Opinião

Dia Internacional da Mulher

Diário da Manhã

Publicado em 11 de março de 2016 às 02:22 | Atualizado há 9 anos

Muito mais que um tributo, uma reflexão, um merecido e singelo reconhecimento, por tudo que diariamente, as mulheres representam no mundo e em nossas vidas! Mesmo diante da decadente realidade humana, com sua força e beleza, conseguem fazer o feio, parecer bonito. Da monotonia uma festa! Com sua nobreza e sutileza, faz da dor da guerra, o bálsamo que alivia o torpor da indiferença e da intolerância. Sua magnânima alma materna, feminina, afaga e amamenta a prole, que diante da dádiva da fertilidade, nos resignamos no silêncio de nossa pequenez.
Desde os primórdios da humanidade, a figura feminina tem ocupado um papel destacadamente inconteste. Os machistas, ignorantes e preconceituosos, precisam refletir urgentemente seus conceitos e preconceitos, se inteirarem um pouco mais do processo histórico, cultural e social, em que a mulher está inserida e descobrirão a grandeza e a nobreza da alma feminina. Como diz Zé Ramalho, “se não fosse a mulher a mais mimosa flor, a história seria mentirosa”.
O Dia Internacional da Mulher foi ontem, hoje, amanhã, depois de amanhã, todos os dias. Devem ser entendidos, como dia nacional e internacional de luta em defesa de seus direitos e o respeito à mulher! Muito mais que flores e bombons; jantares e motéis; tapinhas nas costas e parabéns devemos refletir sobre as trágicas estatísticas, que vergonhosamente, colocam nosso país, como um dos que mais desrespeitam, agridem, violentam e assassinam mulheres do mundo! Será que realmente temos o que comemorar ou o que refletir? 8 de março é dia de o mundo refletir sem hipocrisia, sobre a ultrajante e constrangedora realidade vivida diariamente por muitas mulheres! Estas incansáveis guerreiras, precisam ser vistas e respeitadas, com total igualdade, consideração e uma lei que saia do papel, acompanhada pela eficiência e justiça, de uma sociedade consciente da importância e da necessidade de tamanho ser!
A história feminina se mistura a uma história de luta! Em um mundo conturbado e repleto de covardes, dominado pela intolerância de “homens” que se dizem “machões”, no entanto, adoram bater em mulher, confundindo virilidade, com masculinidade. São incapazes de compreenderem, o que é uma mulher. A arrogância e a prepotência masculina destes “machões” tornam-os primitivos, inseguros e possessivos. Particularmente, “não agradeço a Deus por ele ter me dado a mulher mais linda do mundo… mas por Ele ter me dado capacidade de perceber isso…” faço minhas, as palavras de Neoqjav.
O resultado desta cultura do desrespeito, do ranço do machismo, resultou entre outras coisas, na marginalização da mulher, como fruto de uma sociedade patriarcal, cristã e machista. Sob uma ótica absurdamente distorcida da mulher, diante de um discurso fantasioso, construído culturalmente, em bases inacreditáveis, que ao longo da história, fomentou e fomenta a violência contra as mulheres. Relegando-as a um segundo plano, tanto em casa – como filha, irmã, esposa – como pelo Estado, com políticas públicas que demoraram muito enxerga-las, como cidadãs, pessoas e peça fundamental desta engrenagem chamada sociedade. Segundo o Ipea, 58,5% dos entrevistados afirmaram que se as mulheres soubessem como se comportar haveria menos estupros.
Na antiguidade, muitas foram deusas em várias sociedades, culturas e religiões! Divinizadas, adoradas, responsáveis pela a vida, pela fertilidade e a perpetuação da humanidade. O que infelizmente, alguns “poetas românticos” contemporâneos, retratam as mulheres de forma tão “carinhosa e respeitosa”. “Cachorras”, “cadelas”, “pulguentas”, “potrancas”, “popozudas” e muito mais do gênero. Como por exemplo, a “belíssima Ode” de Mr. Catra Cuquete: “Quem gosta de putaria dá um grito! Chegou a hora da sacanagem! Eu chamei ela para meter ela falou que tava menstruada! É mole? Aí eu falei assim: num tem problema não! Porque, tá de chico é o caralho cala a boca vagabunda…” Será que é com este tipo de música, de mensagem, com esta apologia gritante ao desrespeito feminino, que a cultura nacional irá alicerçar seus valores e o futuro das mulheres e homens deste País?
Eles são ícones, famosos, ricos, aplaudidos e respeitados. Na mídia aparecem nas colunas sociais, pelo sucesso e sua “contribuição para a cultura brasileira”. Enquanto elas, vítimas, anônimas, pobres ou ricas, indigentes ou famosas são desrespeitadas. Agredidas, violentadas, assassinadas! Na mídia, só nas páginas policiais.
O tempo passou, o homem “evoluiu” e em alguns aspectos, atrofiou seu olhar em relação à mulher. Fomos presenteados com mulheres formosas e poderosas. Desejadas e respeitadas! De Ísis a Nefertiti. De Cleópatra a Agripina. De Messalina a Roxana.
Na Idade Média, diabolizadas sob uma ótica moralista, cristã e intolerante, que alguns insistiram em atribuir o pecado e o demônio, a figura feminina. Em “nome de Deus”, as mulheres equivocadamente, mais uma vez, pagaram caro por sua feminilidade! Por seu poder de sedução, de mulher, mãe, amante, amada, imperatriz, meretriz, guerreira, invencível!
Que neste festivo e reflexivo dia, que tenhamos plena consciência, que embora muitos avanços tenham sido alcançados com a Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340/2006 –, ainda assim, hoje, contabilizamos 4,4 assassinatos a cada 100 mil mulheres, número que coloca o Brasil no 7º lugar no ranking de países nesse tipo de crime.
Dia 3 de março de 2015, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que define feminicídio como circunstância qualificadora de homicídio. Dessa forma, o assassinato de mulher por condição de sexo passa a entrar na lista de crimes hediondos. Hoje estima-se que ocorram mais de 10 feminicídios por dia no País. O projeto foi sancionado pela presidente.
De acordo com o texto, considera-se razão de gênero quando o crime envolver violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição da mulher. A punição para homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. Enquanto isso, a pena para homicídio simples é de seis a 20 anos. O projeto ainda prevê aumento de pena para casos de feminicídio em um terço até a metade se o crime for praticado durante a gravidez ou nos três meses posteriores ao parto; contra menores de 14 anos, maiores de 60 ou vítimas com deficiência; e na presença de pais ou filhos.
Mais uma vez, parabéns por mais esta conquista, mulher brasileira. De Elza a Eliane! “Sou forte, mais não chego aos pés.”

(Marcos Manoel Ferreira, professor, pedagogo, historiador e escritor. [email protected])

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