Só está sobrando o governo para os médicos trabalharem
Diário da Manhã
Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 22:10 | Atualizado há 9 anosA situação mais comum na saúde pública brasileira é aquela onde o médico é “culpado”, pela mídia, promotores, juízes, população, Governo, etc pelo que acontece numa unidade de saúde. A “desculpa” mais genérica que os médicos costumam dar é : “Não temos condições de trabalho”, “ganhamos pouco”, “sobrecarregados”, “gente demais, poucos recursos”. E a réplica a este chororô também que já virou clichê é esta: “Se estava tão ruim, por que você não se demitiu?”; “se estava tão ruim, por que você não denunciou?”. Nesse ponto da conversa o médico se dá por vencido e o interlocutor se jacta como vencedor. Eu gostaria de pegar esta conversa a partir deste ponto, fazendo o contraponto do advogado do diabo. Para isto vou utilizar-me de um conceito que vi pela primeira vez no livro de T. Piketty, O Capital no século XXI, pag. 304: “Monopsônio.” É um nome muito feio, mas que quer dizer o seguinte: aquela situação onde o empregador monopoliza as oportunidades de emprego, ou seja, ele manipula o mercado de modo a não sobrar nenhum outro lugar para o trabalhador se empregar. A verdade que até hoje não foi divulgada no Brasil, nem pelas entidades de defesa dos médicos (que são quase todas atreladas ao governismo), é de que, hoje, o Governo monopoliza quase que inteiramente as oportunidades de emprego na área médica. Não é de agora, não é do PT, que o ministério governamental, tomado há muito por esquerdistas, tomado por anti-médicos, tomado por elementos anti-hospitais, anti-iniciativa-privada (ou seja, pró-mais-Estado), tem um “plano secreto” para o Brasil: acabar com tudo que é vida médica fora do SUS. E é um projeto que tem sido extremamente vitorioso. Por exemplo, nos últimos 10 anos foram fechados 80 hospitais em Goiás. Em processo falimentar ou pré-falimentar estão mais ou menos uns outros 30. É um verdadeiro “comunismo branco” que se instaura na área do emprego médico: praticamente só sobra o Estado, Governo. Muitos ainda mantêm alguma atividade fora do Governo apenas para terem o “gostinho” de fazerem uma medicina decente, uma medicina calma, raciocinada, uma medicina onde ele manda, onde ele é o protagonista, onde ele tem o prazer de fazê-la funcionar. O “monopsônio” que o Governo exerce sobre a medicina faz com que, hoje, praticamente todo médico brasileiro se torne refém de algum emprego público. Então, por causa da “ética”, vai abandonar o emprego público e vai para onde? Morrer de fome? Ou então, vai denunciar o Governo para quem? Para o mesmo Governo? Ora, o governamentalismo brasileiro atingiu um grau tão profundo da vida nacional que controla absolutamente tudo… Não estamos aí vendo o Governo “controlando” inclusive o Supremo Tribunal e não apenas o Executivo, Legislativo, Judiciário, Promotoria (vide aí a Procuradoria da República na mão do “amigo-do-Governo” Janot), mas também os próprios sindicatos, mídia, entidades de classe. Então, repetindo, denunciar prá quem, se todo mundo “poderoso” neste país reza pela mesma cartilha? Pra Deus, não dá, pois até esse já tirou o corpo fora da carga ética de querer ser brasileiro. Só resta, então, recorrer ao diabo, para o qual já estou começando a advogar.
(Marcelo Caixeta, médico)
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