Igreja – um bom negócio
Diário da Manhã
Publicado em 4 de novembro de 2015 às 00:47 | Atualizado há 9 anosEm certa ocasião numa sessão de cura em uma comunidade religiosa onde o pastor curava de tudo, presenciei em meio a ansiedade e gritos, muitas pessoas enfermas. Ali se aproximava do altar e saiam comemorando a cura de câncer, cefaleia, braço quebrado, empresa quebrada, déficit de atenção, déficit financeira, depressão, vício em drogas, distúrbios emocionais, esclerose múltipla, divórcio e muitas outras…
Quando vi ao lado, um pai se deslocando com uma criança de aproximadamente sete anos, com muita dificuldade chegou até o pastor. Disse: “Pastor meu filho sofre muito por não poder andar…” Sem mesmo concluir, já foi interrompido pelo pastor que gritava: “Vai solta o seu filho no chão que ele vai andar agora!” E repetia por várias vezes. O pai em lágrimas ficou estático. Até que um obreiro chegou ao ouvido do pastor e disse: “Pastor o menino não tem as pernas.”
Quando se pensa em business os princípios são os mesmos para qualquer que seja o negocio e os primeiros passos são:
1- A necessidade do mercado de receber o produto ou serviços oferecidos;
2- Os valores a serem empreendido nesse investimento;
3- Lucros que devem ser alcançados;
4- Potencial para executar o trabalho rumo ao sucesso.
Assim é a lógica que permeia o embrião empreendedor no qual o Brasil é campeão.
Devido às necessidades e a alta demanda de um país continental de maioria menos esclarecida em busca de um lugar ao sol.
Se a necessidade faz o sapo pular, nos brejos brasileiros o sapo já era pra estar voando em busca de um castelo ao encontro de uma princesa que o torne um príncipe e logo tenha um reino todo a seu favor. Que o defenda de seus inimigos, que perde os sentidos e não seja capaz de sentir seu cheiro fétido, não enxerga sua perversidade pouco camuflada, não veem seus esguichos de veneno e não sente sua pele asquerosa.
Simplesmente é o sapo que se tornou um príncipe. E não importa o que dizem, o que falam ou o que pensam – é o meu príncipe! Assim, o servem como mulas domesticadas, encabrestadas pelo soberano, como cegos guiados pelo cão fortemente adestrado. E vão levando muitos outros fregueses como os bem sucedidos marketings de rede ou mesmo a pirâmide que se quer tem um produto, simplesmente a venda de ilusão.
Afinal o que faz com que esse seguimento tanto cresce? É simples de entender quando focamos em negócios, rentabilidade, baixo investimento, concorrência e etc.
Pensando em uma empresa: A necessidade do mercado é grande, afinal a igreja se tornou uma comunidade terapêutica, está concorrendo com o psicólogo, com o hospital, com os bancos de créditos, com casas de recuperação e outros.
Os valores a serem investidos são baixos, caso queira comprar uma já organizada vai gastar um pouco mais, mas, vem de porteira fechada, com despesas e lucros comprovados. No contrário pode começar numa sala de casa mesmo, preferência num bairro mais periférico onde o índice de analfabetismo é maior.
Os lucros são certos, afinal estamos falando de venda de favores e favores não tem preço. São valores, ofertas de gratidão, que podem ser em espécie, em jóias, relógios, escrituras de imóveis… e se tudo isso falhar ainda tem os dez por cento que são exigidos como ordem a todos que querem alcançar o produto final da empresa.
A qualificação é básica, pode ser semianalfabeto, se denomina office boy do altíssimo chega em seus cliente como embaixador, portador dos produtos celestiais, comunicar com um pouquinho de eloquência e persuasão convincente já se garante o soberano na terra para construir seu império.
O que garante o sucesso nesse caso não é o empenho dos empreendedores, mas sim o anseio de seus clientes em potência – uma sociedade carente do surreal. Em busca do fácil, do imediato, do conveniente, do entretenimento, do estimulo, de um líder herói que cuida e toma as decisões.
É o princípio da terceirização que garante o bem sucedido empreendimento igreja business. As pessoas tendem a terceirizar o EU. O que se torna tudo mais simples, menos responsabilidade é transferir as decisões, ter alguém pra decidir por si, alguém pra manipular sua vida, alguém pra ditar cada passo, cada sentimento, cada emoção, alguém pra determinar tudo. Livrando o Eu da frustração, afinal, está tudo terceirizado.
Assim, tudo se encaixa, os vendedores precisam falar tudo que seus clientes querem ouvir, mesmo que não tenha o produto especifico, entrega outro similar e elogia, chora, faz drama, sorri, dá saltinhos, dança, aplaude, hipnotiza e convence que esse é o melhor.
Nesse rítmo todos convivem em harmonia sob o mesmo jugo. E faz bem pra sociedade e para o estado, geram empregos, assistencialismo, convivência social, estimula a cultura e novos empreendimentos. Auxilia as famílias na criação dos filhos, combate os vícios, faz e salva casamentos… Pena! Só não consegue atingir o objetivo fundamental da igreja: A proclamação das escrituras a qual gera a fé e a manutenção da mesma.
O grande fracasso da igreja business é a impossibilidade de institucionalizar a fé. Se fé é espiritual e pessoal não é possível torná-la em grandes organizações institucionalizadas. E os fundamentados pela fé genuína não submetem aos jugos ou qualquer forma de domínio que não seja amparado pelas escrituras.
O que leva a crer que as instituições da fé estão repletas de alienados, inconscientes, interesseiros, enganados, aproveitadores, manipulados, manipuladores, mal informados, acomodados, preguiçosos e perversos. Os da fé acabam por ficarem fora em meio às parafernálias, firulas, invenções mirabolantes do coração humano que uma vez praticado se torna dogma. Sufocando os da fé com a pueril manobra na busca por poderes.
(Marcelo Lopes, comendador, escritor e empresário)
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