Na contramão do verde ou a favor da intempérie
Redação
Publicado em 21 de outubro de 2015 às 20:39 | Atualizado há 9 anosEm dias recentes escrevi neste mesmo jornal defendendo a preservação dos espaços destinados à permeabilidade das águas pluviais e a consequente recuperação do lençol freático. Critiquei a cobertura por cimento do ‘canteiro’ das Avenidas Dona Gercina e Assis Chateaubriand.
Como consequência da posição crítica que externei, recebi muitos telefonemas e até visitas pessoais ratificando meus comentários e informando-me acerca de outros danos ao meio ambiente patrocinados pela gestão municipal goianiense.
Falaram-me do desbaratamento da Goiás Norte. Incrédulo fui conferir e, para meu desencanto a agressão ambiental é verdadeira.
Ao que percebo, a administração goianiense desafia a natureza, por certo, avaliando que nossa temperatura está muito amena e que deve contribuir para aumenta-la. Embora o comentário seja irônico, parece ser real.
Na tarde da última terceira feira, ao circular a Praça Cívica assustou-me o volume de cimento que cobre quase todos os poucos espaços verdes que ali restavam.
Não desconheço a estrepitosa propaganda oficial dando conta da criação de parques municipais em outras localidades da Capital. É no mínimo nonsense destruir o verde existente para, onerosamente, instalá-lo em outro local.
Não sou ecologista fanático e tampouco crítico habitual dos gestores públicos. Ocorre, entretanto, que a acintosa derrubada de árvores e a aplicação indiscriminada de cimento nos espaços verdes, agride o bom senso, agiganta o desequilíbrio ecológico e destrói o conforto visual da paisagem.
No artigo anterior admiti que a Prefeitura disporia de estudos recomendando as modificações que vem implementando nas avenidas a que me referi. Agora estou convencido do contrário, pois a prática teratológica em ação, não pode decorrer de qualquer análise cientifica séria.
Em tempo recente o Município de Goiânia instituiu o Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) que diagnostica a arborização da cidade e recomenda as medidas corretivas pertinentes. Até que seja transformado em instrução normativa pela Agência Municipal de Meio Ambiente, continuaremos convivendo com essa balbúrdia destrutiva de nossa cobertura verde, embora não se deseje tal prática é, o que os exemplos atuais nos autorizam concluir.
O agravamento climático é a consequência mais imediata e inevitável. Daí decorrerão o aumento da temperatura, o alagamento das áreas agora mais impermeáveis, os danos materiais às redes de energia e telefonia, o assoreamento das redes de águas pluviais, a invasão dos imóveis térreos e todos os outros danos que assistimos em todos os períodos chuvosos e que agora serão agravados com a má gestão de nossas áreas verdes.
Goiânia, segundo dados técnicos está entre as cidades mais arborizadas do Brasil, entretanto, contraditoriamente, terá alagamentos fantásticos com consequências imprevisíveis nas regiões em que o poder público municipal adota práticas que o bom senso não recomenda, ao contrário, rejeita.
Felicíssimo Sena é advogado)
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