Opinião

Orientalismo explica o Terrorismo

Diário da Manhã

Publicado em 13 de janeiro de 2016 às 23:32 | Atualizado há 9 anos

A cacofonia do título esclarece a verdade implícita que o Ocidente insiste em não aceitar. No cerne de qualquer revolta contra a opressão renascerá, sempre, o resgate ao direito a dignidade e a identidade da pessoa humana em sua perene luta pelo respeito e a alteridade, cuja essência da autodeterminação compõe o gênese da Humanidade. Nestes tempos turvados pelos tons obtusos da bandeira do Estado Islâmico, uma parte do mundo vinculado ao conceito de cosmopolitístico acompanha o espetáculo dos irritados terroristas seguida do prognóstico de que novas ofensivas viram mesmo que a Defesa Civil limpe o BaTaClan de Paris e agora a praça Sultanahmet de Istambul a paz mundial segue ameaçada. É evidente que em 2016 outras importantes metrópoles serão atacadas tornando-se cidades sitiadas com arrefecimento de movimentação de pessoas e, por conseguinte do consumo, subtraindo os lucros das empresas, esta sem dúvida a grande preocupação, afinal cada vida tem seu preço. Perdoe-me à sinceridade. Se as vitimas fossem iguais, os atentados de outro meridiano a exemplo de países africanos que sofrem sistematicamente com esta esquizofrenia moderna teria o mesmo tratamento que o Conselho de Segurança da ONU dispensa as capitais europeias.

Nosso jovem século está maculado pelo terrorismo étnico-religioso cujos símbolos urbanos são alvos excelentes de organizações que emergem de outros polos culturais na vocação de semear pavor, medo, enfim o horror causando histerias coletivas. O confronto cultural de raiz milenar patrocinado pelos valores da cristandade em recente aliança com princípios liberais no afã de dominar toda a planície da Terra é chamado Orientalismo. Quando uma bomba arrebenta a multidão de transeuntes os governos restringem as liberdades civis e neste cenário metrópoles ocidentais sem saber lidar com o “modus operandis” dos terroristas são alvos preferenciais gerando destruição em massa e grande impacto aos conceitos de segurança pessoal de cada indivíduo, como ocorreu na Estação do Metrô de Atocha em Madri, (2011), em King’s Cross (2005) e Russell Square (2010) na capital londrina. Somando evidencias é fácil perceber na conjuntura difusa da política internacional que Roma é potencial alvo dos próximos capítulos de uma guerra cultural que convém aos embustes financeiros do liberalismo econômico. A cidade que vivencia o trauma de um atentado terrorista sofre por longos anos o temor da repetição como se algo pior, ainda, estivesse por vir. Nestas condições torna-se importante o trabalho de todos e o otimismo dos líderes para elevar às alturas à autoestima dos seus munícipes demandando recursos institucionais e principalmente a certeza que dias melhores virão. Como na música de Chico Buarque “…apesar de vocês amanhã há de ser um novo dia…”. Os bombardeios nazistas sob Londres são lembrados pelas classes trabalhadoras (lá não se diz povo no sentido brasileiro do termo) através da Família Real tendo a frente o carisma da jovem rainha Elisabeth e de Churchil que jamais abandonaram a cidade servindo de força moral à sua reconstrução. Na Nova York de 2001, após a cinematográfica implosão do WTC, coube o binômio acima ao Prefeito Rudolph Giuliani.

Numa análise de causa e efeito o governo de Bush pai começou na década de 1990 o movimento que fulminou os governos autoritários, talvez um mal necessário, do Oriente Médio, na nova escalada do Orientalismo financiada agora pelo stabilisment americano pretendendo, desde sempre, modernizar milenares paradigmas das múltiplas sociedades islâmicas, inclusive as não árabes, o que deveria causar indignação ao homem mediano em face de atrocidades das potências ocidentais em não respeitar as particularidades religiosas de raízes culturais do hemisfério leste. Mas o sedutor cinema americano faz com eficiência a faxina ideológica. Depois acompanhamos, embora sem (re)conhecer o fundamentalismo religioso do Metodista Bush filho desestruturar em nome da petrolífera Halliburton de seu vice-presidente, Dick Cheney, um descendente de judeus, o Iraque, berço do futuro e temido I.E. Naquela época a opção eficaz a priori fora à invasão, mas divergente fora a insana explicação aventada de arsenal químico de destruição em massa escondido em Bagdá. Falseou o nexo causal da materialidade e autoria, entretanto o invasor (George “War” Bush) não foi sequer indiciado, tampouco levado ao Tribunal Penal Internacional (este só serve contra ditadores das republiquetas africanas) após cometer crimes de guerra mesmo com o corpo de delito que era o Act War.

Em consequência novos ataques a outras capitais a exemplo de Berlim e centros de comunicação serão matéria-prima na mídia muito em breve. Afinal muitos segmentos econômicos ganham bilhões de dólares financiando o círculo espiralado do terror e como de fato é mesmo a máquina de guerra (armamentos, bombas, munições e alhures) não deambulam sem direção nas fronteiras do Ocidente e Oriente. O desafio aos órgãos de segurança (inter)nacional é a prevenção desarticulando esses ataques, o que parece ser dificílimo até aos agentes treinados exclusivamente para esses fins, visto que estratégias de ataques e ameaças são diversificadas mediante o perfil dos executores e espaços selecionados tornando a expectativa de ataques o epicentro do Terror. Dessa forma é melhor se precaver, visto que será “normal” a polícia atirar antes e perguntar depois, pois mais vale um morto de que a morte de milhares. Dos males o menor. É política de dissuasão aplicada contra civis.

Circunstâncias inevitáveis de intimidações e bravatas a exemplo das ameaças do I.E, Al Qaeda, Boko Haram e congêneres fazem o Ocidente funcionar em alerta máximo agindo contra o ultimato real ou ficto. O lema é preventivamente vigiar e taticamente matar. É a guerra naquilo que ela tem de mais desumano, ou seja, os civis desprevenidos e sem defesa é quem primeiro morre em ataques contra populações sírias, afegãs, curdas, iemenitas e iraquianas, pacientes em hospitais da organização Médicos sem Fronteiras e em tantas diferentes situações que não chegam ao nosso conhecimento vigiado. Como disse certa ocasião o filósofo do existencialismo e da paz “…na guerra entre os ricos quem morre são os pobres…” com milhares de soldados enviados as batalhas.  Interessante nessa guerra cultural é o fato de que o Ocidente “desenvolvido” depende de fontes energéticas encontrado em regiões áridas do Oriente Médio a manter o bem-estar de nossas cidades em constante funcionamento e expansão. Aos terroristas atacar sem destruir totalmente estas urbes lhes garante a extração predatória dos hidrocarbonetos de seus domínios clericais que financia em seus territórios geográficos a tutela absoluta através de inovadoras e violentas teocracias a exemplo do macabro Estado Islâmico na região do Levante.

 

(Nilton César Guimarães Rezende, servidor da Secretaria Estadual da Educação de Goiás. e-mail: [email protected])

]]>


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias