Opinião

Chamados para ser instrumentos de salvação

Diário da Manhã

Publicado em 14 de abril de 2016 às 02:23 | Atualizado há 9 anos

Há dois mil anos desde quando Jesus chamou os primeiros pescadores à beira do Mar da Galileia (cf.Mt 4, 18-21), o mistério do chamado à vocação sacerdotal contínua a ecoar no coração de muitos homens, de diferentes idades, classes sociais, nacionalidades e culturas. Que como Simão e André, levavam ou levam uma vida comum, com suas preocupações, sonhos e esperanças, até que a voz inesperada, inquietante e provocadora ecoa: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens” (Mt 4, 19). E tornar-se pescador de homens é tornar-se instrumento de salvação, o que constitui cada padre um dos mais preciosos dons de Deus para a humanidade.

Sou plenamente convicto de que o fato de Deus continuar chamando homens ao ministério sacerdotal, mesmo em meio às vicissitudes da história, mesmo nos momentos mais difíceis da vida da Igreja, como os dias atuais, é um sinal do seu amor incondicional por cada ser humano. E que quando chegar o momento no qual não mais houver homens vocacionados ao sacerdócio será o sinal concreto de que a história está chegando ao seu ocaso, à sua consumação. Pois um eclipse definitivo das vocações ao sacerdócio significa o cessar do tempo de graça e de conversão.

Não é por acaso que Jesus recomendou aos seus discípulos: “Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe” (Lc 10, 2). Neste ponto a Igreja precisa despertar como um todo, para uma oração e um trabalho mais empenhativo e sério em favor das vocações sacerdotais, pedindo ao Senhor da messe que suscite na sua Igreja, não apenas padres, mas bons padres, com um ardente desejo de santidade. Disponíveis para servir na medida da gratuidade do dom vocacional que recebeu: “Recebestes de graça, de graça dai!” (Lc 10, 8).

Na sua obra “Elementos de teologia fundamental”(Brescia, Itália, 2005), o cardealRatzinger traça o perfil do sacerdote do qual a Igreja e a humanidade precisam: “A humanidade não tem necessidade de sacerdotes que se contrariem mutuamente pelos seus direitos e pela sua emancipação, e que na verdade pastoreiam a si mesmos: essa tem necessidade de ‘servidores das catedrais’, os quais a vida desinteressada e pura torne Deus credível e que, através desta, tornem o homem novamente credível. Esta é a via estreita, à qual nos remete as questões postas seja pela reflexão seja pela palavra da Bíblia” (Ratzinger, p. 180).

Aqui, entenda-se por catedral não o edifício de pedras, mas o espaço interior que há no coração e na alma de cada homem e que somente pode ser preenchido pela presença de Deus: “O homem tem necessidade de perdão. Tem necessidade de um apelo à sua alma, e de tudo isto a catedral se faz símbolo” (Ratzinger, p. 179). Mas para que este apelo chegue aos corações em meio a este mundo deserto, se faz necessário que homens magnânimos, de caráter viril ouçam e respondam ao apelo do Senhor que chama: “Vem e segue-me.”

E para responder a este apelo não é necessário uma clareza meridiana ou uma certeza matemática, mas sim possuir alma grande e coração generoso, e despir-se da tentação de possuir a Cristo, e deixar-se ser possuído por Ele. Como o profeta Jeremias: “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo (Jr 20, 7). O discernimento se faz ao longo do caminho, no qual aos poucos vai descortinando o mistério do Cristo que chama a si os que Ele quer e a hora que quer (cf. Mc 3, 13).

Por fim, até quando continuarás lutando contra o Senhor? Até quando continuarás fugindo, apegado às suas redes envelhecidas? Enquanto tu não tens a coragem de responder as almas se perdem em meio a um mundo deserto necessitado de perdão e de arautos da graça e do amor de Deus. Quantas comunidades movidas pela esperança de um dia receberem um sacerdote. Porém, se responderes ao Senhor que te chama, que tua resposta não seja medíocre, mas na largueza do dom que deves portar ao mundo, sobretudo na Eucaristia. Pois o sacerdócio é um dom grande demais, depositado em mãos demasiado pequenas, como a de um homem.

De Roma para o DM/Goiânia, 13 de abril de 2016

 

(Pe. Hélio Cordeiro, especial para o Diário da Manhã. De Roma, via e-mail, [email protected])

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