e couve de bruxelas): possuem alto teor de vitamina A, magnésio, cálcio e outros nutrientes que aliviam os sintomas da TPM.
– Hortaliças vermelhas, alaranjadas e amarelas (cenoura, pimentão, batata doce, abóbora): possuem alto teor de carboidratos complexos e fibras que ajudam a reduzir a hipoglicemia ligada a TPM e as oscilações de humor. O alto teor de vitamina A ajuda a regular o sangramento menstrual intenso e a acne pré-menstrual.
]]>