Xô, Aedes aegypti
Diário da Manhã
Publicado em 1 de março de 2016 às 23:48 | Atualizado há 9 anosO Chikungunya, o Zika vírus e a dengue, por obra do acaso, se viram juntos e começaram a “bater um papinho”.
A conversa se passou dentro da bundinha de um Aedes aegypti.
– Cara, este mosquito é o fim da picada! E não é que ele “deu conta” de picar três pessoas infectadas por três vírus diferentes! – exclamou, admirado, o chikungunya.
– A pessoa a qual ele picar “tá lascada”, “tá” não? – ponderou o Zica.
O mosquito, que levava os três vírus a bordo, e que levantou voo de uma água empossada dentro de uma calha, no telhado de uma casa velha, “viajava” em busca de um “sanguinho” quente.
E as três criaturas malignas, dentro do mosquito, reclamavam o tempo todo:
– Esse ruído “assoviado” das turbinas deste mosquito me incomoda, cara! Fere os meus tímpanos! – falava a Dengue.
– Está muito quente aqui! – dizia o Zica – Estou suando!
– Eu não estou aguentando mais esta turbulência! Está me dando enjoo! – protestava o Chikungunya.
É que o mosquito estava voando já há um bom tempo, e já tinha percorrido a distância de mais de 200 metros. Porém, nesse momento, sentindo o cheiro de humanos exalado por um aglomerado de pessoas que faziam compras numa feira livre, aterrissou.
Enquanto isso, dentro do mosquito:
– Uai! Que aconteceu? Eu acho que ele pousou em alguma coisa ou em alguém! – falou o Zica.
Seguiram-se alguns segundos e um tsunami de sangue invadiu as dependências do abdômen do mosquito levando de roldão os três vírus. Estes foram lançados, abruptamente, para dentro de enormes tubulações, por onde também circulavam, em golfadas, fortes e volumosas correntezas de sangue.
Aquela alguma coisa ou alguém referida pelo Zica era o rostinho (sem repelente) de uma criança que, num carrinho conduzido por uma babá, passeava pela feira. E as tubulações enormes eram as veias ou artérias da pobrezinha da criança. Mais uma vítima! E talvez mais uma morte!
Esta é uma “estorinha” um tanto quanto infantil, só para ilustrar uma realidade bem adulta e séria de nossos dias.
Uma pergunta: o que a “camisinha” (preservativo) tem a ver com o Zika vírus? Tem a ver, devido ao fato de que, por agora, se o homem, nas relações sexuais, não usá-la, ele pode engravidar a mulher, e, engravidando-a, ela poderá ter um filho com microcefalia, caso, na gestação, tenha sido picada pelo mosquito Aedes aegypti infectado com o Zika vírus.
Até então, usava-se “camisinha” para se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis, e para fazer planejamento familiar. Agora tem mais um motivo para o homem usá-la.
Eu, como homem, não quero fazer filho por estes tempos, e se fosse mulher não me engravidaria. Quem planeja engravidar-se, é de bom senso, adiar o projeto para um pouco mais adiante.
Porque agora a coisa ficou séria. Já era séria quando o mosquito trazia (e traz) a dengue e a febre chicungunya. Porém são enfermidades que os sintomas mais fortes (febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor no corpo, dor nas articulações, etc.) duram de 10 a 15 dias e depois passam, na maioria dos casos, com as devidas providências. Mas, agora, com a microcefalia, trata-se de colocação no mundo de pessoas com certo grau até de retardo mental, com todas a suas implicações futuras.
O Zika vírus faz crianças nascerem com sérios problemas cerebrais. Problemas para si, para seus familiares, para a sociedade e para os cofres públicos.
O Zika vírus está em boa parte do Brasil e está tomando conta do Mundo. E ainda não tem vacina!
Outra pergunta: como faremos para matar esses vírus?
Os vírus são seres invisíveis que causam danos bem visíveis.
Os nossos piores inimigos são os invisíveis. A onça a gente mata com uma espingarda e um tiro certeiro. A cobra a gente mata com uma paulada. Na barata, a gente dá uma chinelada. A pulga e o carrapato a gente mata na unha. O ácaro a gente elimina com limpeza. A bactéria, com uma boa carga de antibiótico. Mas o vírus… Quando a gente vê, já foi atacado e já está doente e, se não se cuidar, “já era”.
Na atual conjuntura, evitar filhos é bom, mas não é a providência principal. Qual seria então a providência principal? É se defender do mosquito que já está adulto e voando, destruir as larvas que se tornarão mosquitos e, principalmente, não dar condições para o aparecimento dessas larvas, o que ocorre na água parada, desde numa pequena tampinha de garrafa de cerveja jogada num terreno baldio até numa grande piscina no quintal de uma casa ou clube.
Desta forma, então, só tem uma saída: Toda a população decretar guerra ao mosquito, e isto não é uma tarefa tão difícil assim!
O Zika é invisível, mas as larvas do mosquito transmissor, que serão os futuros mosquitos, é facilmente visível a olho nu.
A população não deve focar só vasinhos de planta e pequenos recipientes que podem acumular água, em seus quintais. É necessário olhar os ralinhos do banheiro e da área de serviço, os latões que alguns tem o hábito de ter em casa para estocar água preventivamente, para tê-la quando faltar na rede pública; o pequeno reservatório de água próximo ao motor da geladeira; trechos da calha onde podem ficar pequenas poças de água, e até mesmo o interior de certas plantas que acumulam água entre suas folhas.
Se a água parada estiver escura (suja), ou se o ambiente for escuro, o interior de um ralinho, por exemplo, é preciso o uso de uma lanterna para ver as larvas. Todos devem ter uma em casa para esse fim.
Adentre também às matas e aos terrenos baldios próximos a sua casa, a fim de colher, entranhado em meio ao capim alto, copinhos, latas vazias, garrafas, tudo que possa acumular água. Você não é proprietário do terreno ao lado, a mata também não é sua, mas fazendo assim você estará salvando a sua própria pele, porque você, que mora ao lado, será a vítima!
O mosquito evoluiu. Antes desenvolvia-se só em água limpa, e só picava durante o dia. Agora pode ser encontrado focos em água suja e escura, e ele também pica à noite. Devemos dormir com a parte do corpo que fica descoberta (rosto, mãos e braços) protegida com repelente.
Mulheres que usam vestidos ou saias durante o dia devem proteger as pernas com repelentes.
Não brinquem com o mosquito da dengue, porque ele não é brinquedo!
Eles estão por toda a parte. Ontem mesmo vi um picando a barriga da perna da minha sogra. Matei-o instantaneamente. Ela assustou com o tapa, mas no final me agradeceu. É fácil reconhecê-lo depois dele esmagado e morto na palma de nossas mãos: Tem as perninhas listradinhas. Mesmo a olho nu dá para ver.
O SUS, a Secretaria da Saúde, os agentes de saúde, fazem a parte deles. O exército e a aeronáutica também dão a sua contribuição. Mas isso está longe de ser suficiente para eliminar a proliferação do Aedes aegypti.
Não deixe só por conta da Secretaria da Saúde, através de seus agentes de saúde e de endemias. Sem a colaboração e ajuda do povo vamos perder a batalha contra o mosquito. É a população que tem de decretar guerra contra ele. Daí, sim, o venceremos, ou melhor, manteremos sob controle esse “pintadinho indesejável”.
Uma casa desabitada, com portas e portões trancados, contendo focos de Aedes egypti (e com certeza sempre há focos nessas condições) gera mosquitos suficientes para picar a população da quadra toda. E se houver alguém já contaminado na área, os mosquitos, com certeza, vão transmitir a doença desse alguém para outras pessoas da mesma quadra, mesmo que todas as casas estejam sendo bem cuidadas. Por isso leve ao conhecimento da Unidade de Saúde mais próxima, o imóvel que estiver nas condições acima, para que o agente de saúde e o pessoal da Endemias da SMS tome as devidas providências. Fazendo assim você estará ajudando eles a fazerem o seu trabalho e ajudando a si mesmo.
Ou a população assume essa postura de se engajar na luta contra o aedes egypti ou terá de conviver, num futuro breve, com o problema de multas pesadas e constantes, estratégia esta que o Governo acabará tendo que usar com rigor, na tentativa de vencer a luta contra o mosquito.
(José Maria Moreno – seu José, odontólogo aposentado. E-mail: [email protected])
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