Observatório de Segurança aponta diminuição significativa de casos de violência, Cevam alega que estes são cada vez mais rotineiros
Redação
Publicado em 20 de outubro de 2015 às 19:05 | Atualizado há 2 semanasAriana Lobo
De acordo com dados do Centro de Valorização da Mulher (Cevam), o estupro é o segundo maior crime cometido no Estado, com 438 registros em 2013 e 1.051 em 2014. Ano passado, segundo Cevam, Goiás registrou um aumento de 91,8% no número de crimes praticados contra a mulher. Considerando estatística mensal acompanhada pelo Cevam junto a Gerência de Análise de Informações da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, em 2013, foram registrados 9.028 casos (138 crimes por grupo de 100 mil habitantes) contra os 17.319 casos (266 casos por grupo de 100 mil habitantes) verificados em 2014.
Entretanto, segundo dados recentes do Observatório de Segurança da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária, os casos de estupro em 2015 diminuíram, em Goiás 22,65% e 30,85% em Goiânia. No período de janeiro a setembro foram registrados 345 casos de estupro no estado de Goiás, 101 casos a menos que 2014, que registrou 446.
Dados do Observatório apontam também para a diminuição dos casos dos demais tipos de violência contra a mulher, comprovados pelas Delegacias Especializadas na Atenção à Mulher (Deam). A 1º Deam registrou queda de ocorrências de 7,1% de janeiro até agosto desse ano e a 2º registrou queda maior, de 8%.
Segundo o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás, Joaquim Mesquita, algumas ações foram responsáveis pela queda das ocorrências, como a criação da Patrulha Maria da Penha, no âmbito da Polícia Militar, bem como o monitoramento por meio de tornozeleiras eletrônicas.
Realidade controversa
Essa não é, contudo, a realidade apresentada pelo Cevam. Segundo Cecília Machado, presidente do Cevam desde 2011, a instituição não notou queda das ocorrências. “Os casos de abusos sexuais, principalmente entre crianças e adolescentes é cada vez maior e rotineiro. A sensação que se tem, no Cevam, é que os casos se avolumam. Vale lembrar, ainda, que a cultura agrária coisifica, ainda mais, o crime, culpabilizando a vítima, principalmente se ela for mulher e jovem”, explica Cecília.
Segundo Cecília, os casos de estupro são protegidos por mantos metodológicos. “Estamos convencidas de que o estupro, principalmente de vulneráveis, está cada vez mais alastrado, porém, protegido por um código de honra moral agrário. Basta relembrar o casos das meninas calungas de Cavalcante”, relembra ela.
Ela afirma que a demanda de atendimento de ocorrêcias de mulheres vítimas de estupro têm aumentado e qualificado o requinte de crueldade. “O problema não são as marcas físicas e emocionais, são, também, as sociais resultantes dos abusos, como filhos e, por vezes, doenças difíceis de curar, ou mesmo, incuráveis. Além de ficarem marcadas na comunidade e nas famílias, as meninas, principalmente, são rotuladas como responsáveis pelos fatos. E uma total inversão da realidade, em que homens e mulheres cuidadoras deveriam ser responsáveis e estão mais preocupadas em saciar suas libertinagens e, por vezes, ganâncias monetárias”, explica Cecília.
Trabalho do Cevam
Cecília Machado conta que geralmente meninas são levadas para o Cevam depois de se descobrir uma situação, que geralmente há tempos se desenrola. “São realizados exames e acompanhamentos médico e psicológicos. Essencialmente são casos de abusos prolongados. O acompanhamento psicológico também acontece por vivências coletivas e ludo-terápica, desenvolvidas por voluntárias do Cevam”.
Ela explica que no que diz respeito às mulheres adultas, os crimes são praticados por companheiros, amigos e às vezes por desconhecidos. “O estupro cometido por desconhecido é um percentual reduzido. Cerca de 15%. A grande maioria dos casos, são perpetrados por conhecidos. Elas acompanhadas por médicos do sistema de saúde público e psicólogas (voluntárias do Cevam, como a doutora Mara Suassuma)”, conta.
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