Livro desmentido
Diário da Manhã
Publicado em 20 de janeiro de 2016 às 20:58 | Atualizado há 9 anosEscritor confessa calúnia, mas não se retrata. Obra sobre a vida do ex-governador Otávio Lage deverá ter citação retirada
O advogado Wagner de Barros requereu em juízo que a citação a seu nome e fato falsamente imputado a ele sejam retirados do livro “Otávio Lage – Empreendedor Político, Inovador”, de autoria dos escritores José Osório Naves e Jales Rodrigues Naves. A obra é uma biografia do ex-governador Otávio Lage (1966-1971) e nela há referências a Wagner de Barros que ele refutou por completo e requereu em juízo que sejam corrigidas.
Representado pelo advogado Alex Neder o autor propôs primeiramente uma “interpelação judicial” requerendo a devida correção do fato e em uma queixa-crime pediu que os autores se retratassem. O centro da discórdia que Wagner de Barros explicou na ação é um suposto ocorrido durante o governo de Leonido Caiado, que sucedeu a Otávio Lage no governo de Goiás.
“No livro os autores fazem referência a uma suposta ameaça que eu teria feito uma ameaça a José Osório Naves quando era presidente do Banco do Estado de Goiás. Ora tal fato jamais ocorreu e não posso aceitar que uma mentira seja transformada em infâmia contra mim”, comenta Wagner.
No livro, mais precisamente na página 208, quando os autores tecem comentários sobre o governo de Leonino Caiado, cujo título do capítulo é claramente nesse sentido: “Perseguição de Lenino”. José Osório narra e Jales Naves replica que o governador teriam empreendido uma sistemática perseguição contra ele, não deixando-o trabalhar em nenhum órgão de imprensa daquela época. José Osório era jornalista e narra ter tentado até mesmo fazer “free lancer” no jornal Cinco de Março, dirigido pelo jornalista Batista Custódio.
Segundo o autor da biografia, o governador Leonino teria cuidado pessoalmente da perseguição a ele, intervindo junto a dirigentes de órgãos da imprensa para que ele não conseguisse trabalhar em nenhum lugar de Goiás.
Até a diferença havida com o governador foi relevada por Wagner de Barros. “Entretanto, não posso aceitar um comentário falso, caluniador e difamatório como esse feito de forma fortuita contra a minha pessoa”, explica. A citação a ele no livro dá conta de que ele teria dito em uma ligação telefônica para José Osório que “seria melhor ele ir embora de Goiás” e que “se continuasse, como a coisa já não estava boa, ficaria bem pior”.
A sugestão feita pelos autores da biografia é de que Wagner de Barros teria agido como “capanga” de Leonino e que José Osório teria entendido o recado “pegado seu Maverick branco e se mudado para Brasília”. O fato teria acontecido logo no início de 1971, primeiro ano do governo de Leonino. “Acontece que isso jamais ocorreu e ele só foi para Brasília muito tempo depois para ser assessor do senador Benedito Ferreira”, desmente o advogado.
Wagner de Barros afirma que a administração de Leonino Caiado não pode ser classificada de ditatorial ou que tenha perseguido adversários e desafetos. A citação na biografia do outro governador objetivou “uma retaliação” e a inserção desse depoimento foi “totalmente descabida” contra a pessoa do ex-governador Leonino Caiado. “Reconheça-se, por ser justo e fiel à história de Goiás, que o mesmo também realizou uma administração conciliatória, desenvolvimentista e inovadora”, além disso o nome de Wagner de Barros foi ventilado na obra “de forma falaciosa, irresponsável e criminosa”.
Para desmontar o ardil da argumentação Wagner de Barros recorre aos fatos daquele período. Segundo José Osório o fato teria ocorrido no início de 1971, logo no início do governo de Leonino Caiado, quando o governador fez um completo remanejamento em sua equipe e dispensou do serviço auxiliares e ocupantes de cargos comissionados da gestão anterior. Um desses dispensados foi justamente José Osório, que não comungava do mesmo ideário político de Leonino. Entretanto, explica ele, o jornalista dizer que foi perseguido e ameaçado por Wagner Barros foi “uma invencionice perversa” além ser uma imputação “gritantemente falsa e pérfida”.
A manobra da inclusão desse fato teria por objetivo apenas praticar um “puxa-saquismo” para com o ex-governador Otávio Lage. O fato fica desmontado quando Wagner lembra que o suposto fato ocorrido no início de 1971 simplesmente não poderia ter acontecido. Wagner Barros só assumiu a presidência do BEG em fevereiro de 1973 e que “antes ocupava o cargo de Secretário de Representação do Governo de Goiás na cidade do Rio de Janeiro, o que equivale dizer que no período em que o querelado relata as suas fantasiosas ‘perseguições’ e a ‘ameaça’, sofridas no início de 1971, com o novo governo, o querelante fazia parte da administração estadual, porém no Rio de Janeiro”.
Confissão
Em uma audiência ocorrida em novembro de 2015 na 12ª Vara Criminal a juíza Maria Umbelina Zorzetti buscou uma conciliação entre as partes. Os autores da biografia se comprometeram a publicar nos dois principais jornais de grande circulação em Goiânia – O Popular e Diário da Manhã – uma retratação, cujo texto seria produzido em um prazo de 30 dias. Todavia, além de não apresentar o texto os autores da obra saíram pela tangente ao não assumir a tarefa de divulgar sua retratação.
Diante da negativa em cumprir o acordado Wagner Barros prosseguiu na queixa-crime e quer o cumprimento integral da retratação. Caso a condenação em esfera criminal seja confirmada pela Justiça abrirá outro flanco para ação de indenização por danos morais.
]]>