Opinião

Exercícios, dietas e emagrecimento

Diário da Manhã

Publicado em 2 de junho de 2016 às 02:32 | Atualizado há 9 anos

Sabe-se que os distúrbios do peso vêm aumentando de forma descontrolada, tornando-se um problema de saúde pública.

Essa epidemiologia, facilmente visualizada em um número cada vez maior de casos de sobrepeso e obesidade, é considerada pela Organização Mundial de saúde (OMS) como uma doença crônica não infecciosa, capaz de acarretar prejuízos à saúde e à qualidade de vida de milhões de pessoas, independentemente da faixa etária ou classe social.

O Ministério da Saúde (MS) tem divulgado pesquisas e revelado que, aproximadamente, a metade da população brasileira está acima do peso. Segundo um estudo realizado no ano de 2006, 42,7% da população brasileira estava acima do peso. No ano de 2011 esse número passou para 48,5%.

Esses levantamentos foram realizados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com dados coletados nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal e apontam uma necessidade cada vez maios de definição e aplicação de medidas e de meios eficazes no combate e/ou prevenção dessa doença.

É nesse contexto de busca de enfrentamento das situações em que se sobrepõem os casos relacionados com o sobrepeso e a obesidade que se percebe, por sua vez, que os exercícios físicos se mostram com benefícios promissores, sejam eles focados tanto no tratamento quanto na prevenção desse mal, mas com a ressalva de que devem ser realizados da maneira correta.

A grande problemática é que, na busca desse processo de emagrecimento, intervenções inadequadas são comumente utilizadas, seja por meio de dietas altamente restritivas ou através de fármacos e, por fim, pelo excesso de exercícios, principalmente os de caráter aeróbio de baixa intensidade e longa duração.

Em uma pesquisa desenvolvida em 2007 com quase 10.000 pessoas revelou-se que, entre as pessoas que procuram perder peso, as atividades mais realizadas são a (i) caminhada (38,3%), (ii) ciclismo (12,5%) e (iii) corrida (11,6%).

Partindo-se desses dados tem-se reforçado o pressuposto de que exercícios ou modalidades esportivas que mobilizam uma grande demanda energética durante sua execução, somado à duração prolongada, proporcionam um maior gasto calórico, o que torna-os eficientes no equilíbrio da composição corporal. Em outras palavras, seria necessário somente gastar mais calorias do que se consome diariamente.

O que se tem cada vez mais claro é que, na prática, essa tese não se comprova, pois o corpo humano é composto por infinitos mecanismos de proteção para  sobrevivência, buscando a todo tempo se encontrar em homeostase (equilíbrio). Partindo-se desse pressuposto, pode inferir então que se o praticante se exercita de forma excessiva, objetivando um maior gasto energético, adaptações fisiológicas são iniciadas fazendo com que seu metabolismo entre em um estado de racionamento de energia, o que diminui o metabolismo basal.

O que se está querendo dizer é que o corpo se adapta para fazer o mesmo trabalho mecânico, gastando menos energia, tornando inócua a pratica excessiva de exercícios de baixa intensidade que visa o emagrecimento.

Tem-se claro também que isso pode piorar caso seja associado a dietas altamente restritivas (o famoso “fecha a boca que emagrece”) que, do mesmo modo traz consigo adaptações fisiológicas, como a conhecida termogênese adaptativa, que nada mais é do que uma diminuição do metabolismo, fazendo com que o mesmo tenha suas funcionalidades garantidas com o mínimo de energia, ou seja, as conhecidas adaptações de sobrevivência.

O que se vê com relativa clareza é que as pessoas aumentam sua composição corporal por diversos fatores como hereditariedade, patologias, sedentarismo, dentre outros, e comumente as primeiras iniciativas para se tratar dos males subsequentes redundam na restrição alimentar e na escolha de exercício de baixa intensidade e longa duração que, no inicio pode, até ter algum resultado, mas em médio/longo prazo se mostra ineficiente.

Vários estudiosos mostram que o emagrecimento relacionado com a prática de atividades físicas relaciona-se diretamente com a intensidade do exercício. Nesse sentido, os exercícios de alta intensidade e curta duração tem-se mostrando mais eficientes no tratamento da obesidade.

Plausível para alguns, questionado por outros, esse método vem quebrando paradigmas e mostrando resultados, adequando-se principalmente para aquelas pessoas que se queixam de falta de tempo para a prática de atividade física. A grande sacada dos exerccicios de alta intensidade é a tem a ver com a elevada demanda energetica pós exercicio, ou seja, a taxa metabolica é aumentada significativamente durante horas após a atividade física, aferindo-se então um maior gasto energetico total quando comparado com os exerccicios de baixa intensidade e maior duração.

Isso é muito bem vistos nos treinamentos de sprints, conhecido também como HIIT (Hight Intense Interval Training) e na musculação. Hoje muito propagado entre as redes sociais e academias, o treinamento intervalado de alta intensidade está no seu apogeu, sendo definido como um método de alta intensidade e curta duração, mostrando-se bastante eficiente no tratamento ou prevenção de algumas patologias, tais como o combate da obesidade.

O treinamento intervalado (HIIT) baseia-se, de um modo geral, no modo de exercício intermitente, ou seja, a realização de sucessivos períodos de exercício alternados com intervalos de recuperação, sem razão fixa entre a duração e intensidade da atividade e da recuperação.

O HIIT tem sido apontado como gerador de melhorias nas seguintes variáveis: (i) aptidão aeróbica e anaeróbia, (ii) pressão arterial, (iii) saúde cardiovascular, (iv) sensibilidade a insulina, (v) colesterol sanguíneo, (vi) gordura abdominal e (vii) peso corporal. É apontando ainda como excelente produtos de efeitos similares ao treinamento continuo, porém em menor tempo devido, principalmente, ao elevado consumo de oxigênio pós exercício que gera um maior consumo calórico depois do término da sessão de treino.

Diante do exposto, pode-se concluir então que treinos intensos, especialmente os intervalados, produzem alterações mais positivas para pessoas que desejam reduzir a quantidade de gordura corporal em longo prazo. Além disso, o uso deste tipo de treino é mais próximo da realidade cotidiana da maioria das pessoas, pois a recomendação de 200 a 300 minutos de atividade física por semana para perda e manutenção de peso é inviável para muitas pessoas, devido a falta de tempo.

Resta dizer ainda que para qualquer pessoa emagrecer sem incorrer em grandes riscos para sua saúde, é indispensável que procure primeiramente uma avaliação clínica, seguida do acompanhamento de profissional habilitado da área de nutrição para planificação de seu cardápio alimentar e, por fim, conte com a ajuda de um profissional da área de educação física com condições mínimas para a prescrição adequada de exercícios que, acima de tudo, atendam suas necessidades individuais.

 

(Weder Alves da Silva, licenciado e bacharel em Educação Física pela Fafich-Goiatuba/GO e pós-graduado em Biomecânica, Cinesiologia e Treinamento Físico pela Universidade Estácio de Sá)

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