Opinião

O trabalho é a construção da cidadania

Diário da Manhã

Publicado em 3 de maio de 2016 às 02:08 | Atualizado há 9 anos

“O trabalho é bom para o homem. Distrai-o da própria vida, desvia-o da visão assustadora de si mesmo; impede-o de olhar esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível. É um santo remédio para a ética e a estética. O trabalho tem mais isto de excelente: distrai a nossa vaidade, engana a nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom evento.”

(Anatole France, in ‘O Anel de Ametista’ 1844 – 1924 )

 

Poderíamos aqui fazer uma longa retrospectiva histórica que calhassem ao nosso propósito de escrever sobre o dia do trabalhador, iniciando no Século XIX, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos. Mas a relevância é contextualizarmos os acontecimentos contemporâneos dentro da história, que deu o direito ao trabalhador de exercer suas funções, nos parâmetros da Lei trabalhista e da sua cidadania.

O Direito do Trabalho se estrutura em uma teia de proteção e de relação empregatícia. É por esse motivo que, pelo Princípio da Proteção, a legislação trabalhista oferece um abrigo maior de direitos ao empregado. Isto significa que o trabalhador está respaldado, tendo seus direitos garantidos por lei.  Temos que compreender que os direitos conquistados pelas 8 horas de trabalho são resultados de uma história de luta, morte e injustiça de trabalhadores.  O primeiro de maio é designado como “dia do trabalho”, no entanto, o que deve ser considerado neste dia é, sobretudo, o trabalhador. Sabemos que pelo trabalho é que o trabalhador se dignifica e se diz capaz de operá-lo. Neste sentido, o trabalhador é nosso homenageado no dia em que marcam as conquistas seculares, as quais prosseguiram até os nossos dias. Após anos a fio de uma vida inerte, durante o regime militar, com a promulgação do Texto Maior de 1988, os direitos sociais foram enriquecidos para a proteção dos trabalhadores, sendo ressuscitados e alçados à condição de direito fundamental de todo cidadão brasileiro. As Leis têm o fulcro de resguardar, cada vez mais, a serenidade entre patrões e empregados em todas as instâncias do trabalho. Isto revela que vivemos em um país democrático, cujos direitos e deveres do cidadão são fundamentados na Constituição Federal, com respaldo nos Direitos Humanos.

O trabalho, por sua vez, procede dos esforços que constituem para o homem um meio de dominar as suas próprias fantasias. São os percalços com que deparamos e que é preciso superar, eles fornecem a oportunidade de vencermos a nós mesmos. Mesmo as atividades aparentemente mais livres, ciência, arte, o esporte, só têm valor na medida em que imitam a exatidão, o rigor e os limites próprios dos trabalhos. Muitas vezes notamos que muitas pessoas ainda não encontraram sentido no trabalho que realiza. Grande parte dessas pessoas ainda enxerga o trabalho de uma forma isolada e não o contexto global em que aquela “pequena” tarefa vai contribuir para o sistema como um todo. Assim é que o trabalho engrandece o homem, pois cada tarefa que ele executa, em qualquer profissão, ele se revela parte da construção de sua comunidade, de seu estado e de seu país. O trabalho ainda é visto, por alguns, apenas como forma de atender as satisfações primárias do ser humano como: moradia, alimentação, vestuário, dentre outras. É certo que o trabalho cumpre também essas funções, mas não são somente essas. Acima de tudo é uma forma de transformação e realização humana. Enquanto transformamos aquilo que fazemos nos transformamos também como pessoas e nos elevamos. Entretanto, para preservarmos a nossa integridade, tanto física como mental, é importante buscarmos sentido para o que fazemos.

Entendendo a importância do trabalho e os benefícios que ele traz para nossa vida, volto meu olhar para os problemas sociais e econômicos que afligem nosso Brasil. Em um país como o nosso, tão grandioso, parece até incoerência quando nos deparamos com dados de desempregos tão assustadores, informados pela Folha de São Paulo do dia 27 de abril recente: “Taxa de desemprego do Brasil cresce para 8,5% na média de 2015. Com a economia mergulhada na mais profunda recessão em 25 anos, o mercado de trabalho brasileiro passou por um acelerado processo de piora em 2015, com reflexos sobre o emprego, a renda e a formalização do trabalho. A piora, mais acelerada, registrada nesses quatro anos da série histórica da pesquisa de emprego do IBGE.”

Neste sentido, o Polo de móveis em Minas Gerais demite trabalhadores e fecha fábricas; o número de desempregados sobe 41,5% em um ano e vai a 9 milhões, segundo o IBGE; o Brasil pode perder até 2,2 milhões de vagas formais de emprego em 2016. Assim, podemos assistir o malefício causado à população pela falta de trabalho. As pessoas se revelam combalidas, não apenas pela crise econômica, mas pela ausência de ocupação, o que afeta o psicológico do homem que tem o trabalho como componente de sua vida. Não é por acaso os desmantelos administrativos do Brasil, tendo em vista que o trabalho operado pelas mãos de cada um de nós trabalhadores pode reconstruir um país que é de todos. Esta é a ideia que sustem a premissa de que a força do trabalho é que move o mundo, mas o país sem emprego é um desastre!

Meus parabéns aos trabalhadores e trabalhadoras da nossa cidade e do nosso estado. Nossas preces para que surjam novas oportunidades de trabalho e não lhes faltem nem pão à mesa, nem a alegria de ter um emprego e nem dignidade!

Sinto-me à vontade para compartilhar com meus leitores a minha alegria de estar, hoje, completando 30 anos de matrimônio. Em todo esse tempo, ao lado do meu esposo, pudemos construir uma vida de trabalho, na expectativa de edificarmos uma família nos parâmetros da simplicidade, da lealdade, da religiosidade e da luta para vencermos todos os obstáculos com serenidade e amor. Deixo meu testemunho de que uma vida permeada pelos ensinamentos de Jesus e Maria, construída, dia a dia, com trabalho e dedicação ao que nós nos prestamos a fazer, tende a ser uma história completa. Neste contexto construí, até hoje, uma família formada por 2 filhos e um neto, resultado de uma união feliz. Dessa forma, toda a pertinência, para dividir com meus leitores hoje, neste primeiro de maio, dia do trabalhador, a alegria de um casamento de 30 anos, cujos dias nos ensinaram que a vida a dois tem que ser trabalhada e construída como uma construção: colocando um tijolo sobre outro todos os dias e, assim, esse trabalho nunca se findará.

 

(Célia Valadão, cantora, bacharel em Direito e vereadora)

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